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Pele em laboratório

O médico Alfredo Gragnani Filho explica como a produção de células da pele pode ser uma esperança no tratamento de queimaduras

postado em 29/04/2011 12:35

Ainda mais complicado é quando a queimadura não deixa sobras de peles saudáveis para serem retiradas de um local e enxertadas em outro. Para solucionar esses casos, há estudos feitos por pesquisadores brasileiros, que tentam criar em laboratório culturas de queratinócitos, as células responsáveis por produzir, por exemplo, a camada superficial da pele, a epiderme. Um deles é o Laboratório de Cultura de Células da Unidade de Cirurgia Plástica da Unifesp. Em entrevista a Revista do Correio, o médico Alfredo Gragnani Filho, vice-coordenador do laboratório, explica como a produção de células da pele pode ser uma esperança no tratamento de queimaduras.

Quais são, hoje, as possibilidades de substituição da pele humana para tratar pessoas muito comprometidas pelas queimaduras?
Existem alguns produtos que são substitutos dérmicos, mas falta o mesmo para a epiderme. O paciente queimado perdeu a epiderme e derme na queimadura profunda necessita de cobertura definitiva, sem a qual o mesmo continua exposto a infecções e perda de água, eletrólitos e proteína pela ferida. Não existe nenhum produto comercial pronto para uso com essas características.

É possível criar pele humana em laboratório? Se sim, como funciona?
É retirado um fragmento de pele não queimada do paciente na primeira cirurgia, normalmente da região da virilha ou local não queimado, e encaminhado ao laboratório de cultura de células. Por um processo enzimático, a epiderme é separada da derme. Os queratinócitos da epiderme são isolados e colocados em garrafas de cultura e após 2 semanas temos uma proliferação que permite transferir essas células para outras garrafas e assim aumentar o número dessa natureza. O processo possibilita conseguir um número muito elevado de células que serão colocadas sobre um substituto dérmico (derme sem células e sem a epiderme obtida de pele de cadáver, por exemplo). Depois é só fazer a enxertia do material no paciente. Fazemos o processo no nosso laboratório para pesquisa, mas não é voltado para produção industrial.

Como funciona o método que mistura pele de cadáver a uma cultura de queratinócitos?
Em 1997, estive em um laboratório de cultura de células nos Estados Unidos. Eles estavam desenvolvendo o enxerto composto, de derme acelular de cadáver, sobre a qual eram colocados os queratinócitos cultivados do paciente. A pesquisa foi realizada in vitro (em cultura) e in vivo (em ratos que não têm rejeição a células humanas).

O que as pesquisas apontam de avanço para o tratamento de pacientes com queimaduras de grande extensão?
Além do banco de pele de cadáver, do enxerto composto descrito acima, existe a necessidade de aprimorar esse enxerto, pois nele faltam folículos pilosos, glândulas sebáceas e sudoríparas para que a pele tenha a mesma função e mesmas características do que existia antes da queimadura.

E vocês fazem isso no laboratório da Unifesp?
No nosso laboratório de cultura de células fazemos avaliação dos queratinócitos cultivados e também em fibroblastos dérmicos, que participam da cicatrização. Também pesquisamos o estresse oxidativo presente no transplante de pele, a caracterização da população de células tronco da epiderme e em folículos pilosos, e nos mediadores inflamatórios e fatores de crescimento de queratinócitos, em células de pacientes queimados para entender melhor o que acontece ao nível da biologia molecular e possibilitar novas condutas ou uso de medicamentos.

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