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Memória candanga

Brasilienses buscam na internet uma aliada no movimento para resgatar a cultura da cidade e mostrar que Brasília é muito mais que o centro político do país

postado em 13/05/2012 08:00

Com apenas 52 anos, há quem diga que Brasília não tem personalidade, história ou tradição. ;É uma cidade para quem está de passagem;, escuta-se por aí. Esse é um estigma que ao longo das décadas os brasilienses têm tentando mudar. E, com a internet, tem recebido um apoio maior nessa empreitada. Um forte movimento de valorização da cultura da capital vem se formando nas redes sociais. Sites que vendem camisetas com estampas que vangloriam características únicas de Brasília, campanhas que desassociam a política dos moradores e, por isso, mostram uma versão diferente daqui. Documentários esquecidos, vídeos caseiros e matérias de jornalistas estrangeiros pouco vistos até então têm circulado na rede.

Os vídeos mostram a cidade sob o ponto de vista dos brasilienses. São imagens das ruas, dos prédios e de lugares frequentados pelos moradores. Nada tem a ver com o lado político de Brasília. Estão lá as entrequadras, as passagens subterrâneas, o Eixinho, o Buraco do Tatu. Tudo filmado em diferentes décadas, que fazem relembrar como era a cidade ou descobrir o quão deserta ela já foi um dia. É ainda uma oportunidade para ver como as pessoas se vestiam e observar como os carros mudaram ao longo dos anos. As reportagens estrangeiras também mostram a visão de diversas culturas sobre a cidade: os aspectos ;estranhos; de Brasília, assim como a surpresa com a modernidade da capital de um país de terceiro mundo.

Os vídeos
Tesouro proibido

Brasilienses buscam na internet uma aliada no movimento para resgatar a cultura da cidade e mostrar que Brasília é muito mais que o centro político do país

Busque no YouTube por: Brasília, contradições de uma cidade nova
Ano: 1967
Tempo de duração: 22m46
História: o documentário Brasília, contradições de uma cidade nova foi feito por Joaquim Pedro Andrade e narrado por Ferreira Gullar. Nele, o diretor passeia pela cidade em 1967. Passa de carro pela W3, pelo buraco do Tatu, mostra as tesourinhas e as quadras residenciais. Além da beleza, o mais impressionante são as ruas vazias. Enquanto filma, o narrador conta a história dos lindos prédios desenhados por Oscar Niemeyer e explica as ideias revolucionárias do projeto urbanístico de Lucio Costa. Na segunda parte do documentário, ele exibe a periferia da cidade e conta as histórias dos candangos, que viviam longe do belíssimo centro arquitetônico. A ideia é desmistificar o projeto original da cidade no qual todas as classes viveriam em uma mesma superquadra. O documentário ficou sumido por décadas. Segundo o co-roteirista e assistente, Jean-Claude Bernardet, o filme foi encomendado pela empresa de máquinas de escrever Olivetti. Mas, após ser finalizado, a direção da empresa achou que o conteúdo poderia irritar o governo militar. Ainda segundo Bernardet, eles tentaram conseguir o aval de Oscar Niemeyer para lançar o filme. Mas ele rejeitou o projeto, pois acreditava que Brasília ainda serviria à sua vocação quando os militares saíssem do poder. Todas as cópias foram destruídas, só sobreviveram os negativos, que foram guardados pelo Museu de Arte Moderna (MAM). O filme foi relançado em 2007, no DVD de Macunaíma, feito pelo mesmo diretor. Alguns trechos foram parar no YouTube, separados e com trilha sonora diferente. O mais famoso tem uma música do Kraftwerk.

O homem do Rio

Brasilienses buscam na internet uma aliada no movimento para resgatar a cultura da cidade e mostrar que Brasília é muito mais que o centro político do país

Busque no YouTube por: L;homme de Rio
Ano: 1964
Tempo de duração: 5min48
História: o filme de Philippe de Broca foi protagonizado por Jean-Paul Belmondo e rodado em Paris, no Rio de Janeiro, em Brasília e na Amazônia. A película conta a história de Adrien, um militar que tem uma semana em Paris antes de se apresentar ao exército. Nesse curto período livre, ele decide visitar a namorada na França. Ela é a herdeira de um tesouro: uma estátua da perdida civilização Maltec. Só existe uma outra estátua igual, e ela é roubada de um museu em Paris. Os ladrões tentam também levar a segunda, que pertence à namorada de Belmondo. Ao tentar roubá-la, acabam sequestrando a jovem e o namorado e separando os dois. Na busca pela namorada, Adrien vai parar no Rio de Janeiro. Para tentar salvar a mulher que ama, ele tem que percorrer o Brasil. Em uma das paradas, acaba na recém-inaugurada Brasília. Ele corre pela cidade, fugindo dos sequestradores. As imagens não são montadas na sequência real, mas mostram uma Brasília sem asfalto, vazia e ainda em construção.

Veja também
Busque no YouTube por: Brasília: 1960
Ano: 1960
Tempo de duração: 2min36
História: um rapaz achou o vídeo guardado dos avós, que fizeram uma visita a Brasília nos anos 1960. Tem imagens do alto do avião, Brasília sendo construída e um monte de barro vermelho.

Busque no YouTube por: Parque da Cidade ; Brasília ; DF
Ano: 1983
Tempo de duração: 5min09
História: imagens feitas em uma câmera 8mm por uma família brincando no Parque da Cidade ; na época, Piton Farias.

Busque no YouTube por: Brasília Segment from the shock of the new
Ano: não especificado
Tempo de duração: 6min08
História: matéria transmitida pela BBC e feita pelo jornalista Robert Hughes.

Busque no YouTube por: Dreamspaces ; Brasília (Featuring Justine Frischmann)
Ano: entre 2003 e 2004
Tempo de duração: 6min35
História: um programa da BBC que fala sobre arquitetura e design de interiores. Eles fizeram uma edição em Brasília.

Leia na edição impressa a íntegra da matéria e veja no blog da Revista outras fotos de Brasília em décadas passadas

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