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À beira do ponto de não retorno

As perspectivas não são otimistas quando o assunto é meio ambiente. A solução passa por um choque em nosso padrão de consumo energético

postado em 31/03/2011 17:34
As perspectivas não são otimistas quando o assunto é meio ambiente. A solução passa por um choque em nosso padrão de consumo energético
As perspectivas não são otimistas quando o assunto é meio ambiente. A solução passa por um choque em nosso padrão de consumo energéticoQuando o que está em jogo é a própria viabilidade da espécie humana, as palavras não são gentis. O planeta assiste mais ou menos passivo a uma catástrofe que não respeita fronteiras, com efeitos devastadores sobretudo entre os mais pobres. Por enquanto, esses sãos os termos para definir o pior dos cenários, ou seja, o de inércia. O quadro positivo existe, mas, como veremos, é condicional.

;A questão mais urgente é a da economia dos recursos naturais. A gente precisa avançar na busca de outras formas de desenvolvimento que não estejam baseadas no consumo ilimitado;, resume Adriana Ramos, secretária-executiva adjunta do Instituto Socioambiental (ISA), Oscip atuante desde os anos 1990. A reação ao crescimento predador tem três escalas: a individual, a governamental, a global.

A primeira passa por uma mudança cultural. ;É diminuir a necessidade de trocar de celular a cada modelo novo, de trocar de carro a cada ano. É tornar os bens mais duráveis e diminuindo a nossa pegada ecológica;, indica a especialista. A segunda dimensão depende de vontade política e se traduz em investimento em experiências pioneiras que reduzam o impacto sobre o meio ambiente, e também no estímulo a prestação de serviços ;limpos; e lucrativos, como o ecoturismo.

Nesse aspecto, o Brasil goza até de uma certa vantagem. ;O país tem hoje uma base de recursos naturais inigualável no mundo em relação a água, florestas e diversidade de produtos. Tem também um povo criativo e empreendedor. O que demanda aí é um investimento em escala para fazer essas pequenas iniciativas se tornarem majoritárias;, avalia Adriana, citando o exemplo do carro flex, movido parcialmente a álcool, combustível bem menos poluente do que a gasolina.

Todavia, os temores se concentram na terceira esfera decisória. Interromper a depredação do meio ambiente implica no câmbio da matriz energética mundial. Qual é a chance de presenciarmos isso a curto prazo? ;É próxima de zero;, enfatiza o professor Virgílio Arraes, professor de histórica contemporânea da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em política norte-americana. ;A possibilidade de a humanidade adotar hoje fontes alternativas de energia é muito baixa. Provavelmente, só se deve dedicar mais atenção ao assunto quando os recursos vindos da energia fóssil ; petróleo e gás ; estiverem mais próximos da extinção, o que deve ocorrer entre 2020 e 2025.;

O tom sobe ainda mais um pouco quando nos deparamos com o tema das mudanças climáticas. ;Talvez seja o maior desafio ambiental do século 21;, alerta Carlos Rittl, coordenador do Programa Mudanças Climáticas e Energia da ONG WWF-Brasil. ;O problema traz uma série de agendas que precisam ser enfrentadas. Significa falar de água, de agricultura, de eventos extremos provocando perda de vidas e perdas econômicas, provocando alterações na superfície do planeta;, enumera.

Novamente, não há respostas prontas. ;Tem a questão da equidade, de como dividir as responsabilidades entre países e entre diferentes setores. Do indivíduo às grandes empresas, das comunidades rurais aos grandes produtores, trata-se de como engajar os diferentes atores na busca de soluções. Isso para a redução das emissões globais (de CO;), para os compromissos a serem assumidos e também para as estratégias a serem adotadas para o que teremos de enfrentar mesmo no melhor cenário, ou seja, adaptação. É uma questão de sobrevivência.;

AGENDA GLOBAL


>> Leia a íntegra desta matéria na edição 307 da Revista do Correio.

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