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O mundo encantado das cervejas gourmet

As básicas ainda são campeãs em churrascos e botequins, mas o requinte dos rótulos especiais vem conquistando uma clientela cada vez maior

postado em 18/12/2011 08:00

Anderson do Carmo adotou o hábito de degustar bebidas importadas: qualidade em vez de quantidade
Três vezes por semana, o curador da bolsa de valores Anderson do Carmo Santos, 24 anos, reserva um tempo para apreciar cervejas. Mas, veja bem, não é com o intuito de beber até cair. Anderson faz parte de uma nova clientela que tem se formado no Brasil nos últimos anos: os degustadores de cervejas especiais. Começou por influência dos amigos, que conheceram novos rótulos, muitos deles importados. Acabou gostando e, hoje, sua preferida é uma escocesa. ;Um amigo foi levando o outro e tomamos gosto pela coisa;, conta. A ida a bistrôs que vendem essas variedades especiais ocorre geralmente depois do expediente. Em cada happy hour, o curador gasta algo entre R$ 200 e R$ 300.

Já faz tempo que cerveja deixou de ser produto exclusivo das mesas de botequim e churrascos de domingo. Agora, ela conquista apreciadores exigentes, que valorizam as nuances. Isso porque, como explica o cervejólogo Guilherme Baldin, o poder aquisitivo do brasileiro aumentou, e com ele, a oportunidade de experimentar outros produtos. ;A partir do momento em que uma parcela da população prova essas cervejas, a ideia é disseminada;, explica. ;Elas são mais caras. Então quem gosta, bebe menos, mas com mais qualidade.; Como foi o caso de Anderson.
A ideia dessas cervejas é a degustação, e não o beber por beber. Segundo o cervejólogo, esse conceito é cada vez mais aceito no país e o mercado de luxo da bebida vem crescendo exponencialmente. Hoje, 5% das cervejas vendidas no país são premium (cervejas especiais). Dessas, 1% corresponde às artesanais, que são as mais sofisticadas.

Os preços dessas bebidas especiais são mais elevados por diversos motivos. No caso das estrangeiras, é claro, a procedência faz a diferença, implicando em custos com transporte e em taxas de importação. Já as nacionais ficam mais caras por utilizarem ingredientes melhores, o que as deixa mais encorpadas e saborosas. Uma cerveja tipo pilsen, por exemplo, leva dez vezes lúpulo que as comuns, e cinco vezes mais malte. Outro ponto que pesa no preço é o tempo de maturação ao qual a bebida é submetida.

Luxo engarrafado
Cerveja especial, artesanal, gourmet. Essas são algumas das nomenclaturas usadas para bebidas produzidas em menor escala e com maior atenção. Como explica o mestre cervejeiro Alexandre Bazzo, as cervejas mais alcoólicas, em garrafas de 750 ml, arrolhadas e que passam por longos processos de fabricação (maturação em carvalho ou fermentação espontânea) costumam ser as mais caras. As cervejas artesanais têm aromas e sabores individuais. Já as comerciais são cervejas mais neutras e quase não apresentam aromas e sabores. ;Mas a maior diferença entre as duas está na ideologia da cervejaria: a artesanal tenta fazer a melhor cerveja, e a comercial tenta fazer a mais barata;, argumenta Alexandre.

Harmonia a cada gole
De acordo com o dicionário, a palavra degustar significa experimentar com atenção e deleite. Assim como o vinho, a cerveja tem sua melhor forma de ser apreciada. Com relação à temperatura, o cervejeiro Alexandre Bazzo ensina que nunca deve-se beber a cerveja abaixo de zero grau. ;O ideal é começar com temperaturas acima de 2;C, para as claras e leves. Quanto mais escura e alcoólica, maior a temperatura de serviço.; Por exemplo, cervejas tipo bock, stout e dubel (escuras) devem ser degustadas aos 10;C.
Além disso, as cervejas harmonizam com vários pratos. Tanto com a alta gastronomia quanto com petiscos. Para Alexandre, o primeiro passo é igualar as potências entre a bebida e a comida. As leves pedem pratos leves, e assim por diante. Isso feito, pode-se harmonizar por semelhança ou contraste. No primeiro caso, busca-se no prato características da cerveja, por exemplo, frutas, café e chocolate. No segundo, procura-se opor os traços da bebida com as da comida. ;Podemos usar o doce do malte para quebrar a pimenta do prato, ou a secura do malte tostado para acompanhar sobremesas.; Mas o cervejeiro alerta que não se pode esquecer de levar em consideração o modo de preparo da refeição e seus temperos.



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Agradecimentos: Cerveja Gourmet, Cervejaria Bamberg e Agrippina Bistrô.

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