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Esse tal de instinto paterno

Será que isso existe? Ou ser pai é um aprendizado lento e diário? Ouvimos a história de cinco homens que se reinventaram com a chegada de uma nova vida

postado em 12/08/2012 08:00

Um choro estridente de bebê ecoa pela babá eletrônica no meio da madrugada. O pai acompanha com o olhar a mãe se levantar e, ainda um pouco sonâmbula, dar o peito ao neném. Sem jeito, oferece uma água, ajeita o travesseiro embaixo do braço da mulher e volta para a cama. Poucas horas depois, o mesmo som desperta mais uma vez o casal. Ele, então, toma a frente e vai até o berço. Pega a criança nos braços e, depois de sacudi-la por toda a casa e cantarolar todo seu repertório de cantigas, reconhece a derrota, passa o filho para o colo da mãe, e ele se cala. Aos poucos, o pai descobre que seu papel na vida do bebê é mais restrito do que imaginava. Não pode, por exemplo, acudir o choro de fome. Mas, com um pouco de boa-vontade, descobre também que ser coadjuvante nos primeiros meses de vida do rebento pode lhe render um belo papel, não menos importante.

Alex gosta de dormir de conchinha com a pequena Lana, 9 meses. Luís conversa com Luísa, 3 meses, desde que ela ainda vivia na barriga da esposa. Giácomo quer colecionar viagens com Valentina nem bem ela completou 3 meses de vida. Trocar a fralda de Manu, 9 meses, é moleza para o coruja Rafael, e a hora do banho é uma diversão para Marcelo e o pequeno Bernardo, 5 meses. Todos esses pais encontraram uma brecha na rotina dos seus bebês e passaram a participar intensamente da vida deles, quase em pé de igualdade com as respectivas mães. No Dia dos Pais, a Revista foi conhecer histórias e rotinas de cinco pais, de primeira viagem ou não, aprendendo a fazer parte do mundo dos seus filhos recém-chegados.

Será que isso existe? Ou ser pai é um aprendizado lento e diário? Ouvimos a história de cinco homens que se reinventaram com a chegada de uma nova vida

Quando o fotógrafo Rafael Tezelli, 31 anos, soube da gravidez da esposa, Marcilene, 32, tomou a frente como o curioso do casal e saiu em busca de informações sobre a gestação e os primeiros meses do bebê. As mamadas, os choros, as cólicas, o comportamento. ;Tudo o que encontrava na internet era muito voltado às mães. Daí decidi com um amigo criar um canal que fosse dedicado a nós, pais;, resume. A expectativa da espera de Manuela, agora com nove meses, a emoção da chegada da pequena e as primeiras descobertas paternas estão todas registradas no Guia do Pai Moderno (), no ar há um ano.

;Uma anjinha pequenina que muda sua vida e a torna mais desafiadora e responsável, que também adiciona várias pitadas de amor, carinho e dedicação na panela chamada família. E como é ótimo amar um ;anjo;, e já saber que é amado por apenas um simples sorrisinho maroto;, descreve o pai no relato do nascimento. A lembrança da data, acompanhada de pertinho com câmera na mão, ainda emociona. ;É um recomeço de vida. Foi incrível vê-la nascer perfeitinha, com saúde, já chorando e se mexendo;, lembra. De lá para cá, a vida voou e passou por mudanças. A velocidade do carro diminiu, sentimentos e instintos novos afloraram, as noites de sono diminuíram, ele enumera. O expediente também ficou mais comprido. ;As horas não passam. Eu espero a hora de chegar em casa e ficar com ela;, derrete-se.

Na lista das novas habilidades conquistadas com a chegada de Manu, trocar fraldas foi apenas a mais básica delas. Combinar vestidos rodados com sapatos de verniz e fazer careta em público sem se importar em parecer um maluco ou passar vergonha vieram no pacote. ;A gente faz coisas que nem imaginava. Se antes eu olhava um pai fazendo beiço para o bebê e achava esquisito, hoje não estou nem aí;, conta.

Pai moderno assumido, Rafael passa horas diante da tela buscando respostas para as dúvidas surgidas no caminho. Quando acha o que procura, encaminha para o e-mail da esposa. O que não tem resposta fácil, fica para o pediatra resolver. ;Ela mesmo não é muito disso. Eu é que me infiltro nos fóruns e sites e repasso tudo para ela;, entrega. E mesmo sendo dono de um ambiente virtual dedicado aos pais proativos, Rafael e o parceiro de blog, Cléber Ferreira, pai de duas crianças, não deixaram de ser minoria na rede: ele conta que, mesmo com um blog feito por e para pais, a maior audiência e parte dos comentários ainda vêm das mães. Se os planos derem certo, Rafael espera conquistar mais pais modernos dispostos a partilharem informações. ;A gente quer mostrar que o pai pode e deve participar da vida dos filhos e de cada fase do desenvolvimento deles;, torce o coruja moderno.

Com a palavra, os pais
Quando um bebê chega, desabafar momentos de desespero ou simplesmente compartilhar alegrias vira necessidade básica para alguns pais. Veja alguns blogs de pais corujas e suas aventuras com os filhotes:

Diário Grávido

O pai: Renato Kaufmann
O motivo: Lúcia
Ontem a Lúcia se mexia de tal maneira que me pareceu claro que ela quer nascer logo. Era como um gato dentro de uma sacola, não que eu tenho visto muito disso. Como se fosse um bebê fora da barriga, esperneando, mas dentro da barriga. Na minha visão antiga, a existência começa no nascimento, e até lá o bebê ficaria, sei lá, vegetando, soprando bolhas de sabão.

Guia do Pai Moderno

Os pais: Cléber Ferreira e Rafael Tezelli
Os motivos: Maria Eduarda, Valentina e Luísa
É incalculável a sensação de alegria e amor em ver a sua filha sair da pessoa que você ama e chegar até os seus braços em um piscar de olhos. ;Engraçado;, mas fascinante!

Nenê do Papai

O pai: Samir Nassif
O motivo: Bernardo
Hoje completo 200 dias com meu filho. Uma das maiores aflições que tenho é não conseguir transmitir para meus amigos o quão bom é ser pai. Queria que eles tivessem a mesma experiência que tenho. De acordar com o sorriso banguela daquela criatura que não tem motivo algum outro para sorrir que não por simplesmente gostar de ti.

Nerd Pai

O pai: AJ ;Nerd Pai; Freire
O motivo: ;Padawan;
Caros amigos e amigas, eu sabia que esse dia chegaria. Demorou 814 dias para o ;Padawan; dar seu grito de independência e mostrar que nada nem ninguém irá aprisioná-lo e que ele poderá ir, audaciosamente, onde nenhum bebê jamais esteve. Sim, a última fronteira foi ultrapassada: o ;Padawan; já consegue pular seu berço.

Blog de Pai

O pai: Pai da Alice
O motivo: Alice
A Alice desde que descobriu que o tablet tem coisas que ela gosta, me pede, pelo menos uma vez por semana, para brincar com ele. Toda a interação básica que eu faço, ela faz também, abre o aplicativo de fotos para ver as que tiramos no dia, faz os desenhos no aplicativo de desenho, abre e brinca sem eu ter que fazer nada.

Leia esta reportagem na íntegra na edição n; 378 da Revista do Correio.

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