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Ricardo Almeida e a moda masculina

O estilista responsável pelos ternos do presidente Lula diz que a ousadia na forma de se vestir ainda não é atributo dos homens, nem mesmo no enterior

postado em 27/05/2010 10:05
O estilista Ricardo Almeida é um dos nomes mais importantes da moda masculina. Ele é o homem que desenha os ternos do presidente Lula e de diversas outras autoridades e celebridades nacionais. No começo do ano abriu a sua primeira loja em Brasília, essa é a primeira de uma enorme expansão que ele está planejando. Ele pretende aumentar as atuais oito lojas para 30 até 2014, oferecendo produtos mais acessíveis. A Revista conversou com ele sobre o crescimento da moda masculina e os seus rumos A moda brasileira feminina já está se consolidando internacionalmente. Quais rumos a moda masculina está tomando? A moda, de uma forma geral no Brasil, cresceu bastante nessa última década. Ela já tem espaço para aparecer em várias vitrines pelo mundo, principalmente as marcas femininas. Mas é uma questão de tempo para aparecer mais nomes do masculino. A gente ainda não está pensando em exportação porque o mercado nacional ainda tem muito para crescer. Não adianta eu tirar o meu foco daqui e ir para outro lugar. Por que não abrir lojas no exterior? Eu cheguei a conclusão que para abrir lojas fora eu tenho que estar estruturado aqui dentro. Para explorar o mercado externo, eu teria que dar muito do meu tempo lá fora. Como o Carlos Miele, que morou muitos anos no exterior, para se dedicar às lojas internacionais. Se eu ficar muito tempo fora, a loja fica manca. Eu preciso conhecer a imprensa e fazer contatos para que pessoas influentes usem as minhas roupas. Para coordenar isso, eu tenho que estar junto à loja. Pode-se culpar os homens brasileiros pelo atraso da moda masculina? Não é o homem brasileiro que é pouco ousado. O homem do mundo inteiro não é tão ousado. Quando você encontra coleções mais ousadas, não significa que os homens estejam usando aquelas roupas. A casa que fez aquela roupa vai vender para o mundo inteiro aquela ideia. Não é o homem italiano, não é o homem francês. Na verdade, qualquer homem ousado de qualquer lugar do mundo vai comprar aquela aquela peça diferenciada. Mas quando você anda pelas ruas de cidades europeias, você vê homens com roupas diferentes dos brasileiros. Quando você sai em Paris, Milão ou Londres, você não encontra homens tão mais ousados. Você apenas encontra combinações diferentes do que se encontra no Brasil. Eu me pergunto: quantos homens você encontra com terno e camisas estampadas? São poucos. No mundo inteiro, os homens são mais comedidos com relação à moda. Tudo depende dos locais que você frequenta e não em que país você está. É fato, entretanto, que os europeus gastam mais dinheiro com roupa. Mas é claro que no exterior você encontra um número de marcas de roupa muito maior do que no Brasil. Você tem um campo maior para explorar. Além do mais, essas marcas internacionais vendem para o mundo inteiro e têm uma escala de produção bem maior. Consequentemente, elas podem ousar um pouco mais. O que falta para o Brasil ter essa variedade de marcas masculinas? Isso já está acontecendo. Têm várias marcas novas despontando. Há 15 anos,os homens ainda tinham vergonha de sair para fazer compras. Hoje em dia não tem mais isso. Ele pode pintar o cabelo e entrar na academia sem ser mal falado no meio de trabalho. Esses preconceitos estão caindo e isso está ajudando bastante. Como o mercado está ajudando? Hoje o homem está querendo se informar para mostrar a sua identidade pela roupa. A imprensa está ajudando muito também, mostrando os desfiles. Os eventos de moda ajudaram bastante e isso ajuda as cidades a fortalecerem seus estilistas. Quando se fala, escuta e vê muita coisa de moda, a indústria acaba se fortalecendo. Estamos nesseprocesso agora. É preciso desenvolver a moda como um todo que a masculina cresce junto. Uma marca masculina já consegue se estabelecer financeiramente como uma marca feminina? A feminina é mais fácil, porque tem um retorno mais rápido. Mas você tem que ter um processo de criação bem mais acelerado. A mulher quer consumir uma moda que na próxima estação ela jogue fora. Ela quer um preço mais acessível e a moda que ela use agora. O homem quer uma roupa que ele vai usar nos próximo três, quatro, cinco anos. São identidades diferentes. A velocidade da roupa feminina é muito maior. Então a moda masculina não segue tendências? Claro que segue. Mas as tendências para homens são mais comedidas e clássicas. Elas mudam aos pouquinhos. O homem não quer uma roupa para a estação. Por isso, as roupas tem que ser de melhor qualidade para que ela não seja descartável. Até as estampas para homens são complicadas por causa disso, pois elas têm uma durabilidade visual menor.

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