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Reino animal

Cuidar de muitos pets é multiplicar a felicidade da casa %u2014 e também a quantidade de cuidados e preocupações

postado em 02/06/2011 18:07

A dentistas Natália Faria e seus amores: Há quatro anos, Natália Faria Paranenko tinha quatro cachorros. Hoje tem oito. Metade deles são cocker spaniels; os outros, vira-latas. O número assusta, mas a dentista de 29 anos tira de letra o trabalho de cuidar de seus companheiros. Bastaram algumas adaptações em sua rotina. ;Eu não posso mais simplesmente decidir que quero viajar. Para isso, é preciso um planejamento enorme. Não posso dormir fora de casa. Tenho uma vida mais regrada. É a mesma coisa de ter filhos;, conta, sem sinal de arrependimento.

Natália coloca em primeiro lugar o bem-estar dos animais. ;Por mim, morava em apartamento. Mas para atender as necessidades deles, sempre procuro casas grandes, com bastante espaço para que não fiquem entediados.; Sua residência atual tem gramado e até mesmo um quarto para os oito cachorros. Ela gasta em média R$ 400 por mês com cuidados básicos ; sempre que algum adoece, as despesas aumentam. A dentista afirma que seus pets nunca tiveram males contagiosos, com uma única exceção. Na ocasião, criou uma área de isolamento especialmente para o bichinho, preservando os demais.

Outra pessoa que não dispensa amor e cuidado com seus animais de estimação é a psicóloga Suzane Faria, 59. Quando perguntada quantos mascotes tem em casa, a resposta vem aos poucos. ;Deixa eu fazer as contas. Tenho 18 gatos... Quatro cachorros... E um hamster. Quer dizer, dos gatos, quatro são meus, os outros 14 moram aqui em condição de lar temporário.; Para cuidar dessa grande família, teve de fazer adaptações em sua casa, inclusive revestir todos os cantos com tela, para evitar a fuga dos gatos.

Se você for contar os queridinhos da psicóloga Suzane Faria, precisará dos dedos das duas mãosFora as dificuldades para viajar, Suzane afirma que a limpeza da casa ficou mais trabalhosa. ;E garanto que aqui não tem mau cheiro.; As idas ao veterinário também se tornaram mais constantes. Nunca pensou em desistir, mesmo com as adversidades. ;Faz pouco tempo que uma gatinha morreu, e eu fiquei muito mal com isso, mas quando olho para os que estão vivos e saudáveis, sinto uma alegria muito grande.;

Pela saúde de todos
Ter muitos animais em casa pode ser uma garantia de companhia para qualquer momento. Mas não se pode esquecer dos cuidados que eles exigem, alerta Sabrina Costa, clínica geral do Hospital Veterinário da UPIS. Para criar vários em um mesmo local, a veterinária ressalta a disponibilidade de tempo para realizar a higienização adequada do ambiente e dos animais, e espaço físico amplo. Outros pontos importantes são a observação da alimentação diferenciada para cada espécie, o uso de medicamentos preventivos contra ecto e endoparasitas, e o conforto. ;A maioria dos cães gosta de camas acolchoadas e brinquedos diversos, já os felinos preferem locais calmos e aconchegantes.;

Antes de tomar a decisão de acolher mais de um pet, em especial se forem de espécies diferentes, deve-se ter em mente o bem-estar do animal. ;É importante que vivam em harmonia, que não ocorram brigas por território e que a curiosidade e os hábitos de um não se tornem motivo de estresse para os demais.; Outro ponto a ser observado é a possibilidade de transmissão de doenças entre espécies. A esporotricose, por exemplo, pode ser transmitida do gato ao cão. Com a escabiose, ocorre o contrário. E as pulgas, bem, são universais.

Os donos também não estão totalmente imunes à companhia animal. Portadores de rinite e asma podem reagir mal à presença de pelos, avisa o alergista Paulo Belluco. A possibilidade de ocorrência de leishmaniose e de toxoplasmose também inspira cuidados. No primeiro caso, cães podem se tornar o hospedeiro do protozoário em questão. No segundo, os felinos. Já a raiva, zoonose perigosa, é incomum em bichos domésticos, mas não deve ser descartada. ;Eles podem, em um momento de descuido, sair de casa e entrar em contato com um foco de contaminação;, diz o veterinário.

Fora do controle
Tratamos nesta matéria do amor sadio pelos animais, mas existem casos de apego patológico. O Hoarding of Animals Research Consortium, grupo de pesquisadores americanos, estuda o chamado acúmulo de bichos de estimação em casa. Os portadores desse distúrbio, primeiramente descrito em 1981, insistem em adquirir pets, embora não sejam capazes de prover o mínimo de nutrição, saneamento, abrigo e cuidados veterinários exigidos. A negligência normalmente resulta em doenças e na morte do animal por fome, enfermidades e feridas não tratadas.

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