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Nós, repórteres fashion

As repórteres Flávia Duarte e Olívia Meireles contam como foram as suas relações com o mundo da moda na infância. Uma já "nasceu perua", a outra tentava, ms a mãe não deixava

postado em 08/10/2010 19:15

Desde bem pequena, Flávia sempre foi fão de uma megaprodução: babados, meias, sapatos boneca e muitos acessórios

Nasci perua. Graças a Deus


Por Flávia Duarte
Se vaidade é um bem que se adquire com o tempo, eu não sei. Só tenho certeza de que no meu caso ela nasceu comigo. Desde criança, adoro me enfeitar. Fui daquelas que aos 5 anos pediu a Papai Noel um estojo de maquiagem no Natal. E ganhei. Lembro de ter aquelas cores fortes de sombra, como azul e verde, no presente. E usava tudo. Como brincadeira, sem nenhum conceito de sensualidade precoce como muitos pais temem hoje em dia ao verem uma criança maquiada.

Ao contrário, só tenho boas lembranças dessa vaidade na infância. Usava sapatos boneca de verniz com meias de babado. Nunca saía de casa sem batons, brincos e pulseiras. Imagina ir para a rua sem óculos? Tive vários comprados em camelô mesmo. Naquela época, nem se falava que eles representavam um risco para a visão.

Queria me ver feliz, era só me dar aqueles kits de plástico que combinavam a bolsinha com um monte de pulseira barulheta (aliás, diga-se, continuo amando o tilintar das pulseiras). Me lembro de ter vários modelos: rosa, branca, de metal prateado. Também fazia as minhas próprias, com miçangas ou aproveitando aquelas correntes douradas que vinham penduradas no pescoço das bonecas da Estrela.

Os anéis também não faltavam. Levava um em cada dedo, exceto o dedão. A diversão era comprar umas balinhas sem gosto, que pareciam comprimidos, e davam de brinde anéis de latão, enfeitados com pedras coloridas. Queria um de cada. Como sou alérgica, ficava com os dedos empolados por causa da boniteza. Mas nem me importava. Passava a noite coçando a mão com o cobertor e no outro dia estava pronta para me embelezar novamente.

Minhas tias se lembram bem de que tipo de criança fui. Nas férias, minha diversão era ficar vasculhando o armário delas e experimentando os batons. Poderia ser de qualquer cor, do marrom ao pink. Também adorava esmaltes. Uma delas tem até hoje um salão de beleza. Lá, passava as tardes pintando minhas próprias unhas. Se estragava, tirava o esmalte de todas e começava tudo outra vez. Meus preferidos eram os rosas. Mas lembro da minha empolgação quando em algume carnaval foi lançado um tipo de esmalte cheio de gliter. Imagina a felicidade da pessoa que sonhava em ser purpurinada?

Estou falando de uma época em que devia ter 7, 8 anos de idade. Mesma idade em que me lembro de ter feito uma lista de sonhos de consumo. Das coisas que mais claramente me recordo, tinha um suspensório que gostaria de ganhar.

Naquela época, anos 80, a oferta de roupas não era tão variada como hoje. A gente comprava roupa em qualquer lojinha. Mas eu gostava das coisas extravagantes, combinadas. Lembro-me de ter um vestido cinza, cheio de babados no quadril. Ele vinha com um casaqueto do mesmo pano e um lencinho vermelho no bolso. Me sentia uma princesa com ele, especialmente quando ganhei um sapato boneca de camurça vermelho, que amarrava na perna. Era uma combinação perfeita.

Era do tipo que jurava que poderia fazer propaganda ou aparecer nas revistas. Fazia minha mãe mandar fotos para os concursos de beleza infantil. Nem sei se ela mandou alguma vez. Nunca participei de nenhum, mas me sentia linda e acho que não tem nada melhor que isso.

Cresci assim. Sem incentivos de mãe. Aliás, acho que fui eu quem acabei estimulando a vaidade da minha. Por isso, defendo que vaidade é questão de personalidade. Você nasce assim e pronto.

A tentativa de Olívia de ser perua (e), com  pulseiras e colares de brincadeira. E em uma festa junina: a mãe fazia as roupas à mão, mas nunca do jeito que ela queria

Sem cor-de-rosa nem purpurina

Por Olívia Meireles
Eu não diria que não tive uma infância vaidosa. O meu caso era um problema de conceito. O que era bonito para mim e o que era bonito para a minha mãe. Eu sempre quis roupas e brinquedos iguais aos das outras meninas da minha sala: tudo rosa e com purpurina. Mas minha mãe sempre foi contra a ;ditadura do rosa;. Quando criança, eu não tinha a boneca que dava para trocar a fralda, minha mãe comprou uma que era a réplica de uma garota dos anos 1940. O meu tênis não era o que acendia a luz quando pisava, eu tinha uma coleção de All Star Converse preto. Para a minha mãe, tudo o que ela compra tem que ter uma história por trás e ser diferente do que todo mundo usa. Para uma criança, essa não era uma ideia apelativa.

Quando o assunto era roupa, não foi muito diferente. Qualquer coisa com babado, purpurina e poliester a minha mãe não comprava. Se tivesse a marca da Xuxa ou da Barbie, ela proibia. Mas ela enchia o meu armário de polo Lacoste, vestidos bordados de marinheiros, sapatos estilo Chanel feitos à mão, saias moldadas e costuradas por ela. Claro que nada era rosa ou com purpurina. Minha mãe sempre teve uma relação prática com a moda. De quando em quando, ganho dela e do meu pai dois metros de seda pura para escolher um modelo de vestido. Ela preza pela qualidade e pela elegância. Quanto mais discreto e simples, melhor. Minhas roupas eram herança das minhas irmãs e primas, pois eram boas e bem cortadas. Os meus sapatos sempre foram caros, mas dois tamanhos maiores que o meu pé para durar mais tempo. (Isso me levou acreditar até os 18 anos que o meu pé era 40, quando na verdade era 38).

Mais difícil do que ter que lidar com uma vida sem rosa e purpurina era conviver com uma prima da mesma idade que odiava rosa e purpurina. Ela era filha única e, por isso, tinha todos os itens de perua que ela quisesse, qualquer brinquedo da loja e todas as bonecas. Mas ela desprezava qualquer item rosa, seu uniforme era um moletom e galochas. Me doía por dentro quando ela ganhava uma fantasia de princesa comprada na Disney e deixava guardada no armário. Todos esses pequenos traumas fashion foram acumulando.

Quando fui ficando mais velha, fui me impondo. Aos 14 anos, comprei a minha primeira camisa rosa com purpurina; aos 16, já tinha enchido o meu armário de peças de oncinha; aos 18, aprendi a usar maquigem (eu que passo na minha mãe). Aos 23, sou uma apaixonada por moda. Por isso, ainda deixo a minha mãe louca com as minhas roupas. Sempre que chego em casa com uma sacola na mão, ela já vem me questinonar: ;Comprou de novo?;. Ainda polemizo quando compro uma jaqueta de couro cheia de taxas douradas. Mas, hoje em dia, temos uma relação mais do que saudável com as minhas trocas de roupas.

Até porque eu reconheço que devo a ela toda e qualquer noção que eu tenho sobre roupas com bons caimentos, tecidos de qualidades e peças elegantes. Valorizo cada saia e camisa de marca que ela guardou para mim ao longo dos anos. Todo dia de manhã, ela passa no meu quarto para saber a minha opinião sobre a combinação que escolheu. Chegamos a dividir uma gaveta de lenços e bijuterias, que reabastecemos sempre que viajamos. Eu sei que ela não entende a minha fascinação pelo mundo da moda. Mas ela se esforça. A paz dura até chegar uma caixa no Correio cheio de novas compras que eu fiz na internet.

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