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Do Olimpo à capital

Livro tira do baú histórias deliciosas de atrizes e cantoras do jet set internacional que causaram furor durante visitas ao Brasil

postado em 19/08/2011 15:18

Livro tira do baú histórias deliciosas de atrizes e cantoras do jet set internacional que causaram furor durante visitas ao BrasilNo apartamento do mineiro Evânio Alves, 38 anos, em Ipanema, Marilyn Monroe se espreguiça no sofá. A escandalosa beldade de O pecado mora ao lado é quem cumprimenta as seletas clientes que o visagista atende às tardes. A presença da loira nos cômodos da casa reflete a admiração pela atriz, falecida precocemente, aos 36. Uma paixão que o arrebatou quando um amigo, fã da cantora Madonna, perguntou qual seria a diva de Evânio. ;Todo mundo tem que ter uma;, esbravejou ao cabeleireiro. Desconcertado, Evânio se apressou para responder: ;Aquela loira linda da década de 1950; Marilyn!”. Naquele momento, ele leria a primeira biografia de celebridades ; um livro de bolso de banca de jornal ; para, dez anos depois, escrever As divas no Brasil, publicação que inclui Brasília na rota das estrelas.

O livro é resultado do amadurecimento de Evânio, confesso rato de sebo, como colecionador. Ao longo de uma década, ele não parou de consumir páginas e mais páginas de biografias, autobiografias e revistas nacionais e estrangeiras sobre divas do cinema, da música e da dança até formar um acervo de dois mil livros. São publicações sobre as atrizes que brilharam na Broadway e as mais diversas starlets de Hollywood, desde o cinema mudo. Antes de se aventurar na literatura, Evânio começou a escrever uma coluna para a revista semanal Básica, de circulação restrita. Até que um jornal do Rio teceu uma crítica elogiosa à pesquisa do visagista. Foi o suficiente para ele esboçar um livro sobre seu assunto favorito: a visita das divas ao país do futebol e do samba.

Após dois anos de mão na massa, Evânio lançou As divas no Brasil por conta própria. Gastou R$ 100 mil, já que não conseguiu publicá-lo por nenhuma editora. ;Não sou um nome famoso;, justifica. Mas o visagista, que nas horas vagas também se entretém como artista plástico, não tem motivos para se arrepender do investimento. Elogiado por Ruy Castro (O anjo pornográfico e Carmem Miranda) e entrevistado, no último mês, pelo periódico francês Le Monde ; que negocia a publicação do livro em francês, inglês e espanhol ; o mineirinho de bossa carioca mostrou que não brinca em serviço.

Em 551 páginas, ele descreve as peripécias de 80 divas de forma despretensiosa. Entre essas, as loucuras de Josephine Baker, o despudor de Jayne Mansfield, a briga de Maria Callas com o diretor do Theatro Municipal e a visita de Rita Hayworth, aos 47 anos, no primeiro baile de carnaval de Brasília. Em tom de conversa leve, acompanhada de chá e petit four, Evânio não rebusca parágrafos ou confunde os leitores com inúmeras notas de rodapé. No fim, os leitores agradecem o presente: saber, finalmente, o que essas deusas do Olimpo aprontaram por aqui.

Deu no Le Monde
Quando os jornalistas do Le Monde ligaram para o visagista Evânio Alves para marcar uma entrevista, há mais ou menos um mês, ele desconfiou. ;A jornalista falava em português com um sotaque; Ela se identificou, mas achei que fosse brincadeira.; Desfeita a impressão de trote, Evânio ganhou os holofotes do periódico e foi entrevistado e fotografado com pompa. A matéria, que deveria ter sido publicada um mês após a visita dos jornalistas, foi publicada três dias depois na França. A repercussão ainda rendeu a venda de livros ; ;em português mesmo;, orgulha-se o autor ; para leitores francófonos. Resultado: As divas no Brasil está em processo de negociação e deve ser traduzido para três idiomas, em parceria com o Le Monde. ;Agora sim estou chique;, comemora.


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PINGUE//Evânio Alves, visagista, artista plástico e escritor
Livro tira do baú histórias deliciosas de atrizes e cantoras do jet set internacional que causaram furor durante visitas ao BrasilComo foi garimpar esses fatos ;lado B; e reuni-los em livro?
Nas leituras que fazia, sempre que chegava na parte em o Brasil aparece, lia e relia várias vezes. Achava emocionante o fato de as divas terem visitado Brasília durante a construção da cidade, de terem se hospedado no Copacabana Palace. Como bom rato de sebo que sou ; conheço quase todos do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte ; vi que não existia esse tipo de material sobre a passagem das divas pelo país. Consegui comprar todos os livros que preciso, graças a minha profissão de visagista, para essa pesquisa. Vi que as editoras com quem eu marcava reunião, desmarcavam comigo. Não tinha nome como escritor e teria que fazer o livro sozinho. O material que comprei deu de sobra para escrever o livro. Tem mais: minhas clientes são maravilhosas. Elas também me ajudaram com informações. Uma cliente lembra que em 1962 pegou o autógrafo da Vivian Leigh. Ela até me deu. Outra cliente assistiu a Josephine Baker em 1929, no Cassino da Urca, acompanhada pelos pais, e me contou como foi.

E de quantos livros estamos falando? Quantos compõem seu acervo?
Devo ter uns dois mil livros sobre todas as atrizes que pisaram no palco da Broadway e as que apareceram em Hollywood desde o cinema mudo. Tenho um livro tão raro, escrito por um pianista que teve um caso com Isadora Duncan enquanto ela fazia uma turnê na América do Sul, que passei meses negociando para comprá-lo de um colecionador dos Estados Unidos. E se alguma diva lançou biografia, livro de culinária ou qualquer outra coisa, eu comprei. Tem dias que chega um pacote de vinte livros aqui em casa. Não compro roupas nem sou consumista com outras coisas, mas para As divas no Brasil, comprei muitas biografias para ler a opinião de autores diferentes sobre o que elas fizeram no Brasil.

Há uma diva favorita?
Não. Minha favorita é a que estou pesquisando no momento. Logo fico apaixonado por ela. Sinto os fracassos e mágoas dela. É muito envolvente; Mas quando as pessoas vêm aqui em casa, elas acham que a minha favorita é a Marylin. Na verdade, ela é a mais comercial de todas. Já as outras não são tão populares assim. Minha curiosidade sempre foi por saber como elas se tornaram tão importantes numa época em que a mulher era inferiorizada pelo homem. Como elas conseguiam sair do contexto de dona de casa e se tornar grandes estrelas. Vi que todas são muito parecidas: ricas de dinheiro, beleza, sucesso, mas muitos tristes e depressivas. Há sempre um contraste da fama com elas mesmas.

Essa faceta de escritor mudou sua rotina?
É bom lembrar que eu mesmo embalo os livros e gosto de levá-los ao correio para ver se vai tudo direitinho. O tempo, então, ficou apertado. Vou para a academia pela manhã, atendo minhas clientes à tarde e à noite escrevo o próximo livro. Durante a semana, também tenho aulas de francês, inglês, espanhol, piano e web design ; porque quero fazer a diagramação do próximo livro. Ah, ainda faço análise. Já me perguntei o por quê dessa paixão por divas e levei para o analista. Achei que fosse meu lado feminino falando mais alto. Curioso, descobri que não, que era meu lado masculino. Às vezes, falo para meu namorado o quanto eu gostaria de dançar com Rita Rayworth, por exemplo. Daí ele fala: ;Eu, hein?; Descobri que não se trata de querer ser uma diva, mas ser admirador e apaixonado por essas mulheres.

E sobre o que é esse próximo livro? Um volume 2?
Não penso em fazer o volume dois, mas tenho outro livro sobre divas no forno. Dou uma pista: é sobre as divas em um lugar onde ninguém imaginaria que elas iriam. Um lugar corriqueiro. É surpresa! Todo mundo vai gostar desse porque ele vai ser um livro mais abrangente. E aqueles que gostaram de As divas no Brasil vão gostar ainda mais dele. Ia lançá-lo em dezembro, mas depois que saiu a coluna do Ruy (Castro) na Folha, a matéria no Le Monde e em outros veículos, o livro deu uma reviravolta. Vou esperar enquanto ele está em evidencia. Esperar ele esfriar um pouco.

O que caracterizaria uma diva neste século?
Acho que as mulher travaram uma briga com o homem para se colocar em um lugar merecido por elas. Às vezes, elas se perdem e acabam se masculinizando. Esquecem que devem ser femininas. Nesse ponto, as divas do século 20 eram interessantes, porque conseguiram espaço numa sociedade machista com muita feminilidade. No meu trabalho como visagista, encorajo minhas clientes a buscar essa diva interna. Falo mesmo para elas usarem uma roupa que as valorize, que coloquem um batom. Mulher não pode esquecer que é mulher. Todas mulheres têm uma diva dentro de si.

As divas no Brasil, Evânio Alves, à venda na página www.espacodivas.com

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