Revista

Conflito religioso

Autor do livro Os tratamentos de fertilização e as religiões, o médico Arnaldo Cambiaghi tenta, com sua experiência, ajudar os casais que têm dúvidas sobre o que é permitido ou não sob a ótica de suas religiões

postado em 28/01/2011 18:55
Além de lidar com a angústia de saber se o tratamento de fertilização vai dar certo, muitos casais enfrentam os conflitos religiosos. Não sabem se os procedimentos para engravidar contrariam ou não os princípios da religião que seguem. Pensando em ajudá-los, Arnaldo Cambiaghi médico especialista em reprodução humana e responsável pelo Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, em São Paulo, acaba de lançar o livro Os tratamentos de Fertilização e as Religiões ; O permitido e o proibido.

Por que escrever o livro relacionando a fertilização com as religiões?
O livro é inspirado no dia a dia do atendimento às minhas pacientes que sofrem, junto aos seus maridos, dos problemas de infertilidade. Essa rotina, que me deixa conectado ao conceito de que os seres humanos são dotados de corpo e alma, provoca em mim reflexões permanentes e acaba me inspirando na pesquisa de assuntos que pouco ou mal conheço. Por isso a necessidade de escrever este tema.

O senhor fala que a religião, independentemente de qual seja, pode interferir na decisão de um casal ao recorrer a um tratamento de fertlização. De que forma as crenças conduzem o emocional dessas pessoas?
Como se não bastassem os problemas de saúde reprodutiva, físicos e funcionais, muitos casais ainda enfrentam as dúvidas e interpretações conflitantes de suas religiões: o proibido, o permitido e o interpretativo. A intensidade desses sentimentos é tão grande que me inspiraram nesta iniciativa de estudar as religiões, dentro dos limites cabíveis para um médico. Não sou um teólogo, mas li muito. Consultei várias vezes a Bíblia, teólogos, depoimentos de religiões variadas, li várias vezes o Catecismo e as Encíclicas Papais.

O que o senhor criou o termo Biorreligião. O quer quer dizer exatamente?
No meu caso, médico da reprodução humana, o binômio vida-religião, que agora chamo de Biorreligião, é essencial para o entendimento dos casais. O termo, até o momento, não existe no dicionário brasileiro nem na internet, é uma criação minha. Pode ser traduzida como a responsabilidade e o respeito dos médicos e embriologistas à religião das pessoas envolvidas nos tratamentos ligados à vida.

Como médicos e profissionais da área de fertilização podem ajudar as pessoas que, por causa de preconceitos ou crenças, ficam em dúvida e muito ansiosas na hora do tratamento?
Deverão se adaptar a elas. A ciência é fundamental, mas nunca deve se sobrepor à fé e à religiosidade das pessoas. Os tratamentos podem ser eficientes e ajustados às restrições religiosas de cada um.

O que podemos dizer que mudou ao longo dos anos em relação ao comportamento das famílias que precisam da medicina para engravidar? Diminuiu o preconceito e o medo?
O preconceito diminuiu à medida que o número de crianças nascidas por essa técnica aumenta. A mídia ajuda muito, divulgando novas técnicas e o progresso dessa ciência.

De todas as religiões, com qual o senhor mais se impressionou na relação que mantém com as técnicas de reprodução assistida?
A religião que mais me impressionou foi o Judaísmo, pois demonstrou muito conhecimento das técnicas de reprodução assistida, ao contrário das demais, que proibiam, mas não sabiam as diferenças entre fertilização in vitro ou inseminação intrauterina, por exemplo. Uma delas até acreditava que embriões eram descartados e que o sexo do bebê poderia ser escolhido, o que sabemos que é proibido.

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