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"O sapato transforma o corpo da mulher"

Em Brasília para visitar o local onde será sua loja, o designer fala à Revista sobre como a arquitetura influencia seu trabalho e explica por que as mulheres amam o acessório

postado em 25/02/2011 16:31

Em Brasília para visitar o local onde será sua loja, o designer fala à Revista sobre como a arquitetura influencia seu trabalho e explica por que as mulheres amam o acessórioSe tem um homem que agrada ; sem discussões ; a todas as mulheres, o nome dele é Christian Louboutin. O designer dos sapatos de sola vermelha já conquistou Angelina Jolie, Oprah Winfrey, Sarah Jessica Parker, Nicole Kidman e Victoria Beckham. Pessoalmente, no entanto, ele não deixa transparecer tal poder. É um homem de fala baixa, despretensioso, veste jeans e camiseta ; e tênis! Ele agrada à realeza, às mulheres ousadas e às estilosas. Nos anos 1990, trouxe de volta à moda os saltos agulha, as botas altas e os spikes (detalhes em metal) no sapato.

Ele começou a produção em 1991, na França, e, em 1992, abriu sua primeira loja em Paris. Mas o que fez sua marca se transformar em um objeto de desejo foram as solas vermelhas. Depois de ser considerado pelo Luxury Institute por três anos consecutivos a marca de sapatos mais desejada do mundo, ele desembarca em Brasília. Ainda este semestre vai abrir uma loja no Shopping Iguatemi, a segunda dele no Brasil ; a outra é em São Paulo. Um par de sapatos deve custar em média R$ 2.350. Na última quarta-feira, ele veio à capital para conhecer o espaço que sua loja vai ocupar no Shopping Iguatemi, participou de um jantar em sua homenagem e cedeu uns minutinhos à Revista. Confira o bate-papo.

Por que você escolheu Brasília para receber a sua segunda loja no Brasil?
Sempre fui obcecado pela arquitetura de Brasília, estava louco para conhecer a cidade. Quando andei pela Esplanada, fiquei impressionado: é exatamente o que tinha em mente. É realmente lindo. Eu conheço muito bem a arquitetura de Oscar Niemeyer, sou fã do seu trabalho desde os 15 anos. Muitas vezes, quando você escolhe uma cidade para fazer negócios, essa decisão é baseada em mercado. Mas eu sou seduzido pelas cidades e lugares que eu gosto. Brasília fazia sentido por conta do mercado e por ser uma cidade grande. Mas, para mim, fazia sentido porque eu tenho prazer de ir aos locais onde eu tenho lojas. É uma desculpa para ir visitar as minhas lojas e ficar orgulhoso delas. Quando você faz o negócio da maneira certa, você quer que dê certo.

A loja de Brasília vai ser diferente das outras?
Todas são diferentes. Alguns elementos das lojas ao redor do mundo são iguais, outros são específicos. Aqui, estou sendo mais detalhista. Vou usar uma estampa nas paredes que é uma sombra de plantas em uma parede branca. Em Brasília, se tem tantas paredes brancas com sombras bem certinhas... Acho que vai dar uma ideia da cidade. O forte de Brasília é este: a força da arquitetura refletida na natureza e a natureza refletida em linhas muito curvas.

Você desenha as suas lojas?
Eu trabalho com três arquitetos, mas definitivamente me envolvo com processo. Costumo comprar objetos e os incorporo às lojas. Não tenho tempo para me envolver nos pormenores do projeto, mas sou uma parte importante do processo. Por exemplo, aqui eu realmente estou tentando ter o mínimo de ângulos possíveis e mais curvas. Acho que a arquitetura de Niemeyer é isso: curvas limpas.

Como a arquitetura influenciou o seu trabalho?
Com muitos elementos. Tenho três arquitetos favoritos. O primeiro lugar é o Niemeyer, depois o arquiteto mexicano Luis Barragán e depois o egípcio Hassan Fathy. O único ainda vivo é Niemeyer. O elemento mais importante da arquitetura para mim, depois do clima, são as sombras. Elas sempre fazem parte de uma arquitetura acolhedora. A relação que esses arquitetos têm com a natureza é muito interessante. Veja Niemeyer, por exemplo, ele sempre se preocupou com o paisagismo de suas criações. Fathy também se preocupa com isso e ele ainda pensa na sombra como elemento importante. E Barragán tem aquelas paredes com cores fortes onde você vê o reflexo de água, por exemplo. Os três gostam de trabalhar com curvas e têm muitas projeções. Eu adoro transferir isso para sapatos.

A coleção que vem para Brasília também tem detalhes específicos?
É sempre difícil no início, pois ainda não estou familiarizado com a realidade do local. Cada cidade tem as suas especificidades. Como Brasília é a capital, isso a torna muito política, como Washington. Posso dizer que nem todos os modelos vão ser divertidos. Aqui, tem que se acrescentar sapatos mais formais e peças para recepções políticas. As pessoas têm que ser mais formais. Vamos colocar cores, mas também vamos colocar peças neutras.
Em Brasília para visitar o local onde será sua loja, o designer fala à Revista sobre como a arquitetura influencia seu trabalho e explica por que as mulheres amam o acessório
Você começou a sua paixão por sapatos quando começou a frequentar bares com showgirls. O que ainda existe de elementos dos sapatos delas no seu trabalho?
Nos ensaios, as showgirls desciam e subiam as escadas várias vezes. Uma das características clássicas é que elas sabem descer lindamente as escadas. Quando você desce uma escada, você vai olhar para o seu pé e para as escadas. Mas as showgirls olham para frente. Elas não veem o que acontece com os pés. Por isso, elas treinam tanto a descida. Esse movimento das pernas é superimportante para elas. Quanto aos sapatos, as showgirls querem ter atenção para o tronco, as pernas têm que ficar nuas. Elas precisam que o sapato suma, mas que as elevem ao máximo. O sapato tem que ser bonito, mas ele precisa desaparecer. Quando você olha para a perna de uma mulher, ela começa no decote do biquíni e termina com a cava da frente do sapato. Se a cava é grande, a perna aumenta de tamanho. Por isso, as showgirls sempre usam sapatos bem cavados aparecendo o começo dos dedos dos pés. Esse foi um dos primeiros truques que eu aprendi com elas. O segundo foram as meia-patas. Ninguém quer ver o tamanho do salto que uma mulher está usando. Por isso, coloquei-as para dentro do sapato. Assim a mulher pode andar, dançar e se divertir sem se preocupar com o sapato.

Com essas características, você acabou criando um estilo que inspira outros estilistas. Essa cópia é interessante para você como designer?
Quando a silhueta é copiada, eu tomo como um elogio. Quando copiam a sola vermelha, me irrita. Mas ainda é muito estranho quando eu vejo uma cópia exata. Fico surpreso como alguém copiaria o design de outra pessoa. Parece uma extensão do seu trabalho. Eu estava em um mercado de rua em Kyoto e vi uma cópia exata de um sapato que eu tinha feito. Isso foi engraçado. Ele foi feito de um jeito muito barato, mas todos os detalhes do meu sapato estava lá. É bom ver que o que você cria é transportado para lugares que você nunca imaginaria.

Por que o sapato faz a mulher sexy?
Ele traz uma atitude para as mulheres, muda a linguagem corporal. A mulher ganha consciência do seu corpo e ela mesma se deixa ser sexy. Entendo que muitas mulheres não gostam de usar salto o dia inteiro. A maneira como você anda e se move vai mudar. A atitude que o salto dá é mais divertida.

Então você acredita que apenas o salto desperta o lado sexy das mulheres?
Normalmente, sim. Mas há mulheres sem salto e super sexy. O exemplo clássico é Brigitte Bardot nos anos 1960, com as sapatilhas bailarinas. Bardot é definitivamente uma mulher que sempre usou sapatilhas. O jeito que ela andava era como de uma pantera. Mas, se você pensar, o sapato dela era muito decotado na frente. O pedacinho dos seus dedos estava sempre à mostra. Então, tem alguma coisa de nudez. O sapato dela tinha um lado sexy. O primeiro decote é na região dos seios, o segundo é no pé, onde só o início dos dedos aparece. As pessoas se surpreendem com esse decote. Nos dois primeiros anos que abri a minha loja em Paris, eu ficava observando as mulheres dizendo que não conseguiam usar o decote nos sapatos porque elas se sentiam nuas. Mas eu nunca entendi isso. Sandálias, por exemplo, expõem muito mais os pés. Mas essa parte do pé evoca alguma coisa sexy. Algumas mulheres ainda são resistentes a isso. E eu entendo, todo mundo é diferente.
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Os sapatos também despertam o lado sexy dos homens?
De forma alguma. Você tem muitos exemplos em fotografias e pinturas de 100 anos atrás que mostram uma mulher nua com sapatos. Você olha e não pensa: ;Que estranho ela estar nua e com sapatos;. O sapato não anula a nudez, ele ajuda a criar a cena. Quando um homem está pelado e de sapato, é estranho. Não vai trazer nenhuma sensualidade à imagem. A sensualidade do sapato está ligada ao feminino. O sapato feminino se integra à silhueta, o sapato masculino marca uma presença mais forte. É como se uma mulher estivesse nua com um chapéu. É estranho. Quando uma mulher está nua e com sapatos, você nem precisa mencionar os sapatos. Faz parte da imagem. Já o sapato masculino não desaparece.

Você é o maior especialista em sapatos do mundo. É a melhor pessoa para responder: por que as mulheres amam sapatos?
O sapato transforma o corpo das mulheres. Ele não é só conectado com o pé, ele está conectado a toda a silhueta. Quando você vê uma mulher comprar sapatos, ela vai ao espelho e olhar para o corpo. Ela não olha para o sapato. Ela se vira, olha as costas, a bunda, o tronco. Se ela gostar da postura que ela ficou, aí ela olha para o sapato. Quando uma mulher vai comprar um sapato, ela está remodelando o seu corpo. Não é só pelo sapato. É como a postura dela fica com aquele sapato. É toda essa atitude que explica porque as mulheres amam sapatos. É uma questão de feminilidade.

É claro que o seu sapato é o sucesso. Mas você acredita que as celebridades ajudaram você a alcançar esse sucesso mais rapidamente?
É muito bom quando as celebridades te escolhem. Essas meninas podem consumir o que quiserem de qualquer lugar do mundo. Se você é escolhido por muitas dessas mulheres, significa que você fez um trabalho bem-feito. Afinal, elas têm que estar sempre impecavelmente lindas. Isso significa que as pessoas se sentem bem nas peças que eu crio. Isso é um bom sinal. É claro que ajuda. Exposição sempre ajuda.

Tem alguma mulher que já te inspirou a desenhar um sapato?
Muitas pessoas já me inspiraram. Elas podem estar em cima do palco ou nos filmes e musicais que eu sempre amei. Mas tem uma pessoa que sempre volta no meu trabalho. Não toda temporada necessariamente, mas com frequência. É a Tina Turner. Porque Tina tem pernas lindas, é uma grande intérprete, é uma excelente cantora e sempre está dançando em cima do palco. A voz dela encanta, mas o jeito que ela se mexe é mais impactante. Estou frequentemente desenhando e pensando na Tina Turner. Não é necessariamente para ela, mas a atitude e o jeito que ela se mexe me inspiram. As pessoas me inspiram de várias maneiras. Algumas pessoas são pela elegância, outras pelo jeito que elas se mexem, do jeito que elas são e até o jeito que elas falam. Mas a minha inspiração principal são as mulheres.

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