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De bem com a vida

Linda aos 59 anos, bem casada e trabalhando a todo vapor, atriz fala sobre a carreira, o processo de envelhecimento e os vários projetos: "Estou sempre fazendo planos"

postado em 03/03/2011 17:32

Não dá para negar uma certa inveja ao observar a atriz Ângela Vieira no teatro, na TV ou caminhando pela calçadão de Ipanema. Mesmo que não tenha idade para ser a garota dos versos de Tom e Vinícius, ela é, sem sombra de dúvidas, uma bela carioca a esbanjar beleza em curvas que não se perderam ao longo de três décadas de carreira. Musa e mulher do cartunista Miguel Paiva, a atriz, que já foi bailarina do Teatro Municipal do Rio, acabou de completar 59 anos em 3 de março. Nas vésperas do aniversário, de passagem pela capital para participar do projeto Escritores brasileiros, no Centro Cultural Banco do Brasil, ela conversou com a Revista. Mas Ângela deve voltar à cidade ainda neste semestre para apresentar o elogiado espetáculo O matador de santas, peça que co-produziu e na qual atua, após quatro anos longe dos palcos, sob direção do amigo Guilherme Leme.

Discreta e tímida, a atriz se soltou aos poucos durante o bate-papo. Falou com bom humor sobre o passar do tempo e abriu um sorriso ao falar sobre a felicidade de ter encontrado o grande amor aos 50 anos de idade. Sem pestanejar, Ângela assume que ainda há mais desafios e projetos porvir. ;A gente está aqui para produzir, ousar, se experimentar. Como disse o Guilherme durante os ensaios: ;Pula e reza para o para-quedas abrir; ou para que você crie asas;. É assim que acho que devemos viver. Assim fica mais interessante;, aconselha.
Linda aos 59 anos, bem casada e trabalhando a todo vapor, atriz fala sobre a carreira, o processo de envelhecimento e os vários projetos:


Atriz improvável
;Comecei a carreira de atriz aos 26 anos, tarde para os moldes brasileiros. Troquei de profissão: era bailarina profissional, terminei faculdade de programação visual, depois cortei isso tudo, fui fazer teatro e televisão também. Mas eu não fiz escola de teatro. Minha escola foi de dança e de programação visual. Fui aprendendo conforme fui fazendo. Fui tentando me informar, assisti ao máximo possível de peças em que atores que tinha como referências faziam. Muitas vezes, fui a São Paulo para ver espetáculos que não estavam em cartaz no Rio de Janeiro. Enfim, fui fazendo, fazendo e fazendo. Tenho muito o que fazer ainda e vou morrer aprendendo, mas acho que tenho uma carreira feliz para quem não teve uma formação tradicional. Na biografia do Tonico Pereira, ator e amigo que está comigo no elenco e a quem admiro muito, o subtítulo é: ;Um ator improvável;. Parafraseando o Tonico, eu era uma atriz improvável também. Evidentemente, fico com a sensação de que estou indo na direção do dever cumprido. Acho que era isso mesmo que eu tinha que fazer e me considero muito feliz por sobreviver ; e dignamente ; com a carreira que escolhi. Não é um trabalho, é um deleite.;

Longe do holofotes
;Consigo me preservar e sou muito tímida. Quem me conhece morre de rir, porque não levo essa timidez para o meu trabalho senão estou ferrada (risos). Pelo contrário, tenho que ser ousada e despudorada. Mas minha vida particular não tem nada de atraente, tenho uma vida absolutamente normal. Sou casada, tenho minha filha, cuido da minha casa, tenho meus amigos; Nunca mostrei minha casa, salvo uma vez num programa da TV, mas nunca gostei de mostrar minha casa para quem não conheço. Não acho que devemos nos expor assim. Consigo muito bem separar as coisas.;

Caseira ou festeira?
;Estou ficando caseira porque a serra me roubou muito da rua. O Miguel já tinha uma casa na serra quando a gente começou a namorar. Lá, é extremamente prazeroso, no meio do verde, muito calmo. Tenho um jardim que cuido; Adoro minhas flores. Nossos amigos vão muito para lá. Então, esse cenário está me tirando da badalação. Há três anos estou me escondendo do carnaval. Fujo dos blocos quando eles são perto da minha casa, até porque perto de onde moro passa o bloco Suvaco de Cristo. Mas eu já desfilei muito. Saí na Grande Rio, Imperatriz, Viradouro, Mocidade há muitos anos. Saí no chão, no carro, de noite, de dia e agora não tenho mais paciência para ir aos ensaios. Só este ano eu fico no Rio para ver minha filha sair na bateria da escola de samba São Clemente. A escola subiu pela primeira vez, então tenho que ir para o camarote ver minha filha tocar o surdo (risos).;

De bem com a vida
;Acho que à medida que você vai envelhecendo ; as pessoas não gostam de usar esse verbo, mas a palavra é essa ; vai tendo mais dificuldade para manter a dignidade (risos). Fica tudo mais difícil, porque você não pode fazer certas coisas, e é preciso fazer conchavos para ficar legal. Por exemplo: não posso mais correr 10 quilômetros depois que me machuquei, não dá mais para tomar vinho toda semana porque eu fico inchada, o metabolismo é outro e tudo responde de uma outra forma. Isso às vezes chateia, mas é muito melhor do que estar com a saúde ruim. Então esses conchavos a gente tem que fazer para o resto da vida, mas isso é um detalhe. Acho que não queria mudar nada em mim. Sempre achei que o ser humano tem quase a obrigação de ir em busca da felicidade. Porque tudo passa muito rápido.;

Sexy aos 60
Linda aos 59 anos, bem casada e trabalhando a todo vapor, atriz fala sobre a carreira, o processo de envelhecimento e os vários projetos: ;Claro que eu tenho todos os problemas que todas as mulheres têm. Fico pensando: ;Meu Deus, não posso me enrugar porque vou ter que desembolsar uma grana para a cirurgia plástica (risos). O que faço é cuidar da minha saúde e do meu corpo desde pequena. O balé me deu essa disciplina. Além disso, há a genética da qual me privilegio. Essa jovialidade que as pessoas falam que tenho, eu vejo na minha mãe. Ela tem 87 anos, mas você olha para ela é pensa que tem 10 anos menos. Depois, a pele morena é mais generosa (risos). Minha alimentação é equilibrada e eu adoro comer. Como de três em três horas, mas trato a alimentação de forma gentil. Não como fritura nem farinha branca, só farinha integral, não gosto muito de doce, tomo meu vinho no fim de semana, mas sem exageros. Faço exercício regularmente: corro dia sim, dia não cinco quilômetros, faço hidroginástica e musculação. As aulas de dança não fazem mais parte da minha rotina, mas Miguel e eu adoramos dançar. Recentemente, um amigo nosso abriu um lugar chamado Le Boate no Rio de Janeiro. O slogan é ;desaconselhável para menores de 40 anos; (risos). Então é para a gente mesmo;;

Um homem para chamar de seu
;Me apaixonei aos 50 anos por uma pessoa que conheci há 20 anos. E está sendo um casamento fantástico. Sei que é difícil para uma mulher brasileira de 50 anos começar a namorar. Outro dia, numa roda de amigas, falamos que os homens interessantes e ;disponíveis; são gays: gentis, cultos, bem-humorados, cuidadosos; Mas, infelizmente, não gostam de comer a gente (risos). Esse é o problema. Então, não há homem para a mulher brasileira depois dos 40 anos de idade. Por isso, digo que meu encontro com o Miguel foi bárbaro. Ele já era um dos meus melhores amigos.;

O porvir;
;Meu casamento é maravilhoso, minha filha está bacana, minha mãe está com saúde, meu trabalho está ótimo. Ou seja, não tenho do que me queixar. Estou sempre fazendo planos. Não consigo parar de trabalhar. As férias são bem-vindas por um tempo curto porque a gente está aqui para produzir, ousar, se experimentar. Como disse o Guilherme durante os ensaios: ;Pula e reza para o para-quedas abrir; ou para que você crie asas;. É assim que acho que devemos viver. Assim fica mais interessante.;

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