Revista

Eternas divas

Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas

postado em 29/12/2010 16:34

Caroline Aguiar // Especial para o Correio

Antes do surgimento da televisão, a grande estrela dos lares brasileiros era o rádio. Em torno dele, as famílias se reuniam para ouvir notícias, novelas e os programas que apresentavam grandes cantores. Os jovens dos anos 1940 e 1950 cresceram acompanhados de vozes de grandes cantoras, como Maysa, Angela Maria, Emilinha Borba, Marlene e tantas outras.

No livro As divas do Rádio Nacional, o sociólogo Ronaldo Conde Aguiar faz uma homenagem às cantoras que fizeram parte da era de ouro do rádio brasileiro. Ele conta a história de 14 artistas, relembra os sucessos e não poupa os leitores das histórias mais surpreendentes, tristes ou chocantes. O livro vem acompanhado de um CD com as canções marcantes de cada diva remasterizadas. A obra é o segundo título de um quarteto que o autor pretende escrever. O primeiro foi o Almanaque da Rádio Nacional e o terceiro, que já está quase pronto e tem lançamento previsto para 2011, falará dos cantores da Rádio Nacional.

Para Ronaldo, o livro é uma forma de homenagear as cantoras e lembrar um pouco da própria história recente do país. ;Tento entender onde nasceu tanto amor. Por que as pessoas idolatravam tanto essas cantoras?;, questiona. Baseada na obra de Ronaldo Conde, a Revista traz um resumo da história das 14 divas escolhidas pelo autor.

Dolores Duran

;A gente briga/ Diz tanta coisa que não quer dizer/ Briga pensando que não vai sofrer/ Que não faz mal se tudo terminar;
Castigo (Dolores Duran)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
Adiléia da Silva Rocha começou a trabalhar aos 12 anos num programa de histórias infantis da Rádio Tupi, o Teatro da Tia Chiquinha. O magro cachê que recebia ajudava no sustento da família, que teve as condições financeiras pioradas depois da morte do padrasto, Armindo José da Rocha. Terceira de quatro filhos, Adiléia nunca conheceu o pai.

Antes de começar a trabalhar na rádio, aos 10 anos, ela já havia se apresentado no programa Calouros em desfile, comandado por Ary Barroso. Baixinha e magra, ela arrancou elogios do apresentador, famoso por sua intolerância. ;Esse tiquinho de gente vai longe, tomem nota;, foi a observação de Ary, descrita por Ronaldo Conde no livro. Com a maior nota, a pequena faturou os 500 mil réis de prêmio.

Seria apenas o começo. Outros prêmios em programas de calouros viriam e, aos 16 anos, Adiléia se transformaria em Dolores Duran ; codinome inspirado nos bolerões que cantava nas boates de Copacabana. Em um dos concursos que participou, foi descoberta por Lauro Pais de Andrade, que a convidou para um teste na boate Vogue, uma das casas noturnas mais sofisticadas do Rio de Janeiro. De lá, Dolores despontaria para o Brasil.

Autodidata, ela cantava em português, inglês, francês, espanhol e até esperanto. Ainda transitava pelos mais diversos ritmos, blues, samba, bolero, baião e tudo mais que o público pedisse. Ao contrário do que muitos dizem, Dolores era alegre, para cima e vivia a dar espalhafatosas gargalhadas. Gostava de homens mais novos. Passou quatro anos casada com o ator Marcelo Neto, com quem adotou Maria Fernanda Virgínia da Rocha Macedo, pois não podia ter filhos.

A cantora morreu aos 29 anos, depois de uma noitada com muita bebida, fumo e diversão. Dolores tinha problemas cardíacos provocados por uma febre reumática mal curada. Como Ronaldo Conde relata, ao chegar em casa, a cantora disse à empregada: ;Não me acorde, estou muito cansada. Vou dormir até morrer;.

Maysa
;Vai lembrar que um dia existiu/ Um alguém que só carinho pediu/ E você fez questão de não dar/ Fez questão de negar;
Ouça (Maysa)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
Os olhos verdes e o sorriso largo foram algumas das marcas de Maysa. No entanto, a cantora também é lembrada pelos pileques que tomava e pelos escândalos que fazia. Era comum vê-la pelas festas e casas noturnas bebendo muito. O copo de uísque sempre a acompanhava. Entre os anos de 1975 e 1976, a cantora admitiu ser alcoólatra e se internou várias vezes para se desintoxicar. Foram crises de abstinência muito sérias. Maysa chegou a passar meses atrás de grades e era amarrada à cama com frequência. O resultado foi uma Maysa 38kg mais magra e um pouco mais controlada.

Ainda muito jovem, Maysa se casou com André Matarazzo, que tinha o dobro da idade dela e era um dos homens mais ricos do Brasil. A cerimônia de troca de alianças teve toda a pompa exigida pelos membros da alta sociedade. Mas os três anos de união foram uma sequência de brigas e escândalos. Enquanto André tentava frear a esposa, a cantora se apresentava em casas noturnas, fumava um cigarro atrás do outro e se afogava na bebida.

A carreira de Maysa começou justamente quando ela estava grávida de André. Acostumada a ouvir grandes cantoras na radiola, ela não pensava em seguir carreira artística até que o pai, Alcebíades Guaraná Monjardim, lhe apresentou ao produtor Roberto Corte Real e ao cavaquinista José do Patrocínio Oliveira, o Zé Carioca. Durante uma visita dos dois à casa do pai, Maysa cantou músicas em inglês e composições próprias.Corte Real logo providenciou a gravação de um disco, mas seria preciso passar pela aprovação do marido.

André colocou duas condições: na capa não haveria imagens de Maysa e todo o percentual faturado pela cantora seria transferido para o Hospital do Câncer. Tudo acertado, Maysa lançou o disco, que ficou encalhado nas prateleiras por algumas semanas e só deslanchou depois da publicação de uma coluna do jornalista e dramaturgo Henrique Pongetti na revista Manchete.

Convidada a fazer um trabalho na TV Rio, em 1957, Maysa mudou-se de São Paulo e aproveitou para se separar de André. O filho do casal, Jayme Monjardim, acabou sendo criado pelos pais de Maysa e hoje é um conhecido diretor de TV. Em 1959, a cantora foi para a Europa, de onde retornou depois de quatro meses. Depois da separação, Maysa teve vários namoros com pessoas famosas, entre eles Paulo Tavares, o cantor Almir Ribeiro, Mário Teles e o mais ardente de todos, Ronaldo Bôscoli. O namoro com Bôscoli rendeu o LP Barquinho, conhecido como um dos marcos da bossa nova.

Maysa fez turnês pela França, Estados Unidos, México e Portugal e atuou em três novelas. Nos últimos anos, lutou contra a obesidade ingerindo moderadores de apetite, que se misturavam ao fumo e à bebida. A cantora morreu aos 41 anos em um acidente de carro, quando voltava de Maricá, onde tinha uma casa.

Zezé Gonzaga
;Ai Ioiô, eu nasci pra sofrer/ Fui oiá pra você/ Meus oinhos fecho/ E quando os oio eu abri/ Quis gritar quis fugir/ Mas você, eu não sei por quê/ Você me chamou;
Linda Flor (Henrique Vogeler/ Luis Peixoto/ Marques Porto)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
Ao contrário de muitas das divas da Rádio Nacional, Zezé Gonzaga era extremamente disciplinada. Nunca se atrasava e cumpria à risca os compromissos que assumia. Característica que a levou a substituir várias das cantoras que se atrasavam e não conseguiam cumprir os 15 minutos de antecedência exigidos pela emissora. Zezé bateu recordes de apresentações na rádio. Foram 119 apenas no primeiro semestre de 1958.

Além de disciplinada, a cantora tinha técnica e afinação impecáveis, o que a tornava uma das preferidas dos produtores musicais. A doçura também era uma das marcas da intérprete nascida em Minas Gerais.

Zezé começou a cantar aos 13 anos. A família era extremamente musical e incentivou a carreira dela. O pai restaurava instrumentos de forma artesanal e, às vezes, tocava piano acompanhado pela voz suave da filha. Em 1942, durante férias no Rio de Janeiro, Zezé participou do programa de calouros de Ary Barroso. Aos 19 anos, mudou-se definitivamente para a Cidade Maravilhosa.

Começou a trabalhar num escritório comercial e logo recebeu uma proposta da Rádio Clube. Três anos depois, assinou contrato com a Rádio Nacional. Em 1949, gravou o primeiro disco. Zezé trabalhou por 20 anos na Nacional e participou de vários grupos musicais e coros.

No fim dos anos 1950, gravou discos infantis. Aos 45 anos, em 1975, estava desiludida com a música popular e aposentou-se por achar que não havia mais espaço para uma cantora romântica como ela. Mudou-se para Curitiba e, juntamente com a filha adotiva, passou a cuidar de uma creche. Zezé faleceu em 2008, aos 86 anos.

Ademilde Fonseca
;Um tico-tico só/ O tico-tico lá/ Está comendo todo, todo meu fubá/ Olha o seu Nicolau/ Que o fubá se vai/ Pego no meu pica-pau e o tiro sai;

Tico-tico no fubá (Zequinha de Abreu/ Eurico Barreiros)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
A Rainha do Chorinho, como ficou conhecida Ademilde da Fonseca, nasceu em Macaíba, no Rio Grande do Norte, e começou a cantar em grupos de seresteiros da capital, Natal. Em 1941, mudou-se para o Rio de Janeiro na companhia do marido, Laudemar Gedeão, e, no ano seguinte, foi aprovada em um teste da Rádio Clube.

Ainda em 1942, foi gravado seu primeiro 78 rpm, disco que tem apenas duas músicas, uma de cada lado. O sucesso foi tanto que dois meses depois houve mais um lançamento. Ao interpretar Tico-tico no fubá, Ademilde ficou famosa pela agilidade em cantar sem perder a dicção e a afinação.

Em 1944, a cantora assinou contrato com a Rádio Tupi e, em 1954, foi para a Rádio Nacional, onde permaneceu por 10 anos. Ademilde foi fundamental para a consolidação do choro. O gênero a fez despontar na música, mas também lhe rendeu o estigma de ser uma cantora de um único tipo musical.

Angela Maria
;Quem descerrar a cortina/ Da vida da bailarina/ Há de ver cheio de horror/ Que no fundo do seu peito/ Abriga um sonho desfeito/ Ou a desgraça de um amor;
Vida de Bailarina (Américo Seixas e Chocolate)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
Abelim Maria da Cunha foi contra todos os preceitos da família. O pai, Alberto Coutinho, era pastor e criava os 10 filhos na rédea curta. Hinos e leituras de salmos eram obrigações diárias e as ;músicas profanas; eram terminantemente proibidas. Aos 10 anos, uma crise financeira fez com que a família se dividisse e Abelim fosse morar com uma irmã mais velha. Depois disso, ela morou com outros familiares e amigos e, quando a vida melhorou, a família voltou a ser reunir.

Abelim foi atendente de um consultório dentário, trabalhou numa fábrica de tecidos e chegou a ser inspetora de qualidade de lâmpadas, emprego que perdeu porque preferia cantar a ficar olhando lâmpadas. Entre uma atividade e outra e com o nome artísticos de Marina Cunha, participava de programas de calouros escondida dos pais. Sempre ganhava.

Pela indicação do radialista Renato Murce, procurou uma casa noturna onde pudesse atuar como crooner. Assim, começou a trabalhar no Dancing Avenida, um ambiente requintado e cheio de regras. Diante do gordo salário, o pai não podia mais renegar a profissão da filha e acabou aceitando. Foi lá que Abelim adotou o nome artístico de Angela Maria e onde foi descoberta por Gilberto Martins, diretor artístico da Rádio Mayrink. No entanto, havia uma condição para gravar um disco: precisava ter um repertório e não apenas cantar as músicas de Dalva de Oliveira. Em 15 dias, ela conseguiu duas músicas inéditas e gravou o disco. No mesmo mês, já sairia um novo lançamento.

Em 1954, foi eleita Rainha do Rádio, com 4.464.906 votos. No ápice, entregou as faixas de tricampeões cariocas aos jogadores do Flamengo, seu time de coração, em pleno Maracanã. Angela Maria fez shows fora do Brasil e foi uma das cantoras mais bem pagas do país ; em 1965, ganhou mais de 3 milhões de cruzeiros.

Apesar de toda a fama, tinha um sonho simples: casar e ter filhos. Mas não foi fácil, foram vários namoros, noivados e casamentos fracassados até que ela se casasse com um rapaz 30 anos mais novo que ela, Daniel D;Angelo.

Hoje, aos 82 anos, Angela Maria mora em são Paulo e coleciona gravações de compositores como Vinicius de Moraes, Ary Barroso, Chico Buarque, Dorival Caymmi e Cazuza. Foram 27 discos 78 rpm e 10 LPs e CDs, o último, Angela Maria: Disco de Ouro, foi lançado em 2003.

Emilinha Borba
;Chiquita Bacana lá da Martinica/ Se veste com uma casca de banana nanica;
Chiquita Bacana (Alberto Ribeiro e João de Barro)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
Emilinha Borba foi o símbolo do conservadorismo dentro da Rádio Nacional. Cumpria à risca seus compromissos, não tem histórico de namoricos ou bebedeiras, vestia-se de forma discreta, nunca usava decotes ou mostrava as pernas e pintava-se de maneira sóbria. Além disso, fazia o papel de boa mãe e esposa exemplar, o que gerava uma grande identificação das mulheres que a escutavam.
Outra marca de Emilinha era a relação com as fãs.

Extremamente simpática, a cantora respondia cartas das ouvintes na Revista do Rádio. Até mesmo para as perguntas mais embaraçosas, ela sempre tinha respostas meigas e doces. Também mantinha outra coluna na revista, a Diário de Emilinha, onde contava as atividades mais corriqueiras, desde apresentações até novidades do filho e do marido. Em 1955, foi a cantora da Rádio Nacional que mais recebeu cartas.

Emilinha nasceu na Zona Norte do Rio de Janeiro e casou-se com Artur Sousa Costa Filho, com quem viveu por 23 anos, e teve apenas um filho. A cantora ficou famosa por sua versatilidade: cantava samba, marcha, frevo, bolero, baião e vários outros ritmos. Gravou 117 discos 78 rpm e 89 LPs. Muitas das marchinhas de carnaval que escutamos ainda hoje foram interpretadas por ela, como Chiquita bacana, Tomara que chova e Marcha do remador. Em 1947, Emilinha recebeu o título de Favorita da Marinha.

Marlene
;Lata d;água na cabeça/ Lá vai Maria/ Maria lava a roupa lá no alto/ Lutando pelo pão de cada dia;
Lata d;água (Luis Antonio e Jota Junior)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
Para levar adiante a carreira de cantora, Marlene teve que driblar as proibições da mãe. Com nome de batismo de Vitória De Martino Bonnaiutti, ela não conheceu o pai, que morreu sete dias antes de seu nascimento. Mas a matriarca, dona Antonieta, fez questão de criar as filhas com rígida disciplina. Evangélica, não permitia que elas ouvissem músicas profanas, ou seja, qualquer coisa que não fosse ópera ou hinos da igreja.

Marlene fez teatro e participou da criação da Federação de Estudantes de São Paulo. Dentro de entidade, criou o programa A hora do estudante, que foi veiculado na Rádio Bandeirantes. Em pouco tempo, passou de locutora a cantora e, em seguida, foi descoberta pela Rádio Tupi.

A vida clandestina não era nada fácil, pois tinha que esconder da mãe a profissão de cantora. Sem avisar, os colegas da rádio foram à casa dela para tentar convencer dona Antonieta a aceitar a vocação da filha. Foi em vão. Furiosa, a mãe deu uns tapas em Marlene. A briga foi a gota d;água e a cantora mudou-se para o Rio de Janeiro. A reconciliação aconteceria anos depois, com a ajuda da irmã, Geni. Marlene escreveu uma carta e a mãe respondeu dizendo que aceitava a opção da filha. Meses depois, a mãe também se mudaria para o Rio.

Em contato com o empresário Armando Silva, Marlene conseguiu se tornar crooner do Cassino Icaraí. Foi a primeira de várias casas onde a cantora se apresentaria. Em 1948, foi contratada pela Rádio Nacional e, no ano seguinte, eleita a Rainha do Rádio com 530 mil votos. O título acabou por criar uma pendenga que a acompanharia pelo resto da carreira. Ao desbancar a favorita, Emilinha Barbosa, Marlene enfureceu os fãs da cantora e a rivalidade estava criada. As duas cantoras não incentivavam a atitude dos fãs, mas quem amava uma, odiava a outra. Marlene chegou a ser agredida por uma fã de Emilinha quando voltava ao trabalho depois de um período afastada por causa de uma cirurgia. Com a agressão, teve que voltar ao hospital.

Marlene se casou com o ator Luís Delfino e teve um filho. Atualmente, tem 86 anos. Foram 24 discos, 78 rpm, seis LPs e CDs, 11 filmes e 12 peças de teatro.

Dalva de Oliveira
;Errei sim/ Manchei o teu nome/ Mas foste tu mesmo o culpado/ Deixavas-me em casa/ Me trocando pela orgia/ Faltando sempre com a tua companhia;
Errei sim (Ataulfo Alves)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
É impossível dissociar a história de Dalva de Oliveira da de Herivelto Martins. No entanto, a carreira da cantora começou bem antes da história de amor do casal. Ainda com seu nome de batismo, Vicentina Paula de Oliveira, foi convidada a fazer um teste na Rádio Ipanema, que era do dono da fábrica de chinelos onde ela trabalhava.

Depois do teste, foram vários convites para se apresentar em outras rádios e casas noturnas. A paixão pela música foi herdada do pai, Mário de Oliveira, mais conhecido como Mário Carioca. Ele era marceneiro e tocava clarinete. Dalva o acompanhava nas serenatas que fazia.

Mário morreu quando a filha tinha apenas 8 anos.
O encontro com Herivelto aconteceu no Teatro Pátria, em São Cristóvão, onde Dalva foi convidada para cantar e ele fazia o papel de um palhaço. Foi amor à primeira vista. Em poucos dias ela começou a se apresentar com Herivelto e Nilo Chagas, que já formavam uma dupla. O grupo se transformou no Trio de Ouro.

Logo no começo do relacionamento, Dalva engravidou e teve Pery. A cantora se desdobrava entre as apresentações, os cuidados com a casa e com o filho. Além disso, aguentava as noitadas de Herivelto, um boêmio inveterado. Dalva costumava enfrentar tudo com muita frieza, mas quando se desentendiam, as brigas eram violentas e eles acabam se agredindo. Herivelto se apaixonou e manteve um caso com uma aeromoça até o fim do casamento, em 1949. Apesar de tentarem se manter juntos por causa do Trio de Ouro, Dalva desistiu e começou carreira solo em Belém, acompanhada pelo pianista Vicente Paiva.

A partir daí as ofensas tornaram-se públicas. Herivelto começou a escrever músicas que demonstravam toda sua fúria. Dalva respondia. Logo em seguida vinha outra composição do cantor. O público sofria ao acompanhar as desavenças do casal.

Em 1951, Dalva foi eleita Rainha do Rádio. No entanto, a separação causara-lhe um enorme prejuízo. Dalva exagerava da bebida para compensar a tristeza. A cantora voltou a se casar, dessa vez com Tito Clemente. O casal passou três anos em Buenos Aires, mas a diferença entre a formalidade de Tito e a descontração de Dalva fez com que o casamento acabasse depois de 14 anos. O alcoolismo de Dalva também influenciou bastante na separação. A cantora morreu em 1972 de cirrose hepática.

Elizete Cardoso
;Saudade torrente de paixão/ Emoção diferente/ Que aniquila a vida gente/ Uma dor que não sei de onde vem;
Canção de Amor (Chocolate e Elano de Paula)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
Elizete Cardoso teve que começar a trabalhar cedo para ajudar a família, que vivia em condições financeiras difíceis. Foi balconista, cabeleireira e trabalhou numa fábrica de sabão. No aniversário de 16 anos, recebeu Pixinguinha e outros músicos, levados por seu tio Pedro. Sem cerimônia, a moça cantou, encantou os convidados e foi requisitada para se apresentar na Rádio Guanabara, onde passou a comandar um programa semanal.

Além de fazer sucesso ao microfone, Elizete era namoradeira. Entre os vários namoricos que teve, o mais famoso foi com Leônidas da Silva, jogador da Seleção Brasileira de Futebol, conhecido como Diamante Negro. O caso acabou por causa da proibição do pai de Elizete.

A cantora se apresentou por várias cidades brasileiras. Numa das viagens, conheceu o cavaquinista Ari Valdez, com quem se casou. A união durou pouco mais de dois meses. Mesmo grávida, Elizete quis se separar e passou a trabalhar no Dancing Avenida, um lugar considerado de respeito. De dançarina, passou a cantora e depois foi convidada para ir a São Paulo, onde ficou um ano.

De volta ao Rio, conheceu Evaldo Rui, com quem começou a namorar, mesmo ele sendo casado. Em 1954, Evaldo se suicidou. Além da dor da perda, Elizete teve que suportar as insinuações de que ele havia se suicidado por causa dela. Elizete morreu em 1990 de um câncer no estômago.

Nora Ney
;Eu gosto tanto/ Do carinho que ele me faz/ Faz tanto bem/ O beijo que ele me traz;
Menino Grande (Antônio Maria)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
Nora Ney foi incentivada a entrar para a carreira artística pelo pai, Dárcio Custódio Ferreira. O primeiro passo foi lhe dar um violão, que ela aprendeu a tocar sozinha. Ainda jovem, frequentava as rádios Cruzeiro do Sul e Mayrink Veiga. Dava preferência às músicas norte-americanas, pois julgava que elas combinavam mais com a sua voz.

O nome verdadeiro de Norma era Iracema de Sousa Ferreira, que logo jovem se casou com Cleido Maia, comunista ferrenho. Cleido era alcoólatra, agressivo e vivia com outras mulheres na rua. As brigas domésticas renderiam um dos famosos capítulos da vida da cantora.
Dias antes de lançar um disco, Nora foi internada em estado grave depois de tomar uma dose cavalar de barbitúricos. O fato foi estampado em todos os jornais. Até hoje o episódio não foi esclarecido. Há quem diga que ela tentou se suicidar, outros acreditam que foi apenas um golpe publicitário para aumentar as vendas do disco que seria lançado.

O casal se separou e o novo amor de Nora viria mudar a vida dela. Ela conheceu o cantor Jorge Goulart no Copacabana Palace e, a partir daí, tornaram-se indissociáveis. Além de companheiros de trabalho, os dois eram comunistas. Foram os primeiros cantores brasileiros a se apresentar na União Soviética. Também sofreram juntos a repressão da ditadura e passaram seis anos exilados no Leste Europeu. Nesse período, Nora tornou-se alcoólatra e só conseguiu se curar com a ajuda dos Alcoólicos Anônimos. Depois de voltarem ao Brasil, os dois tiveram sérios problemas de saúde. Nora sofreu um derrame que lhe atingiu as cordas vocais e encerrou de vez sua carreira. Ela morreu no dia 28 de outubro de 2003 decorrente de falência múltipla de órgão causada por um câncer generalizado.

Linda e Dircinha Batista
;Quero morrer no carnaval/ Na avenida Central/ Sambando/ O povo na rua cantando/ O derradeiro samba/ Que eu fizer chorando;
Quero morrer no carnaval (Intérprete: Linda; autores: Luís Antonio e Eurico Campos)

;Hoje, eu não quero sofrer/ Hoje, eu não quero chorar/ Deixei a tristeza lá fora/ Mandei a saudade esperar/ Hoje, eu não quero chorar/ Quem quiser que sofra no meu lugar;
O primeiro clarim (Intérprete: Dircinha; autores: Klécius Caldas e Rutinaldo)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
A vida das irmãs Linda e Dircinha (foto) Batista foi marcada por muito sucesso, ostentação e um triste fim. As duas começaram a cantar ainda crianças. Dircinha subiu ao palco pela primeira vez aos 6 anos. Aos 8, já tinha gravado o primeiro disco. Linda compôs a primeira música com 10 anos. Ambas se destacaram em programas de rádio e viajaram o Brasil fazendo shows.

Receberam enormes cachês, que sustentavam os luxos das irmãs. Tinham 14 carros na garagem, vários imóveis, colecionavam joias e viagens internacionais. Eram as preferidas de Getúlio Vargas.

As duas gostavam de bebidas e jogos e alimentavam uma enorme rivalidade com Emilinha Barbosa. As fãs das cantoras chegavam a se agredir fisicamente. Com a intervenção militar na Rádio Nacional, em 1960, as cantoras começaram a sofrer com a falta de convites para cantar. Dircinha encerrou sua carreira como repórter, cobrindo bailes de carnaval.

No fim da vida, elas venderam todos os bens para pagar contas e comprar comida. O único amigo que restou, o cantor José Ricardo, as ajudou como pôde. Abandonadas, as irmãs sofreram inúmeras doenças e até desnutrição. Dircinha caiu em depressão e morreu em 1999. Linda havia morrido 11 anos antes, em 1988.

Isaurinha Garcia
;Quando o carteiro chegou/ E o meu nome gritou/ Com uma carta na mão/ Ante surpresa tão rude/ Não sei como pude chegar ao portão;
Mensagem (Aldo Cabral e Cícero Nunes)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
Isaurinha ficou conhecida por sua postura adiantada para o seu tempo. Falava palavrões, bebia, fumava e amava apenas pelo prazer de se sentir desejada. A carreira começou ainda criança, quando cantava de mesa em mesa no bar do pai ou enquanto ajudava a mãe a engarrafar vinhos. No futuro, ficaria conhecida como a rainha do samba-canção. As músicas que interpretava eram marcadas pelo forte sotaque italiano do Brás, onde nasceu, e da Mooca.

Um dos episódios famosos da cantora foi a briga com sua amiga Dalva de Oliveira. Sempre que ia ao Rio de Janeiro ficava hospedada na casa de Dalva e Herivelto. Um belo dia, a irmã de Dalva pegou Isaurinha e Herivelto na cama. Quando Dalva chegou em casa, foi tapa para todo lado. O resultado foi um ferimento na cabeça de Herivelto, feito com um cinzeiro, e todas as malas de Isaurinha na rua.

Isaurinha teve muitos namorados e se casou com Walter Wanderley. Foi um relacionamento conturbado, o ciúme da cantora e o alcoolismo do marido somaram-se numa mistura que resultou em brigas, agressões e até numa tentativa de suicídio por parte de Isaurinha. Sete anos depois de se conhecerem, Walter trocou Isaurinha por Claudette Soares. A cantora morreu em 1993 de insuficiências cardíaca e renal. Nos últimos anos, viveu cercada de cachorros, gatos e do papagaio Lourinho.

Inezita Barroso
;Co;a marvada da pinga é que eu me atrapaio/ Eu entro na venda e já dou meu taio/ Pego no copo e dali num saio/ Ali mesmo eu bebo ali mesmo eu caio/ Só pra carregá é que eu dô trabaio, oi lá!”
Moda da pinga (Raul Torres e Laureano)
Com base no livro As divas do rádio, a Revista mostra um pouco da trajetória e das histórias curiosas de cantoras que arrebataram o coração dos brasileiros por décadas
Inezita Barroso é a única das divas do rádio que ainda está em atividade. Há 30 anos, apresenta o programa Viola Minha Viola, na TV Cultura de São Paulo. Além de cantora, é uma estudiosa da música popular brasileira e dos mais diversos ritmos oriundos das manifestações culturais nacionais. Mais do que profunda conhecedora da música de raiz, Inezita é uma defensora ferrenha de toda a cultura brasileira.

Inês Madalena Aranha de Lima começou a cantar e a estudar violão aos 7 anos. Aos 22, passou a encarar a música como uma profissão e se casou com o advogado Adolfo Cabral Barroso. Em 1950, cantou pela primeira vez na Rádio Bandeirante, levada pelo compositor Evaldo Rui.
Nos anos 1960, gravou 40 discos 78 rpm e seis LPs. Além disso, participou de vários filmes e programas de televisão. A carreira de Inezita é marcada por altos e baixos. As oscilações não dependem da cantora, mas do interesse ; ou falta dele ; pela música de raiz.

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