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Eu quero, eu posso?

Gênero frequentador da lista de mais vendidos, a autoajuda mira o público teen

postado em 02/07/2010 20:30

Gabriela Rezende não tem medo de problemas e, por isso, tornou-se conselheira das amigasCerta vez, um professor levou um grupo de alunos para um passeio em um jardim em forma de labirinto. Cada um deveria procurar a saída. E alguns logo conseguiram. Outros, preocupados, escutavam as vozes dos amigos que haviam encontrado um atalho em meio aos arbustos e folhagens. A sensação era a de que permaneceriam ali por toda a eternidade, mas não demorou muito até que todos descobrissem a passagem. Atividade concluída, o professor reuniu os aprendizes e, de um ponto mais alto, mostrou como o caminho era simples.

Tomando essa história como metáfora da adolescência, a escritora e psicopedagoga Cybelle Weinberg escreveu Por que estou assim? (Ed. Sá). "A sensação é igual. Uns saem numa boa, sem grandes dificuldades, e outros penam à beça", define a autora no livro publicado há três anos. Nele, a especialista registrou as principais questões que tiram o sono de meninos e meninas. A publicação junta-se a um número crescente de livros de autoajuda para adolescentes.

O gênero, presente no mercado editorial desde os 1960, volta agora seus olhos para um público mais jovem. A Ediouro, por exemplo, acaba de entrar nessa seara com o lançamento de O segredo - Versão teen, de Paul Harrington, diretor do filme O segredo (baseado na obra homônima de Rhonda Byrne). Segundo a editora Márcia Batista, esse é um nicho a ser desbravado. "A gente não sabe como vai ser. Sabemos apenas que alguns livros conquistam um público maior do que imaginamos. Temos diversos títulos de autoajuda, mas para esse público específico este é o primeiro", diz.

Os supostos benefícios proporcionados por esse tipo de literatura não são ponto pacífico. Para a psicanalista Tomásia Ticconi, que há 20 anos trabalha com adolescentes, os livros de autoajuda propõe fórmulas que devem ser questionadas. "Os adolescentes não querem modelos a serem seguidos, mas, sim, alguém com quem possam conversar e, através deste vínculo, encontrar a sua maneira de enfrentar o mundo. O importante é clarear os conflitos para que eles possam fazer suas próprias escolhas", pondera.

Mensagem positiva
Mas será que os adolescentes estão lendo autoajuda? Conversamos com Gabriela, 13 anos, Júlia e André, 15 anos, e perguntamos a quem eles recorrem para pedir conselhos e tirar dúvidas. E se livros podem ser bússolas eficientes durante esse período de incertezas.

"Acho que a gente tem que pensar positivo e não deixar a autoestima cair." Esse é o pensamento da estudante Gabriela Rezende (foto), 13 anos. Atenta às mensagens que revistas, diários e romances publicados passam, Gabriela segue à risca tudo aquilo que for "do bem". Como aprendeu após assistir ao filme O segredo, há cinco anos.

Mas a adolescente confessa que não é nada fácil colocar em prática o otimismo que vê nos livros de autoajuda. "Tem que tirar boa nota, ser magra, ter cabelo liso, estar sempre bonita, ser legal. E isso também pesa para os meninos", observa. Pela cabeça da estudante já passa até a preocupação com a carreira que quer seguir. "Penso em arquitetura", responde com segurança.

Antes de dormir ou nas horas vagas, Gabriela folheia lições de pensamento positivo que tenta por em prática no dia a dia. "e acreditar, dá certo. Já fiz esse pensamento em hora de prova de matemática na 5; série, por exemplo, e gostei da nota", orgulha-se. Segura da filosofia "no final tudo se resolve", Gabriela repassas as mesmas informações otimistas para as amigas, que frequentemente lhe pedem conselhos. "Também me ofereço para conversar com aquelas que têm dificuldade em falar sobre seus problemas. Porque eu corro atrás para entender o problema. Não é legal guardá-los, e muita gente guarda."



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