Revista

Um brinde à igualdade

Em uma cerimônia ao pôr do sol, Glauber e Nildo trocaram votos e fizeram valer os direitos deles %u2014 um exemplo para muitos

postado em 09/12/2012 08:00

Em uma cerimônia ao pôr do sol, Glauber e Nildo trocaram votos e fizeram valer os direitos deles %u2014 um exemplo para muitos

Foram cinco meses de preparativos para que tudo saísse como o sonhado, do bolo ao convite, passando pela escolha dos ternos. Finalmente, em 1; de dezembro, o bancário Glauber Oiveira, 31 anos, e o estudante de direito Nildo José Gondin, 34, trocaram alianças. Eles fizeram valer os direitos da união homoafetiva, confirmados em julgamento histórico do STF, em maio do ano passado. Isso inclui a escolha do regime de bens, a licença nubente no trabalho, a alteração dos sobrenomes de ambos, a inclusão do cônjuge no plano de saúde. ;Consideramos esse um ato de amor, mas também um ato político. Hoje, temos o direito, assim como outros casais heterossexuais, de formar uma família, mesmo que não seja nos moldes tradicionais;, comemora Glauber.

Primeiro encontro
Um preferia o dia. O outro, a noite. Até que, em uma manhã de 2010, Nildo e Glauber driblaram os ponteiros. A recordação da primeira vez em que se encontraram teve direito à trilha sonora. Eduardo e Mônica, da Legião Urbana, marcou a geração desses jovens e foi parar como ;reflexão; no convite do casamento que se daria dois anos depois. ;Nossas afinidades falaram mais alto que o ritmo e estilo de vida de cada um. Bem como o refrão: ;Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração e quem irá dizer que não existe razão;;, declara Nildo.

Vida a dois
Com o passar dos meses, o namoro ficou sério. Após um ano, veio a decisão de morar juntos. Aprenderam a dividir o mesmo espaço e começaram a planejar os próximos capítulos da vida a dois. Como outros casais, independentemente da orientação sexual, Nildo e Glauber tiveram que ceder aqui e ali. Tornaram-se mais caseiros e só deixavam o apartamento onde moram, no Guará, para fazer caminhadas ou outras atividades físicas. Domingo, então, virou sinônimo de acordar cedo para remar no Lago Paranoá. ;Já avisei logo para ele que não iria seguir um ritmo notívago;, brinca Nildo. Glauber não se incomodou. Apostou na mudança e ficou à vontade para criar outra rotina.

Pedido de noivado
Estudante de direito, Nildo pesquisou a legislação acerca do casamento gay no Brasil. O resultado seria o trabalho de conclusão de curso. Nesse período, soube da possibilidade de se casar no civil com o companheiro. Não demorou mais de 24 horas para agilizar os documentos e buscar um cartório a fim de oficializar a união. ;Tive que derrubar crenças. Foram tantos anos me sentindo inadequado e à margem de tantos direitos. Isso até constatar que era possível me casar com o homem que eu amo;, desabafa Glauber.

Preparativos e percalços

Data e horário definidos, o casal teve menos de seis meses para escolher o local, enviar os 50 convites ; feitos por eles ; e comprar os ternos do grande dia. As alianças de prata foram desenhadas e confeccionadas por Nildo. E a ansiedade crescia passados os meses. ;Houve até regime para o casamento;, conta a assessora jurídica Marina Quezado, 35 anos, amiga de Nildo há 15. A mãe de um dos noivos deixa escapar que não foi bem assim. ;Ele até me disse que estava controlando a alimentação para a cerimônia. Só que sempre aparecia com brigadeiro e pudim;, brinca dona Maria Odete Gondim, 70, que respeitou e comemorou a decisão do filho. Aliás, os amigos também foram imprescindíveis durante a véspera do casamento. Mais experiente do grupo, o contador Sandro Candiles, 40, foi convidado para ser padrinho. Ele mesmo já se casou três vezes, mas não faz votos de fracasso à instituição. Pelo contrário, encorajou os noivos a apostar na cerimônia. ;Não sei se me casaria de novo, mas acredito no amor e tenho certeza de que o encontro deles tem tudo para dar certo;, aposta.

[FOTO3]
O grande dia
O sonho de um casamento ao pôr do sol ficou comprometido com a previsão de trovoadas em 1; de dezembro. As nuvens, porém, se dissiparam na hora do evento, às 18h. No restaurante Aquavit (Setor de Mansões do Lago Norte), Nildo e Glauber desceram juntos as escadas para a celebração no jardim. Convidados a postos, a entrada dos noivos foi um momento de grande expectativa. Até mesmo a equipe do restaurante, e o próprio chef Simon Lau, deram sinais de ansiedade ao assistir à primeira união homoafetiva realizada no badalado local. ;Nos sentimos muito à vontade para recebê-los porque não há diferenças quando o assunto é amor. Seria bom que outros pensassem o mesmo;, disse o chef.

Leia a matéria na íntegra, na edição impressa da Revista do Correio

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação