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Camas partidas

Mulheres que se casaram inadvertidamente com homossexuais contam à Revista como reagiram à desilusão. Sair do armário pode ser doloroso, mas é o melhor para ambas as partes, dizem especialistas

postado em 03/12/2010 16:49

Mulheres que se casaram inadvertidamente com homossexuais contam à Revista como reagiram à desilusão. Sair do armário pode ser doloroso, mas é o melhor para ambas as partes, dizem especialistasO amor surgiu como em um roteiro de cinema. Ao conhecê-lo na faculdade, Amanda* teve certeza que estava diante do homem da sua vida. Após sete anos juntos, veio o pedido de casamento. A vida a dois, mesmo com os problemas comuns, trazia mais felicidade à relação e o sexo continuava constante e prazeroso.

Porém depois de pôr a aliança, o marido de Amanda mudou. Tornou-se mais calado e irritadiço, chegava do trabalho e ia direto para academia e dela, para o computador. Não conversava mais com a esposa e, questionado sobre o que estava acontecendo, a resposta era sempre a mesma: "Nada". O desgaste trazido pelo não entendimento das atitudes do esposo fazia Amanda evitar o sexo, que foi rareando. Quando a situação parecia insustentável, ele resolveu se abrir: "Eu sou bissexual."

A vida dela foi devastada naquele momento. Dúvidas quanto a sua capacidade de dar prazer, raiva por nunca ter desconfiado da sexualidade dele, análise profunda de toda a história do casal. Tudo isso culminou na criação do blog A esposa. Nele, Amanda conta sua experiência e encontra o alento de outros internautas.

Quando isso acontece, achamos que nosso caso é único. A forma que encontrei de buscar ajuda foi conversando com mulheres que passaram ou estão passando pela mesma situação e perceber que ela é comum", diz a blogueira, em entrevista à Revista. Ela sabe que o "comum" não impede que o assunto seja tratado como tabu.

O tema velado é: em uma sociedade heteronormativa, muitos homens homossexuais e bissexuais ainda se sentem obrigados a manter um relacionamento de fachada para fugir do preconceito. Nesses casos, sair do armário pode ser duplamente doloroso, já que é o casal que precisa superar a mudança. "As pessoas ainda acreditam que sua homossexualidade é algo apenas sexual. Não percebem que ela é uma identidade emergente que, ao longo do tempo, vai obrigá-las a criar para si uma vida gay", explica Joe Kort, teraputa americano especializado em casais de orientação sexual mista.

Para Kort, enquanto não houver entendimento que homossexualidade e heterossexualidade são igualmente normais, casos como o de Amanda vão continuar a surgir. E, mais que isso, vão criar culpados em situações nas quais eles não existem. "O homem gay ainda sofre demais. A maior garantia de aceitação social que muitos têm ainda é o casamento, que se torna um pacto silencioso: preciso de você para mostrar que sou macho para os outros", analisa Walkíria Helena Grant, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).

A íntegra desta matéria pode ser lida na edição 290 da Revista do Correio

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