Revista

Uma estrela ao natural

A atriz Cássia Kiss fala sobre seus projetos profissionais, sobre casamento e sobre vaidade. "Gosto de ver cada ruga minha", garante.

postado em 16/07/2010 13:47

Por Maria Júlia Lledó

A atriz Cássia Kiss fala sobre seus projetos profissionais, sobre casamento e sobre vaidade. Simplicidade e leveza são os adjetivos que melhor traduzem este momento na vida da atriz Cássia Kiss. Aos 53 anos, ela esbanja felicidade, casada com o psicanalista João Baptista Magro Filho, e se considera uma mulher realizada. ;Se você está em busca do melhor homem do mundo, esquece. Já encontrei;, alegra-se. Enquanto na televisão ela vive Francisca, mãe do protagonista da novela Escrito nas estrelas, no teatro ela coleciona elogios com o espetáculo O zoológico de vidro, de Teneesse Williams, do qual também é produtora. No cinema, Cássia Kiss está no longa-metragem Bróder, de Jéferson De, que estreia na próxima quarta-feira no Festival de Cinema de Paulínia (SP). Sem desperdiçar um minuto, a atriz ainda mergulha em outros projetos. Na semana passada, ela esteve em Brasília como convidada do projeto Escritores brasileiros, no Centro Cultural Banco do Brasil, ocasião em que recebeu a Revista para um bate-papo. Família, espiritualidade e beleza foram alguns dos assuntos tratados.

Na televisão você interpreta uma mãe que ajuda o filho num plano espiritual. Como está sendo essa experiência?

A Francisca é a chamada ;mulher evoluída;. Acho uma super-responsabilidade e acho que esse papel é um presente. Você pode achar isso muito pretensioso, mas é como se eu fosse escolhida, porque nunca estive tão bem. Esta também é a primeira vez que faço uma novela como atriz convidada. Isso quer dizer que eu gravo pouco e gravo uma coisa que gosto e que pedi. E eu tenho uma boca; O que eu pedi aconteceu. Fui presenteada com um papel lindo, luminoso. Só estou atraindo coisas boas, sou uma mulher feliz, dentro de uma família feliz e só tenho como objetivo fazer feliz quem está à minha volta.

E como você trabalhou o fato de a personagem estar dentro de um contexto espírita? Você também trabalha sua espiritualidade na novela?

Na década de 1980, fui discípula do Osho. Também já frequentei templo budista, vou à igreja católica, tenho nome de hare krishna. Ou seja, fico à vontade em qualquer lugar. Pra mim, não tem tempo ruim. Eu vejo, em todas as religiões, formas de amor ; e isso me agrada muito. Mas de todas elas, a que me deixa mais feliz é o espiritismo. Adoro entrar no centro espírita, já trabalhei em um e sou muito querida todas as vezes que volto lá.

Você batalhou muito para conseguir se destacar no cenário artístico, teve que vender sanduíche na praia para pagar os estudos até conseguir uma ponta na televisão. Olhando para trás, como foi esse seu percurso?

Nunca pensei em ser uma grande atriz. Meu objetivo era diário, queria fazer tudo da melhor forma possível. Apesar de ter uma família muito humilde e de ter passado um período extremamente difícil no Rio de Janeiro, onde cada dia eu dormia na casa de uma pessoa que eu não conhecia, de ter dormido em banco de praça, aprendi a ter muita responsabilidade. Com sete anos já ia sozinha para a escola, que não era perto de casa. Isso foi extremamente importante porque não me deixava desequilibrar. Sou muito focada, pragmática. Lembro que quando as coisas começaram a melhorar, trabalhava na TV Educativa do Rio de Janeiro e ganhava em torno de R$ 50 por dia. Com esse dinheiro pagava o aluguel da quitinete, onde havia uma colchonete, meia dúzia de roupas, três livros, uma escova de dentes e uma panelinha de pedra. Era felicíssima. Queria sobreviver bem e pronto.

Você passa esses mesmos valores para os seus filhos?
Temos um objetivo, João e eu: queremos ser referência para eles. Queremos que eles olhem para nós e sintam-se seguros, amparados, que vejam o que é felicidade, o que é amor. Na questão material, acho que dou muito pouco até para os meus filhos. O mais velho, por exemplo, está de castigo e vai ficar sem receber mesada até fevereiro. Não saio comprando, não sou ;gastona;. Tomo cuidado com o dinheiro, mas sou generosa quando acho que posso ajudar alguém. Sou daquelas que conta moedinha. Isso eu passo para os meus filhos. Se os quatro vão ao cinema, faço a conta do ingresso, da pipoca e do refrigerante. Se tem troco, eu peço de volta. Acho importante que eles saibam o valor das coisas. Sou eu quem faz o supermercado, sei quanto gastamos com luz, água, telefone... Não sou negligente.

E como dar conta de carreira, família, casamento?
Estou feliz em todas as coisas que faço. Então, consigo fazer tudo. Tenho tempo para cuidar de cada um dos meus filhos, ler e estudar com eles, administrar a casa, ir ao banco, ao mercado, curtir meu marido. O que muda com o tempo é a satisfação com a vida. Olho em volta e falo: ;Nossa, como a vida é maravilhosa;.

Plásticas e outras interferências estéticas para retardar a idade. Por que você sempre foi contra esses procedimentos?

Nunca tive medo da velhice. Gosto de mim e estou satisfeita como estou. Gosto de ver cada ruga minha, cada um delas tem um valor e não tenho vontade de desmanchar isso. A única coisa que não entendo nas mulheres é como elas se descontrolam. Tá todo mundo com cara de empada. Quem são as pessoas ao lado delas, que não dizem algo como: ;Pára, não precisa mais; você está linda assim; cuidado, você vai ficar feia?; Às vezes eu arrisco dizer alguma coisa para uma amiga, mas basta eu falar para mim mesma. Tenho uma vaidade controlada. Uso creme, vou à demartologista, à academia, gosto de caminhar, faço pilates, cuido do meu cabelo, mas eu gosto de saber o limite. Faço a diferença dentro do meu trabalho, porque vejo que 99% das atrizes trabalham em cima da beleza. Querem estar sempre bonitas, bem maquiadas, penteadas, com tudo em cima, a roupa bárbara e, de preferência, fazer o papel da mulher rica, porque assim você sai em mais capas de revistas e fica mais em evidência.

E como você se imagina daqui a 20, 30 anos?
Quero estar bem aos 50, 60, 70, 80 e ver qual a evolução disso. O que adianta fazer 50 anos e querer 25? Nunca vou ter minha idade? Quero ser como minha sogra ; ela tem 86 anos e, para mim, é uma referência. É impressionante, tem um vigor, uma beleza, uma postura, e ainda cozinha muito bem, costura como ninguém. É tudo no superlativo. Quero chegar na idade dela, no mínimo, como ela. Quero viver cem anos e tenho que cuidar de mim. Não quero ficar sempre jovem. Minha juventude está em outro lugar. Não está em fazer uma plástica, deixar minha bunda empinada, meu peito empinado, minha praia não é essa. Prefiro cuidar da alma do que cuidar excessivamente do corpo. Se eu cuidar da alma, vou cuidar do corpo na medida.

Seus personagens são bem diversificados. Desde mulheres feias, abandonadas, a mulheres belas e extravagantes. Qual o grande prazer em interpretar diferentes papéis?
É ter liberdade para contar várias histórias, invadir outros universos. Ser atriz é ser livre. Eu sou uma atriz e me presto a contar várias histórias e as conto como deve ser. Não tenho medo disso, não procuro meu melhor ângulo. Estou com 53 anos e me acho a mulher mais feliz do mundo. Se não a mais feliz, a mais plena, a mais madura. Há dois anos me casei com o melhor homem do mundo. Se você está em busca do melhor homem do mundo, esquece, eu já encontrei (risos). Me sinto mais segura, e isso é quase tudo na vida.


Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação