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A boa aparência traz oportunidades, sem dúvidas. Mas aqueles que usam esse dom com consciência e responsabilidade são mestres do capital erótico

postado em 08/07/2012 08:00

A boa aparência traz oportunidades, sem dúvidas. Mas aqueles que usam esse dom com consciência e responsabilidade são mestres do capital eróticoMichelangelo escupiu seu Davi em tamanho imponente por acreditar que a beleza física era uma das maiores expressões divinas. A estátua, um colosso de 5,17m terminado em 1504, até hoje é tida como um símbolo da perfeição do corpo humano. O belo é poderoso, como bem sabem as modelos das capas de revista. Somada a outros atributos, então, a boa aparência se torna uma poderosa arma em favor do sucesso dos que a detém.

Pelo menos é o que garante a professora Catherine Hakim, da London School of Economics, em seu livro Capital erótico: Pessoas atraentes são mais bem-sucedidas. A ciência garante (Editora Record, 333 páginas). Recém-lançada no Brasil, a obra mostra a autora se debruçando sobre centenas de pesquisas a respeito do comportamento humano para determinar que beleza física, sex-appeal e habilidade social são itens tão indispensáveis quanto o talento na batalha por projeção e destaque.

Em entrevista por e-mail à Revista, Hakim explica que o capital erótico é uma arma vantajosa para qualquer pessoa, de qualquer sexo, principalmente aquelas com menor possibilidade de acesso ao capital econômico (dinheiro), ao capital humano (educação e formação) e ao capital social (bons contatos). No livro, ela tenta explicar o porquê de as mulheres ainda lucrarem menos com seu capital erótico que os homens. "Minha resposta é que os homens patriarcais tentam impedir as mulheres de ganharem benefícios com seu capital erótico. E, infelizmente, as feministas radicais engoliram a ideologia patriarcal, em vez de rejeitá-la", aposta.

Ela dá como exemplo a modelo brasileira Gisele Bündchen, que hoje é multimilionária somente com um trabalho que explora seu capital erótico: não só usa a beleza, como é constantemente elogiada por seu modo de vestir e por seu profissionalismo.Ou seja, para que esse capital possa, de fato, ter bom uso, é preciso uni-lo a vários aspectos das relações humanas.

A publicitária Maíra Gadelha, 35 anos, garante que ficar bem na foto é um detalhe que, sozinho, não rende tantas vantagens quanto parece. "A beleza física tem o seu peso e importância, mas sem a beleza que vem de dentro, não fica completa. Ela é a união da elegância, delicadeza, educação, talento, postura, enfim, um grande conjunto que deve estar em harmonia." Para ela, qualquer pessoa que detenha uma postura educada, com respeito, capacidade de ouvir e propor ideias vai fazer o que tem de belo se destacar ainda mais. "Elegância é uma palavra-chave na composição da beleza. O ser elegante é muito mais que um ser bonito. Vem de dentro e tudo parece ter mais coerência e fazer mais sentido."

A personal stylist Márcia Rocha atende homens que precisam se conhecer melhor para compor o guarda-roupas. Como Maíra, ela acredita que apenas ser bonito é pouco. Porém, não valorizar o que se tem de bonito é uma atitude sem sentido. "Não adianta ser supertalentoso, inteligentíssimo, com MBA, se você é um cara que usa camisa de botão de manga curta, um cinto que era do seu avô e um chinelo de dedo. Você não será contratado em lugar nenhum."

Márcia explica que a roupa, como uma boa embalagem, agrega valor à imagem e cria interesse nas pessoas: a chance que todos precisam para mostrar o que fazem bem. Catherine Hakim explica que há três razões para que o capital erótico se torne cada vez mais importante. Primeiro, garante que as sociedades mais ricas vão consumir mais artigos de luxo e beleza, especialmente na indústria do entretenimento.

O segundo ponto é a mudança das forças de trabalho. Nas sociedades ocidentais, é cada vez menor o número de pessoas que trabalham em ambientes agrícolas ou de manufatura. A tendência é o aumento na quantidade de postos em áreas que exijam melhores relações e interações sociais. Sendo assim, afirma, as pessoas mais atraentes também terão mais vantagem.

"Terceiro: a fotografia digital e a internet significam que estamos mais visíveis do que nunca. Então, melhorar o visual vale mais para todos, inclusive políticos. No Brasil, Dilma Rousseff fez um make-over da sua aparência antes de concorrer à Presidência - e então venceu."

Um bem complicado de administrar
A boa aparência traz oportunidades, sem dúvidas. Mas aqueles que usam esse dom com consciência e responsabilidade são mestres do capital eróticoApesar de tudo, a sociedade ainda reluta muito em aceitar que mulheres possam se valer do seu capital erótico como um aspecto do seu talento. E esse preconceito causa problemas, inclusive, entre elas mesmas. Tanto que o artigo publicado no jornal britânico Daily Mail com o título "There are downsides to looking this pretty: Why women hate me for being beautiful" (Há problemas em ser tão linda: por que as mulheres me odeiam por ser bonita, em tradução livre) pela colunista Samantha Brick causou uma enxurrada de discussões em seus país. Muitos comentários execravam a autora, que admitiu o poder da beleza feminina na hora de obter vantagens no trabalho.

Outro aspecto é a inveja. "Se você é atraente e confiante, muitas mulheres não vão querer ficar na sua presença e, como experimentei, vão fazer de tudo para tornar a vida mais difícil para você", afirma, em entrevista para a Revista. Brick conta ter recebido diversas mensagens de mulheres pelo mundo. Elas contam do sofrimento com suas chefes, que não suportavam dividir as atenções com alguém bonito.

Por exemplo, Sofia (nome fictício), 29 anos, já foi diversas vezes mal interpretada por valorizar a própria beleza. Ela sempre entendeu que cuidar da sua forma física era tão importante quanto manter-se atualizada nos conhecimentos necessários ao seu trabalho. Porém, por ser bonita, diz ter se esforçado mais para provar o valor do seu talento. "Já passei poucas e boas pelo fato de ser bonita. Que só estava ali porque fiz algo com o chefe e por aí vai. Mas ganhei força e gás para mostrar que era muito maior que esse estereótipo."

Para Sofia, se valer apenas da beleza é algo que rebaixa e vulgariza a mulher e o homem. O belo, frisa, tende a deixar as pessoas mais vulneráveis, mas é decisivo se vem acompanhado de inteligência. %u201CAndar bem vestida, com as unhas feitas, mostra um cuidado que a mulher tem com ela e que, certamente, transfere para o ambiente de trabalho ou familiar. Mas ela precisa cultivar o respeito próprio e alheio para que a beleza não seja transformada em vulgaridade.%u201D Aos homens, fica o alerta: apesar de a discussão ser maior no universo feminino, o capital erótico deles também é um catalisador importante de boas possibilidades.

Hakim afirma que os homens são livres para usar seu capital erótico e fazem isso o tempo todo: na vida privada, para conquistar mulheres; na vida pública, para conseguir promoções, aumentos ou vencer eleições. E eles não são criticados por essas ações. "Como resultado disso, homens atraentes ganham 17% mais que aqueles que não o são", garante.

Gustavo Nakanishi, 29 anos e diretor-executivo do Helio Diff Instituto de Beleza, convive com pessoas buscando ficarem lindas o tempo inteiro. Para o jovem, cuidar da imagem que você passa é decisivo para garantir um impacto positivo nas pessoas. Para ele, o capital erótico é uma soma dos cuidados que você tem consigo, o que se reflete em outras áreas. "O homem antes era reconhecido apenas pelo trabalho. Agora, ele é reconhecido pelo que vive todos os dias: família, trabalho, colegas. E nos tornamos mais autênticos, olhando mais para nós mesmos."

Michelangelo tratava o corpo humano como um espelho da perfeição divina. Sagrada ou não, a busca por algo parecido com o que é visto na sua arte se mantém até hoje. Contudo, ser belo é suficiente apenas para quem é estátua. "Gosto do conceito francês de beau laid (para um homem) e belle laide (para uma mulher) - alguém que se torna atraente por sua habilidade na apresentação e estilo, mesmo que seja, a rigor, feio. Charme e carisma são abertas a todos", assegura Hakim.

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