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Sem idade para vencer

Executivo de 59 anos, que colocou quatro pontes de safena, se prepara para correr a São Silvestre. Treinamento será acompanhado pela Revista

postado em 08/10/2010 18:29

O executivo cardiopata Paulo Campos se prepara para correr a São SilvestreO dia 18 de julho de 2009 mostrava-se vitorioso para o executivo de couching Paulo Marques. Apesar de seu barco ter participado do Volvo Youth Sailing ISAF Worlds Championship, como apoio aos competidores, ele terminara os 10 dias de prova e, até aquele momento, acreditava que tudo com sua saúde ia bem. "Quem começa o dia no barco, sempre faz um checklist quando sai dele. Naquela tarde, estava me sentindo muito cansado e pedi para o restante da tripulação o fazer. Até ali, imaginava que apenas estava com fome e, por isso, resolvi voltar para casa e almoçar", lembra.

Ao chegar, esperando pela mulher, sentiu uma dor na altura do estômago e, naturalmente, imaginou ser fome. "Resolvi comer quatro biscoitos de água e sal. Depois fui para a cama. Quando minha mulher me chamou para comer, levantei e, ali, já veio aquele branco total." A partir desse momento, exames comprovaram que a soma de anos de trabalho árduo e outros 30 de fumante trouxe um resultado trágico: Paulo acabou na mesa de cirurgia, tendo de colocar quatro pontes de safena. Um ano mais tarde, recuperado e com 59 anos, ele quer tudo, menos ser chamado de cardiopata.

E, para provar a si mesmo que está renovado, Paulo começou, no último dia 16 de agosto, um treinamento que vai culminar na Corrida de São Silvestre. "Meu coração está jovem, o corpo é que envelheceu. Fiz uma cirurgia no peito, não no cérebro e estou muito bem porque minha saúde emocional multiplicou", diz, justificando o desejo de chegar ao fim da clássica prova, que acontece desde 1924. Para conseguir este feito, claro, Paulo não vai precisar apenas da força de vontade. Junto de um acompanhamento médico que já ocorre desde quando saiu do hospital, ele será ladeado pelo treinador Marcel Huthmacher, que vai seguir, literalmente, todos os passos do competidor até 31 de dezembro.

Essa será a primeira vez que Marcel irá treinar alguém com as características de Paulo. O fato, segundo ele, altera completamente a rotina de exercícios. "Com a aceitação do médico e dele de que estamos diante de uma meta alcançável, temos de focar em um trabalho de condicionamento cardiovascular, junto à técnicas de corrida que vão testar quanto esforço o corpo dele suporta", examina. Como o treinamento começou agora, ainda não há um programa definido.

Marcel fará testes para saber qual deve ser a carga e quais são os exercícios mais indicados para o executive couching. Um ponto importante, afirma o treinador, é que Paulo já mantém uma rotina de exercícios que vem desde a época pós-cirurgia. "Disciplina ele já tem e sabe o que é certo e errado nos hábitos. A São Silvestre é a primeira meta a ser alcançada e que ele poderá fazer pelo resto da vida", garante.

De acordo com a educadora física Adriana Marques, que é filha de Paulo e também vai monitorar seu treinamento, paralelo às técnicas de corrida haverá o Vip Care, um programa de exercícios direcionados aos que possuem característiscas especiais: problemas cardiovasculares, paciente em reabilitação e melhor idade. "Ele visa manter a funcionalidade total do corpo, preparando a musculatura de forma gradativa. Assim, a corrida vem junto ao Vip Care."

A Revista do Correio irá acompanhar a empreitada de Paulo Marques. Até o fim do ano, serão publicadas matérias que, mais que mostrar sua preparação para a São Silvestre, vão apresentar os benefícios da atividade física in loco, analisando a evolução que o corpo do executivo terá para conseguir terminar a prova.

O cardiologista que atualmente acompanha o caso de Paulo, Daniel França Vasconcelos, garante que a condição atual dele é ótima e a expectativa é que a corrida aconteça de forma tranquila. "Há que se preocupar com o colesterol, hipertensão, e usar a medicação indicada regularmente. Mas temos vários casos na medicina como o dele." Daniel afirma que o treinamento não só beneficia a saúde física dos pacientes. "A reabilitação também é psicológica, já que muitos deles ficam com a sensação de invalidez", avalia. O médico alerta que é preciso uma completa avaliação médica que vai analisar, caso a caso, qual o melhor exercício físico.

Paulo Marques havia deixado Brasília em busca de qualidade de vida, escolhendo a cidade de Búzios para morar. Lá, direcionou seus esforços para uma empresa de turismo náutico que, segundo ele, o manteve quatro anos trabalhando incansavelmente. "Estava posicionando a minha empresa no mercado e isso, claro, trazia transtornos, inclusive físicos. Sempre tive um histórico de prática esportiva, pratiquei voo livre por 25 anos, mas, com a falta de tempo, meu sono, minha alimentação, tudo estava ao avesso", confessa.

Após a cirurgia, contudo, a mudança no estilo de vida foi completa. Apesar de manter-se trabalhando e ativo, ele assegura que tenta, ao máximo, se ver longe de qualquer rotina estressante. Além de ter deixado de fumar há cinco anos, algo que, segundo ele, foi decisivo para o sucesso do procedimento cirúrgico, ele voltou a praticar esporte e estava na academia menos de um mês depois de ter deixado o hospital. "Hoje sei que o grande erro da minha vida foi ter fumado. A gente nunca acha que algo assim vai acontecer conosco e se descuida. Agora, tenho três regras na minha vida: exercício físico, alimentação saudável e repouso", ensina.

Hoje, com duas filhas e quatro netos, a máxima se reforça a cada dia. "Ainda tenho limitações de circulação nas pernas, mas já mantenho uma prática que é de correr um minuto e andar quatro. Quero chegar aos 30 minutos de corrida direto. Porém, não pretendo disputar por colocação. A minha meta é cumprir a São Silvestre", finaliza.

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