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Eu mereço um aumento?

Antes de pedir um reajuste de salário, é preciso mostrar ao chefe de que você está apto a ter um contracheque mais gordo. Especialistas dão essa e outras dicas para fazer o pedido na hora certa

postado em 14/10/2010 20:04

Antes de pedir %u2014 e conseguir %u2014 o aumento, Elisângela estudou a política de promoção da empresa

O reconhecimento de um bom trabalho fica ainda melhor quando acompanhado de um aumento salarial. Entretanto, para fazer o pedido é preciso bem mais que coragem de sentar-se na mesa com o chefe. Com a proximidade do fim do ano, fazer uma boa análise da produção em 2010 é o primeiro passo para os que querem começar 2011 com um contracheque mais gordo.

Para o diretor de projetos da Ricardo Xavier Recursos Humanos, Vladimir Araújo, os momentos mais adequados para se pedir aumento são em fins de projetos e no início do ano. ;É quando você pode estabelecer um tempo de trabalho em que os resultados poderão ser vistos e apresentados. Assim, o funcionário tem como se encher de argumentos que demonstrem que ele merece um salário maior;, justifica. Segundo ele, o empregado deve sempre lembrar que, ao pedir um reajuste, ele está se queixando para a empresa. Por isso, é necessário conhecer bem a situação em que ela se encontra.

Foi o que fez a gerente administrativa Elisângela Veras Abrantes, 37 anos. Ela analisou a política de valorização da empresa em que trabalha e alinhou-a às suas metas de crescimento. A promoção e o aumento vieram mais cedo do que normal. ;No caso do meu trabalho, o comum é que se leve um ano como analista financeira, meu antigo cargo, para depois ficar onde estou agora. Consegui isso em seis meses porque assumi todas as responsabilidades e me dispus a aprender. Só após isso, pedi. Agora, já trabalho pensando em conseguir um cargo na diretoria.;

Vladimir explica que a autocrítica é indispensável antes de pedir um ajuste no salário. Além de analisar se a empresa está bem das finanças, o funcionário deve fazer pesquisas de mercado para saber se a sua renda está equiparada com a de outros em cargos idênticos. ;O empregado deve observar como os aumentos acontecem dentro da empresa e também se ele fez algo diferente para merecê-lo.;

Mizraim nem precisou ter a difícil conversa com a chefe: em dois meses, foi promovido de vendedor a subgerente

A máxima de que ninguém é insubstituível não é encarada como verdade absoluta no mundo dos negócios. Os patrões querem manter os bons funcionários e, em muitos casos, é um salário maior que garante essa permanência. ;Temos que dar valor ao bom profissional e não adianta só elogiarmos. A empresa sempre sabe quem são aqueles que mais se destacam e precisa reconhecer o talento também com aumentos;, assegura a empresária Gisela Bresser. Proprietária de uma loja de roupas em um shopping de Brasília, ela promoveu Mizraim Ramos da Silva, 21 anos, de vendedor para subgerente, quando ele tinha apenas dois meses no emprego. ;Acredito que isso aconteceu naturalmente, por conta do trabalho que apresentei;, diz Mizraim. Ele não teve de passar pela famigerada conversa com a patroa, mas não duvida que teria pedido o aumento caso ele tivesse demorado. ;Há o tempo certo para pedir e eu não teria problema em fazer isso, se fosse necessário. Mas sempre ficamos com aquele medo, até porque, com alguns patrões, o não pode gerar um clima chato no trabalho.;

Plano B para o não
A negativa é sempre uma possibilidade. E, se ocorre, o melhor é procurar alternativas para, de alguma forma, obter lucros além dos financeiros. Um não para aumento não precisa ser também para um treinamento, curso ou MBA patrocinado pela empresa. ;O empregado deve sempre ter em mente um plano B, com outras possibilidades, para que ele possa amarrar ao pedido de maior salário. Também deve pedir dicas de como melhorar, se houver o não. Ele só deve cogitar sair da empresa caso perceba que outras pessoas, com o mesmo cargo, estão recebendo aumento por merecimento e ele não;, explica Vladimir Araújo.

O funcionário também deve ficar atento ao que pode aprender sobre o próprio trabalho antes de pedir. Elisângela Abrantes conta que, desde que começou no emprego, sempre se esforçou em obter o máximo de conhecimento possível, não só para o cargo em que trabalhava, mas também para o que ela exerce agora. ;Não tinha medo de trabalho e sempre pedia serviços que me fizessem pesquisar mais. O que vejo em muitas empresas é que as pessoas reclamam que o salário não cresce, mas não se esforçam para conseguir isso;, completa.

Quando a recompensa pelo esforço não exige conversas tensas com patrões, há maior estímulo para que os empregados trabalhem com mais afinco. E muitas companhias criam mecanismos próprios para que isso ocorra. De acordo com a gerente de remuneração da Souza Cruz, Amanda Mello, a empresa mantém uma política de aumentos anuais, que é baseada nas metas de cada funcionário, separadamente. ;Nós fazemos pesquisas de mercado para saber qual a média salarial de cada cargo e, pelos méritos dos empregados, eles podem receber até 20% acima dela.;

Para Amanda, essa é a melhor forma de conseguir manter os melhores no quadro de funcionários. Ao saber que todos têm chances iguais de conseguir um aumento, o grupo se esforça mais, o que traz benefícios para os dois lados. ;Isso se reflete na busca por alta performance. Como cada um é avaliado individualmente, o funcionário enxerga a evolução do seu trabalho e sabe o porquê de receber mais. Não há medo de se pedir aumento, já que ele depende deles mesmos.;

A empresária Gisela Bresser explica que o mais importante no momento de se dar um aumento de salário é medir o comprometimento do empregado com a empresa. ;É muito difícil encontrar bons profissionais no mercado. A gente precisa avaliar quais os que têm mais interesse em vestir a camisa. O momento certo é o primeiro que surgir, porque, quando o empregado é bom, sempre vão existir interessados nele e você não pode demorar a reconhecer a qualidade.; A empresária lembra que os funcionários também devem entender que nem sempre é possível que o aumento seja tanto quanto o que eles sonham. ;Há muito para se analisar: o desempenho, a situação financeira da empresa. Mas ninguém quer pagar mal quem faz um bom trabalho;, assegura.


Na hora de fazer o pedido
1. Avalie a situação financeira da sua empresa antes de pedir um aumento. Se ela não estiver bem, a conversa não vai render e você ainda passará a impressão de que desconhece o seu local de trabalho.
2. Faça uma pesquisa no mercado sobre qual é a média salarial daqueles que têm cargo igual ao seu. Assim, você pode ter ideia de quanto pode ser o aumento.
3. Analise sua produção, fazendo uma lista dos seus trabalhos. Não adianta pedir aumento caso você não tenha feito nada diferente dos outros. É preciso ter certeza de que é merecedor de um salário maior.
4. Pesquise qual a política salarial da sua empresa. Converse com o setor de Recursos Humanos e saiba como seus patrões encaram o pedido.
5. Vá preparado para um não. O importante é ter um plano B que ajude não só a superar o constrangimento, mas possa garantir alguma benefício, como um curso ou treinamento.
6. Procure ter a conversa em dias de bom humor do patrão. ;Converse depois que o time dele tenha vencido;, brinca Vladimir Araújo, da Ricardo Xavier Recursos Humanos. Se vier a negativa, jamais implore. ;Nunca banque o coitadinho. A empresa não é instituição de caridade;, completa.
Fonte: Vladimir Araújo, diretor de projetos da Ricardo Xavier Recursos Humanos

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