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O laço que os une

Símbolo de formalidade que sobrevive a modismos, a gravata tem lugar garantido em casamentos e festas mais chiques. Difícil é dar o nó

postado em 30/10/2011 08:00

Por Cecília Garcia especial para o Correio

Símbolo de formalidade que sobrevive a modismos, a gravata tem lugar garantido em casamentos e festas mais chiques. Difícil é dar o nóAndréia Raiane Dias, 22 anos, entrou em uma loja de roupas masculinas atrás de uma camisa social e de uma gravata para o marido. A ocasião especial que exigia um cuidado maior com as vestimentas era o casamento de um primo da moça. A validadora ouviu as opiniões do vendedor. Parou, pensou, separou o que mais lhe agradava e, quando foi pagar, veio a dúvida: "Será que eu vou conseguir fazer o nó quando chegar em casa?".

A hesitação tinha razão de ser. Andréia já havia tentado aprender o bendito laço com vídeos e sites da internet. Tudo em vão. Dessa vez, buscou a ajuda do vendedor. Ele, em poucos minutos, ensinou a Andréia o nó simples. Foi o suficiente para a ocasião. "Dei conta de fazer sozinha, só não sei se, na próxima vez, vou ter a mesma sorte", brinca. O marido da jovem é estagiário. Precisa usar roupas mais formais, mas não chega ao ponto de precisar de gravata. "E ele é muito impaciente. Por isso, nunca aprendeu a dar o nó."

Paciente ; e persistente ; é o servidor público Valter Silva, 24 anos. Desde muito novo, já sabia fazer o nó simples, mas queria aprender mais. Não por desespero ou necessidade, mas por elegância. Procurou em muitos sites, mas sempre era redirecionado para tutorias em forma de diagrama, o que não o agradava. Procurou aprender com os vendedores em lojas de roupas masculinas. Também não deu certo. "Não é algo que se aprende de primeira", conta.

Foi aí que encontrou vídeos no YouTube. E, mesmo assim, teve que fazer uma seleção. "A maioria dos arquivos só mostrava um homem fazendo o nó, sem muitas explicações", afirma Valter. Durante a procura, encontrou um vídeo com cerca de 12 minutos que era bem recomendado. A pessoa do vídeo ensinava bem devagar, passo a passo, como dar o nó. Apesar do nome nada simples da produção ; Nó de gravata bem explicado / descomplicado / fácil ;, o servidor afirma que foi com esse tutorial que conseguiu aprender. "Não que os nós sejam fáceis, mas a maneira como é ensinado é que faz a diferença."

Símbolo de formalidade que sobrevive a modismos, a gravata tem lugar garantido em casamentos e festas mais chiques. Difícil é dar o nóAlgumas décadas atrás, os comportamentos acima seriam considerados absurdos. Afinal de contas, todo adulto que queria ser levado a sério precisava saber dar um bom nó na gravata, conhecer todos os tipos e em que ocasião usar cada um. Para o alívio de alguns, os anos passaram e o pensamento dos mais jovens sobre o assunto mudou. Apesar de que há ainda algumas pessoas que levam muito a sério o assunto.

Nilbertson Lima é um deles. O empresário de 47 anos aprendeu a dar o primeiro nó quando tinha apenas 13. Por influência de seu pai que, segundo ele, usa terno desde "1900 e lá vai fumaça". Foi assim que Nyll, como é conhecido, aprendeu a fazer o nó duplo, seu favorito até hoje. O vestuário era necessário para acompanhar seu pai aos eventos da maçonaria, que exigiam um traje mais sofisticado.

E o conhecimento foi propagado. Tornou-se algo transmitido entre gerações. Assim como aprendeu com o pai, o empresário ensinou ao filho Pedro Henrique, 15. "Ele é galanteador, vaidoso, gosta de andar bem arrumado. Além disso, está naquela época das festinhas de 15 anos dos amigos. Por isso, me procurou para que o ensinasse a atar a gravata", conta. E o tipo ensinado foi o nó duplo.

Sobre as novas gerações, que não se preocupam com essa peça do vestuário, Nyll acredita que, cedo ou tarde, todos os homens acabam aprendendo. Uns por curiosidade, outros procuram em momentos de urgência. Principalmente em Brasília, que é uma cidade muito administrativa. "É uma necessidade de vida. O cidadão casa, tem filhos, passa num concurso público e pronto. Precisa aprender a fazer um nó", opina. O empresário leva o assunto tão a sério que ensinou os funcionários de sua loja como atar bem uma gravata, inclusive as mulheres. "Em ocasiões especiais, o marido precisa e elas que acabam fazendo."

Para não errar mais
Os tutoriais do nó de gravata são campeões de acesso na rede. Mas, como se não bastasse essa facilidade da vida moderna, os aplicativos de celular também assumiram a função de professores virtuais. Um exemplo é o Tie Deluxe. Desenvolvido para sistema Android, ensina o passo a passo de quatorze diferentes tipos de nós. Conta com recurso para salvar o nó favorito e tem a opção de visualizar as etapas de forma ascendente ou descendente. Para auxiliar na hora de fazer e desfazer.

E para os usuários do iPhone e do iPod Touch, o How to tie a tie ensina treze diferentes tipos de nós. O aplicativo ainda dá a dica: "Se você não tem muita prática, comece com os tipos mais simples, como o four-in-hand e o duplo. Depois disso, você terá uma ideia de como fazer outros mais complexos". Os dois aplicativos estão em inglês, mas são de fácil navegação e as imagens, autoexplicativas.

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