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Nós repórteres

Maria Fernanda Seixas e Rafael Campos visitaram incógnitos um badalado clube de swing da capital. Os jornalistas contam, abaixo, suas impressões

postado em 08/07/2010 19:39

Ela: A noite esquenta depois das strippers, lá pelas 2h
;O primeiro carro chega ao estacionamento particular do clube. O rapaz sai do veículo olhando para todas as direções e a moça, que usa uma camiseta justa de listras pretas e brancas como microvestido, equilibra o sapato alto de acrílico transparente no chão de terra batida. Andam até a entrada do clube e conversam por alguns minutos com o segurança da casa. Por lá, só entram casais que provem a estabilidade do relacionamento. Seja com fotos, alianças, certidão de casamento, tatuagem apaixonada. O que for. A tática evita que espertalhões levem prostitutas para a festa. Logo atrás entra um trio: um casal e uma moça. A ;avulsa; é bem cheinha, usa bermuda jeans, sandália e blusinha de lycra marrom. Ela não tem a menor pinta de frequentadora de casa de swing, assim como a maioria das pessoas que por ali se embrenharam (literalmente ou não). Em geral, ;amigas; solteiras são sempre bem-vindas e concorridas no grupos de swing. Em Brasília, segundo o ;casal quente;, a modalidade mais disputada é exatamente o ménage à trois com outra mulher. O terceiro casal que chega é composto por um senhor alto e de cabelos brancos, de mãos dadas com uma mulher deslumbrante de, mais ou menos, 40 anos. De tubinho preto e cinto dourado, os cabelos cor de mel lisos e compridos chamam a atenção. ;Eles vêm aqui há uns três anos, mas só observam. Nunca fazem a troca;, conta o proprietário. Mais pessoas vão chegando e é a nossa vez de entrar. Os swingueiros têm uma espécie de código de roupas: quanto mais ousada, mais aberta a novas experiências é a mulher. As que, assim como eu, vestiam calças jeans, eram encaradas como iniciantes. Ainda são 23h e os casais ficam sentados, calados, tomando bebidas, trocando um ou outro beijo e observando. Segundo os funcionários, a noite esquenta depois do shows das strippers, lá pelas duas da manhã. Até então, nenhum casal aborda outro. À meia-noite, casa lotada. As mulheres dançavam animadas e os mais afoitos já começavam a adentrar a cortina preta. Atrás dela, nos espaços claros e abertos, apenas uns gatos pingados abraçados trocando beijos mais inocentes. Já nos quartos escuros... No labirinto, uns cinco casais dividiam o espaço escuro de mais ou menos 8m;. Lá dentro rolava de tudo. O gemido foi suficiente para que eu recuasse correndo para a boate. Estando lá como voyeur disfarçada, simplesmente não me senti no direito de espiar tal intimidade. Saímos por volta de 12h30, antes da casa pegar fogo. Até porque, já havíamos visto o suficiente: pessoas normais e bem resolvidas, em busca de aventura e prazer. A ideia do swing me pareceu bem menos agressiva e mais natural, instintiva e corajosa.;

Ele: Uma visão panorâmica da performance dos outros
;Uma casa de swing não é apenas um grande vão que aguarda o sexo dos seus visitantes. Ao contrário, a ambientação conta muito para criar um clima propício às experiências que lá acontecem. Olhar bem por esses ambientes foi minha tarefa, mesmo que, muitas vezes, meu olhar se detivesse em um casal mais animado. Esta casa de swing não tem placas que alardeiam sua localização, mesmo que ela seja fácil de encontrar. No primeiro ambiente, a boate em si. DJ à direita, bar à frente, algumas mesas espalhadas em círculo. Ao centro, dois mastros de pole dancing que, quando ocupados por dançarinos contratados da casa, atiçam mais os casais. Porém, atrás de cortinas negras é que estão os verdadeiros ambientes concorridos. Sete deles são liberados para a prática sexual e isso é levado a sério pelos frequentadores. O primeiro é o cinema. O telão que exibe filmes pornográficos chama menos atenção que a enorme cama de couro vermelho: nela, os casais têm liberdade para, em grupos de qualquer tamanho, experimentarem o sexo às vistas dos outros. Dois sofás servem de plateia para os que desejam apenas ver. Aqueles que procuram uma maior privacidade podem se valer de dois quartos que, com travas, podem ser fechados quando a festinha se torna mais íntima. O limite de pessoas também não existe, mas, segundo os proprietários, é comum o encontro de dois casais por vez. Muitos são voyers, que depois de presenciar as cenas, entram sozinhos nos quartos. Para quem adora se exibir, há o espaço com o sugestivo nome de aquário. Sua parede é de vidro e dá direto na pista, garantindo uma visão panorâmica da performance de quem estiver lá. A cama é de couro vermelho. Por último, os dois mais requisitados: a dark room e o labirinto. O primeiro é autoexplicativo: em sua sala totalmente escura não há problema algum em abraçar, beijar e transar com quem esteja dentro. O labirinto tem uma dinâmica parecida, mas carrega um teor sexual ainda mais apimentando. Trata-se de uma saleta apinhada de casais, com paredes lotadas de buracos não só para os que querem olhar ; os espaços são grandes o suficientes para permitir a passagem de mãos e braços. Assim, a interação é ainda maior.;

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