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De amores e humores!

Um mês depois da morte do filho, Cissa Guimarães fala do legado de amor deixado pelo caçula, da experiência de ser avó e dos projetos profissionais. E garante: voltará a gargalhar em breve

postado em 17/08/2010 11:44
Um mês depois da morte do filho, Cissa Guimarães fala do legado de amor deixado pelo caçula, da experiência de ser avó e dos projetos profissionais. E garante: voltará a gargalhar em breveAs risadas tornaram-se marca registrada da atriz e apresentadora Cissa Guimarães, 53 anos. Nos últimos 30 dias, no entanto, elas calaram. A perda do filho Rafael completou um mês na sexta-feira passada. Em público, Cissa não esconde o sofrimento, mas não se deixa levar pela dor da ausência do caçula. Pelo contrário. Segue a vontade do filho, de não abandonar o amor pela vida. No camarim do Centro Cultural Banco do Brasil, na semana passada, meia hora antes de dividir o palco com o escritor e amigo Luis Fernando Verissimo pelo projeto Escritores Brasileiros, a atriz concedeu uma entrevista à Revista do Correio.
Vestida de preto e branco, equilibrou-se entre a dor da perda do filho e a alegria de voltar ao palco com a peça Doidas e Santas, primeiro espetáculo assinado com a cara e a coragem da atriz e produtora. Na conversa, começou falando sobre o pai, o médico Ugo Guimarães, que a presenteou com um dicionário quando tinha apenas oito anos. "Me lembro de ir ao colégio e falar: ;Nossa, pai; hoje foi um barato!’. E dele me dizer: ;Me dê três sinônimos de barato e continue falando seu barato.; Tudo para que eu soubesse o significado das palavras", lembra, carinhosamente. No curto tempo de entrevista ; apenas 15 minutos ;, a atriz falou sobre as conquistas dos 50 anos e sobre o profundo amor pelo neto. Entre uma resposta e outra, trouxe recordações de Rafael, atropelado quando andava de skate em um túnel no Rio de Janeiro. Em fala e gestos, Cissa Guimarães demonstrou muita força. Agradeceu o carinho de parceiros, como a produtora e amiga Maria Siman, que esteve ao lado dela durante a estadia em Brasília.

A importância do humor
"Há muitos anos, vinha sentindo uma dúvida: o que era mais importante na vida, o amor ou o humor? O amor foi um legado que meu filho deixou, mas não entendo uma pessoa que ama a outra e não dá uma gargalhada. O humor é fundamental para a saúde. Estou sentindo a maior dor da minha vida, mas saio com meus amigos, que são engraçados, e eu sou engraçada... Quando vejo, estou rindo e preciso muito disso como preciso do remédio que minha médica prescreveu para minha dor, para o meu CTI. Talvez eu não gargalhe mais por coisas bobas. Talvez minha qualidade de rir hoje seja melhor, até mesmo depois do que eu passei. Mas vou continuar rindo muito, com certeza."

50 anos
"Fiz um ensaio nu aos 48 anos, e me comparei com o que fiz aos 35 e me achei muito mais bonita. É a coisa da sensualidade madura e não óbvia. Não ligada à ideia de ser jovem e durinha. Claro que, nas fotos, a gente passa pelo Photoshop, mas teve uma delas em que estava sentada e aparece uma barriguinha. Barriguinha não, que eu não tenho, mas uma pele. Pedi: ;Mexe não, deixa assim;. Eu tenho ruga. Não sou contra botox, mas também não queria ficar com a cara de uma menina de 30 anos. Eu não sou; Achei o resultado bonito e sensual. Uma fruta madura não é boa de se comer? (risos) Essa coisa toda da emoção por tudo que já passei na minha vida, das dificuldades de criar meus filhos, de buscar ser uma mulher bacana, dos fracassos amorosos, profissionais, das coisas que não consegui fazer, das minhas vitórias; Vejo beleza em tudo isso. E é sobre isso que queria falar no palco."

Um mês depois da morte do filho, Cissa Guimarães fala do legado de amor deixado pelo caçula, da experiência de ser avó e dos projetos profissionais. E garante: voltará a gargalhar em breveDoidas e Santas
"Há muito tempo, me cobrava: ;Quando você vai produzir?;. Nunca tinha produzido. Para mim, bateu como uma virada; só que aos 50 anos. Passei um ano fazendo ciclos de leitura na minha casa, procurando por um texto. Queria algo pessoal e falar sobre essa questão dos 50 anos. Não só dos 50, mas de uma maturidade. Falar de mulheres que eu admiro, como a escritora Martha Medeiros, e outras amigas minhas, que são bacanas, bonitas, que já se casaram, se separaram, têm seus filhos, e que estão de bem com a vida. Foi engraçado, porque comecei a me emocionar, não a chorar, mas a ver essa fase como algo bonito. Vamos vir para Brasília com a peça, claro. Ficamos até o fim do ano no Rio, que está fazendo um sucesso danado, e queremos ficar lá até o início do ano que vem. Mas Doidas e Santas, com certeza, virá a Brasília. Me aguardem."

O encontro
"Li uma crônica da Martha Medeiros em um domingo e achei maravilhosa. Não tinha nada a ver com a peça. Era sobre mulheres que gostavam de tomar um vinho e precisavam pegar um táxi para voltar pra casa, por causa de lei seca. Bem, daí, começamos a trocar e-mails. Conversando com ela, perguntei se tinha algo de teatro para eu montar. Ela disse que não tinha e que não topava escrever algo por encomenda porque não sabia escrever dramaturgia. Fiquei assim, meio chateada, porque seria perfeito. Até que ela me disse que viria ao Rio para lançar um livro e queria me conhecer pessoalmente. Isso foi em 2008. Ela me disse que o livro era de várias crônicas, uma coletânea que toca nesse universo. Me disse que, se eu gostasse, poderia adaptar algo do livro para o teatro. Na hora, falei: ;Qual o nome do livro?;. Ela disse: ;Doidas e Santas;. Respondi na hora: ;Opa! Já é! (risos);. Achei que era um sinal."

Em família
"Sou muito doida, mas para conseguir ser muito doida, tenho que ser santa. Acho que uma coisa está assim com a outra. Tenho uma vida pessoal muito organizada, muito santinha, muito disciplinada. Minha casa é uma das mais caretas que você pode imaginar: Tem almoço na hora certa, alimentação correta, tem que fazer dever de casa, escovar os dentes, passar o fio dental; Isso tudo fez do João Velho o ator que ele é, fez do Rafael o músico que ele era, e do Thomaz o designer que ele é. Deixava eles matarem aula para pegar uma onda perfeita no Arpoador, mas para isso eles tiveram que estudar de noite pra caramba."

Planos
"Acho que vou fazer uma novela, voltei para o Video show e não quero sair do programa de jeito nenhum. Tive um neto agora, o José, meu amorzinho... A relação que tenho com meu neto ; brinco, brinco e entrego para os pais educarem ; é semelhante à relação que tenho com o programa hoje. Antes, eu apresentava o Video show, fazia as matérias todos os dias, a locução, as externas... Miguel era o corpo e eu era a alma. Já fui mãe do Video show durante tantos anos e, agora, sou avó do programa. Por enquanto, só recuperei forças para voltar para minha peça. Dei uma pausa no programa para voltar inteira e poder retomar minha alegria, que ainda está aqui. Meu compromisso é com vida, é com a alegria, mas eu pedi um tempo."

O primeiro neto
"É uma delícia! Aos 40 anos, disse numa entrevista que ia ser uma avó espertíssima. Fui uma mãe muito jovem, então sou uma avó moleca. Brinco que, quando meus filhos estiverem cansados de tomar conta de mim, vão pedir para o José me pegar no barzinho onde vou tomar uns chopes (risos). O José foi o maior presente que eu recebi nos últimos tempos, não só o José, mas essa capacidade de amar que eu não sabia que tinha tanto. Quando eu vi o José no colo do meu filho, assim que ele nasceu, não sabia que ainda era capaz de amar tanto porque achava que o maior amor do mundo era por um filho. E, graças a Deus, eu senti e sinto esse amor por três filhos. Apesar de estar passando pela maior dor do mundo, meu filho me deixou um legado de muito amor. Agradeço isso a ele e a meu neto. O Rafael deixou para todo mundo esse amor (engasga). Quando falamos dele, só falamos de amor."

Segredo da vitalidade
Um mês depois da morte do filho, Cissa Guimarães fala do legado de amor deixado pelo caçula, da experiência de ser avó e dos projetos profissionais. E garante: voltará a gargalhar em breve"Sou uma mulher vaidosa. Cuido muito da minha saúde, até porque meu pai era médico. Então, sou muito exigente com alimentação, atividade física. Mas sou meio doidinha. Me cuido muito para tomar meu vinho, para dormir às duas da manhã, ter minha vida boêmia, inerente à minha profissão. Acho que o compromisso que tenho com a vida é com a alegria. Gosto de viver. Me dizem: ;Mas você é ligada em 220W?;. Respondo: ;Queria que eu fosse ligada em quê? Você que é um desligado (risos);. Por causa dessa minha energia e animação, consegui muita coisa boa para mim e para os outros. Mesmo agora, que estou sangrando, estou no CTI, daqui a pouco eu volto, porque agora estou sem forças físicas. Mas faço aulas de ioga, alongamento e musculação todos os dias. Quero voltar a fazer tudo isso para que minha energia fique bem, para que eu tenha qualidade de vida, para que eu continue sendo uma mulher esperta. Não quero ficar uma velha chata. Quero brincar com meu neto, jogar meu frescobol na praia, tomar vinho até às duas da manhã, curtir, viajar; Tem muita coisa que eu ainda quero fazer e tenho que estar com meu corpinho, minha carcaça boa. Sinceramente, claro que tenho minha vaidade, não vou ser hipócrita, mas é muito em função disso: quero estar bem para curtir minha vida."

Se for ao Rio, não perca...
Doidas e Santas
Em cartaz no Rio de Janeiro, no Teatro Leblon, a peça fala sobre Beatriz (Cissa Guimarães), uma psicanalista casada há 20 anos com Orlando (Giuseppe Oristanio), e mãe da adolescente Marina (Josie Antello). A rotina do casamento e outras angústias e sonhos de Beatriz provocam mudanças na vida da protagonista.

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