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Com a força da idade

Atividade física para quem passou dos 60 anos contribui para melhorar a saúde e resgatar a autoestima. Ao contrário do que muitos pensam, a musculação está entre as mais indicadas

postado em 21/10/2012 08:00
A idade não é empecilho para se exercitar. Ao contrário, depois dos 60 anos, a atividade física é fundamental para garantir o bom funcionamento do corpo e da mente. Manter-se ativo ajuda a prevenir e amenizar os efeitos de doenças como cardiopatias, estresse, osteoporose, deficiências respiratórias e diabetes. Os benefícios vão além do físico, porém. Há também a melhora da disposição para executar tarefas cotidianas, da qualidade do sono e do humor. Visando atender às necessidades da terceira idade, algumas academias, inclusive, oferecem atividades específicas e profissionais preparados para atender a essa faixa etária.

De acordo com pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Academias, o número de idosos que malham saltou de 5% para 30% na última década. Em Brasília, o número de malhadores sexagenários corresponde a quase 35% dos alunos. Eles são 1,5 milhão de pessoas com mais de 60 anos matriculadas em academias de todo o Brasil. No início, a hidroginástica era a atividade mais procurada por eles. Com o tempo, pilates e alongamento se tornaram populares e a musculação deve, em breve, ocupar o primeiro lugar na lista. A atividade, que já foi considerada inadequada para os idosos, passou a ser vista com outros olhos após pesquisas realizadas, a partir de 1995. O principal deles foi feito pela American College of Sports Medicine, que comprovou que a atividade pode estacionar o avanço da osteoporose.

Para a educadora física Marcia Neide Zmorzynski, essa foi a principal motivação dos idosos para procurarem as academias. Marcia explica que a musculação diminui as chances de osteoporose, justamente por aumentar a massa óssea. "Além de trabalhar o fortalecimento muscular, o idoso ganha massa óssea, o que diminui o risco de ter o problema. No estágio inicial, a pessoa até consegue retardar ou estacionar a doença."

Garantir a autonomia do idoso em tarefas do cotidiano também é um dos objetivos do fortalecimento muscular. Músculos bem trabalhados significam facilidade para realizar atividades simples, como subir e descer escadas ou carregar as compras. O treino é importante para driblar a diminuição de massa magra. O educador físico Renato Azevedo, que trabalha com esse público há 15 anos, afirma que todos, a partir dos 30 anos, perdem 5% da força muscular a cada cinco anos. Para reduzir os danos, o ideal é praticar a musculação três vezes por semana.

Uma alternativa para quem precisa fortalecer a musculatura, mas tem limitações físicas, é o programa Elastos, do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Atividade Física para Idosos (Gepafi), que funciona desde 2004, no Centro Olímpico da Universidade de Brasília. O programa foi desenvolvido por um aluno de mestrado. Nele, o idoso trabalha com ligas de plástico dobradas. Cada liga equivale a um peso de cinco quilos. Outro programa do Gepafi é o circuito de equilíbrio, elaborado para estimular a estabilidade e evitar quedas. Nesse circuito, os alunos treinam a estabilidade em diferentes estações. Alguns exercícios são feitos com bola, outros desafiam o aluno a ficar de pé em uma perna só para alcançar obstáculos altos.

Um dos exercícios preferidos entre os mais velhos, a hidroginástica é uma atividade de baixo impacto, indicada para fortalecer as articulações. "Trabalhamos articulações especiais, como joelho, tornozelo e costas, que ficam debilitadas com o passar dos anos", explica a professora Mayara Santana de Sousa. Outro grupo muscular importante trabalhado nessa aula é o abdômen, que garante o sustento da coluna vertebral. A água diminui o impacto do exercício, o que permite um ritmo mais intenso, sem prejudicar a pressão arterial ou provocar cansaço. Além disso, o ambiente se torna relaxante e facilita o alongamento.

Vitalidade

Atividade física para quem passou dos 60 anos contribui para melhorar a saúde e resgatar a autoestima. Ao contrário do que muitos pensam, a musculação está entre as mais indicadasO comerciante Severino Alves Xavier, 67 anos, vai à academia cinco vezes por semana e faz parte de um grupo de corrida. "Quer me ver de mau humor? É só eu ficar uma semana sem exercício físico", confessa Xavier. Na academia, ele pratica musculação e dança de salão e, em breve, pretende nadar. "Eu colho aquilo que plantei quando era jovem. Sempre fiz esporte. Então, hoje eu sinto essa vitalidade. Meu astral é uma maneira legal de enfrentar os problemas da vida. Tudo isso eu agradeço à minha atividade física", afirma.

Xavier começou a correr aos 40 anos, quando quebrou o pé em um jogo de futebol e passou a treinar, por recomendação médica, caminhadas com trotes no Parque da Cidade. "Comecei a correr no parque, participei de uma corrida, gostei e aí passei a participar de todas as corridas de rua da cidade", lembra. O gosto pelo esporte já o levou a diversas maratonas, entre elas a de São Silvestre e a da Pampulha, em Belo Horizonte. A última foi a meia maratona de 21 quilômetros do Rio de Janeiro, em julho. Xavier conta que, mesmo quando viaja por lazer, não dispensa o tênis e o short de corrida.

O esforço do sexagenário tem recompensa. Xavier não tem problemas de saúde. Aliás, orgulha-se do resultado de seu checape anual, sempre saudável. Também está livre de dores. O bom rendimento e a ausência de patologias são comuns entre os tiveram o hábito de exercitar-se ao longo da vida. Relacionar-se com outras gerações na academia também não é problema para o comerciante. Ele conta que se sente à vontade e que a idade não deve servir de justificativa para ficar em casa. "Muita gente acha que, porque chegou aos 60, 70, não deve mais fazer atividade física. Ao contrário, o exercício garante mais qualidade de vida, prazer de viver e satisfação", recomenda.

Sem correr riscos

Antes de começar a se exercitar, o idoso deve realizar exames de saúde e adequar a atividade às suas condições físicas. Há um exercício indicado para cada pessoa

1. Cuidado com o coração

Para pessoas com pressão alta ou baixa, varizes e diabetes tipo 2, são indicados exercícios aeróbicos, como dança, caminhada, corrida e bicicleta. Essas modalidades também são recomendadas para reabilitação cardíaca após cirurgia.

2. Para fortalecer os músculos

Exercícios de musculação são os indicados para quem sofre com doenças no aparelho locomotor, como fibromialgia, artrite, artrose e osteoporose. Eles diminuem a fraqueza muscular e ajudam o idoso a ter mais estabilidade.

3. Foco no equilíbrio

Além de pensar em fortalecer os músculos, idosos com labirintite, medo de queda e problemas de flexibilidade devem optar por yoga, tai chi chuan ou pilates. O Gepafi oferece um programa específico, em que os alunos treinam a estabilidade em diferentes estações, visando a execução de tarefas rotineiras.

Fonte: Márcio de Moura Pereira, educador físico

Além do corpo

Praticar atividades físicas é benéfico também para a mente. As práticas em grupo promovem interação com outras pessoas e diminuem sentimentos de solidão, recorrentes na velhice. Márcio de Moura Pereira, educador físico do Gepafi, revela que os resultados no estado de espírito são facilmente perceptíveis. "Logo nas primeiras aulas, o idoso relata a melhora de humor. Dentro do grupo, ele começa a fazer laços de amizade", afirma.

Pereira conta que alguns chegam a diminuir o uso de medicações antidepressivas. Os alunos costumam marcar almoços ou encontros para jogar cartas. A professora de hidroginástica Mayara Santana de Sousa confirma: "Há senhoras que frequentam a aula mais pelo social, passam a aula toda conversando e vêm encontrar as amigas".

De acordo com a educadora física Marcia Neide Zmorzynski, o ideal é que o convívio se estenda a outras gerações. Especialista em gerontologia, ela observou que muitos idosos deixavam a atividade física depois de alguns meses. Feita uma pesquisa com os desistentes, ela conclui que muitos não se sentiam acolhidos no ambiente. Alguns idosos precisam superar certas barreiras para praticar exercícios, entre elas sentimento de intimidação, baixa autoconfiança e falta de incentivo da família. "Mesmo com motivação interna, ao chegar à academia, eles não conseguiam se relacionar porque a maior parte das pessoas é mais jovem", explica Marcia.

Para que haja integração, o papel do professor é essencial. Ele deve atuar como mediador, ao estimular conversas entre gerações distintas.

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