Revista

Divas de avental

Imagine Elizabeth Taylor se lambuzando com um balde de coxinhas de frango. Difícil? E que tal saber que Audrey Hepburn foi uma cozinheira de mão cheia? Esses e outros fatos não registrados pelos paparazzi saem do anonimato para as páginas de um livro

postado em 13/01/2013 08:00

Imagine Elizabeth Taylor se lambuzando com um balde de coxinhas de frango. Difícil? E que tal saber que Audrey Hepburn foi uma cozinheira de mão cheia? Esses e outros fatos não registrados pelos paparazzi saem do anonimato para as páginas de um livroQuando Sabrina, filha do chofer da família Fairchild, volta da Europa, ela não só esbanja elegância como também um talento especial na cozinha. A jovem que mal sabia fritar um ovo retorna com o diploma de chef e conquista, não pela barriga, um dos ricos filhos dos patrões. Interpretada por Audrey Hepburn, a personagem Sabrina encanta o público desde meados da década de 1950, mas poucos espectadores na época acreditaram que a atriz poderia pilotar o fogão tão bem quanto a protagonista. Grande engano. Na vida real, miss Hepburn foi uma excelente cozinheira, apesar de brigar com a balança para se manter magra.

Além de Audrey Hepburn, outras beldades hollywoodianas se aventuravam na cozinha. Para mostrar esse lado nada glamouroso e desconhecido do grande público, o visagista, pesquisador e escritor mineiro Evânio Alves publicou As divas na cozinha ; histórias e receitas das estrelas da música e do cinema. Recém-lançado, o livro é um registro de cenas incomuns. Já imaginou celebridades de avental e sujas de farinha?

Costurado por uma minuciosa pesquisa que levou, aproximadamente, dois anos, As divas na cozinha é um valioso arquivo histórico. Afinal de contas, Evânio reúne dados de mais de 80 publicações, entre livros e revistas, compradas em sebos ou em sites de colecionadores. "É mais difícil pesquisar sobre as mais antigas por causa da escassez de material. Embora leve um pouco mais de tempo, procurando com dedicação e paciência, acabo encontrando", diz o autor, que também foi auxiliado pelo experiente biógrafo Ruy Castro.

"Resolvi mostrar um lado mortal das divas. Foi, literalmente, deliciosa a experiência de pegar todas essas brilhantes estrelas dentro de suas cozinhas e poder mostrar que elas também tinham um pouco de ;amélia;. Como disse meu grande amigo Ruy Castro, peguei elas de avental sujo e rolo de pastel na mão, mas sem perder a pose", conta o autor. Dividido em capítulos dedicados a 55 celebridades, cada um aborda a relação dessas belas mulheres com a comida e com as panelas. Para matar a curiosidade ; e a fome ; dos leitores, o livro ainda reúne receitas. Quem sabe agora, a eterna "bonequinha de luxo", Audrey Hepburn, mostra aos brasileiros com quantos tomates ela preparava seu famoso spaguetti al pomodoro.

Belas e boas de garfo

Ava Gardner
Imagine Elizabeth Taylor se lambuzando com um balde de coxinhas de frango. Difícil? E que tal saber que Audrey Hepburn foi uma cozinheira de mão cheia? Esses e outros fatos não registrados pelos paparazzi saem do anonimato para as páginas de um livroFilha de um fazendeiro, a estrela norte-americana Ava Gardner não deu muita sorte com os homens quando tentou conquistá-los pelo estômago. Não por desconhecer os segredos da cozinha, que aprendeu com o tempo, mas porque eles preferiram a badalação noturna à comidinha caseira. Antes de ser famosa, assim que Ava chegou a Hollywood, ela teve de se virar com as panelas. A dedicada dona de casa e mãe da estrela, Molly, não lhe ensinou as artes da culinária. No começo, então, o "repertório" da diva era limitado a hambúrgueres. Por isso, Ava não hesitava ao aceitar um convite para jantar. Na época em que estava casada com Frank Sinatra, saía para comer e beber com o cantor em restaurantes italianos, chineses e de outras nacionalidades. Quando viajava para outro país, fazia questão de provar as iguarias locais. Na época, falou a um jornalista que a única ginástica que fazia era correr de uma refeição para outra. No entanto, com o passar dos anos, alguns problemas de saúde a obrigaram a fazer restrições no cardápio. Fã incondicional dos doces feitos pela mãe, Ava Gardner disse ter apenas um desejo ao final da vida: comer os bolos de coco e de chocolate de Molly.

Elizabeth Taylor
Imagine Elizabeth Taylor se lambuzando com um balde de coxinhas de frango. Difícil? E que tal saber que Audrey Hepburn foi uma cozinheira de mão cheia? Esses e outros fatos não registrados pelos paparazzi saem do anonimato para as páginas de um livroOs olhos cor de violeta e a cintura de pilão de Elizabeth Taylor renderam muita inveja às mortais admiradoras daquela que personificou a rainha egípcia Cleópatra. Mas poucas sabiam que, na verdade, aquela silhueta só era ressaltada quando a atriz gravava um filme. Liz não abria mão de comer de tudo e mais um pouco fora dos estúdios. Dizem que, no café da manhã, ela devorava quatro hambúrgueres pequenos, quatro ovos fritos e uma pilha de panquecas com xarope de maple. Toda a fartura acompanhada por café e suco. Por isso, a atriz sempre fez questão de manter em casa, na folha de pagamento, um bom cozinheiro. É claro que todos esses excessos trouxeram quilos a mais e algumas crises de gastrite e até de úlcera. Nada que um período de regime e de repouso não ajudasse essa estrela boa de garfo a voltar à ativa. Entre algumas célebres declarações que miss Taylor fez, um depoimento sobre o "pecado da gula" entrou para a história. Na época, ela se recuperava de uma pneumonia. "A comida é meu maior vício. Gosto de tudo que engorda. Mas ter uma pneumonia dupla é um modo garantido de perder peso. Como ainda estou fraca, me permito comer bastante no café da manhã e no jantar (;) de bifes a pizzas e ainda como alguma coisa antes de dormir."

Frango em Vinho, por Elizabeth Taylor

Ingredientes
1 frango inteiro cortado em oito pedaços
4 colheres de farinha de trigo
4 colheres de óleo ou azeite
1 cebola pequena cortada em fatias finas
1 dente de alho picado
2 folhas de louro
1 colher de chá de sal
1/4 de colher de chá de pimenta
1 e 1/2 copo de vinho branco Sauterne
2 colheres de sopa de salsa fresca picada

Modo de preparar
Coloque o frango, a farinha e o sal em um grande saco e agite até que os pedaços estejam revestidos. Aqueça o azeite em uma frigideira grande e pesada, coloque o frango e doure os dois lados, por cerca de 15 minutos. Combine o restante dos ingredientes em uma tigela pequena e despeje sobre o frango. Tampe e cozinhe em fogo brando por uma hora, ou até o frango ficar macio quando perfurado com um garfo e o molho ficar claro. Retire as folhas de louro e decore o frango com salsa picada adicional.
Serve de seis a oito pessoas.

Marilyn Monroe
Imagine Elizabeth Taylor se lambuzando com um balde de coxinhas de frango. Difícil? E que tal saber que Audrey Hepburn foi uma cozinheira de mão cheia? Esses e outros fatos não registrados pelos paparazzi saem do anonimato para as páginas de um livroQuando Marilyn Monroe se casou com o dramaturgo Arthur Miller, o casal logo contratou uma cozinheira, que seria amiga e confidente da atriz. Lena era italiana e fazia os pratos favoritos de Marilyn. Foi com ela que a estrela de O pecado mora ao lado aprendeu a se virar no fogão. Tanto que, ao receber amigos, fazia questão de preparar os drinques e os petiscos, com orgulho das lições aprendidas. No entanto, as crises emocionais da atriz roubavam-lhe o apetite. A cozinheira chegou a relatar a biógrafos que, nesses momentos, servia-lhe apenas um bloody mary, três ovos pochê e algumas torradas de café da manhã. Ao longo do dia, Marilyn restringia a "dieta" a taças de champanhe, pois tinha medo de engordar se comesse qualquer coisa. Mas, se estivesse bem, ela pedia para Lena fazer alguns dos seus pratos favoritos, como vitela e fettuccini. Apesar de não ser uma mestre-cuca exemplar, Marilyn se arriscava nas panelas. Como na vez em que quis impressionar o marido com uma torta de figo e se cortou. Essa foi apenas uma entre tantas tentativas desastrosas. Até que o casamento com Miller chegou ao fim e Lena não mais trabalhou para Marilyn. No entanto, a atriz não perdeu o contato com a amiga cozinheira. Tanto que na última vez que as duas se falaram, um dia antes de Marilyn morrer, a atriz havia pedido à amiga que fosse à Califórnia e ajudasse no preparo do jantar de aniversário que daria de presente ao novo namorado.

Brigitte Bardot
Briggite Bardot sempre preparou com prazer a mesa do café da manhã. Era ela quem saía às compras da casa, mesmo que tivesse funcionários para realizar essa e outras tarefas do lar. Vegetariana, a alimentação da francesa que encantou homens e mulheres ao aparecer seminua em E Deus criou a mulher era balanceada por orgânicos que ela cultivava e colhia no quintal da casa. Para alegrar-se, bastava convidar alguns amigos para um almoço no jardim. Legumes, cebolas, cebolinha, nozes, pães, queijos e frutas sempre estavam, a postos, na mesa. O vinho, então, não podia faltar. Se o presunto acabasse, lá ia a atriz abrir uma lata de sardinha e um pacote de batatas chips para matar a fome dos amigos. Gourmet comedida, nas biografias sobre a atriz, Bardot se gaba de nunca ter precisado de ninguém para pilotar o fogão.

Batata doce com laranja, por Brigitte Bardot
Ingredientes
6 batatas doces cozidas
5 colheres de suco de laranja
1/2 colher de chá da casca de laranja ralada
1/2 colher de chá da casca de limão ralada
1 colher de gengibre ralado
1 pitada de noz moscada
2 e 1/2 colheres de xarope de maple (caso não encontre, trocar por mel)
Sal a gosto
Nozes ligeiramente torradas para enfeitar

Modo de preparar
Preaqueça o forno a 350;. Descanse a batata e coloque num processador com todos os ingredientes. Bata até ficar bem cremoso. Asse o purê por uns 15 minutos, só até aquecer. Enfeite com as nozes e sirva quente.
Serve seis pessoas.

ENTREVISTA // Evânio Alves
Imagine Elizabeth Taylor se lambuzando com um balde de coxinhas de frango. Difícil? E que tal saber que Audrey Hepburn foi uma cozinheira de mão cheia? Esses e outros fatos não registrados pelos paparazzi saem do anonimato para as páginas de um livroPor que escrever um livro sobre as experiências de divas na cozinha?
Sempre que pensamos em divas, logo vem à mente mulheres glamourosas. Jamais imaginamos essas mulheres na cozinha de suas casas com as mãos na massa ou pilotando um fogão. Pois elas iam e foi por isso que resolvi mostrar esse lado mortal das divas.

Como foi a pesquisa?
Sou um frenético leitor do assunto divas. Acordo e logo pego a biografia de uma delas para começar a ler. Também leio revistas e jornais da época. Nesses materiais, colho informações para escrever meus livros. Além disso, converso com pessoas que conheceram ou estiveram próximas dessas estrelas. Caso de Ruy Castro, que me passou informações preciosas sobre Marlene Dietrich, atriz que amava receber os amigos, inclusive brasileiros, para comer macarrão.

Foi difícil selecioná-las para o livro?
É mais difícil pesquisar sobre as mais antigas por causa da escassez de material. Em contrapartida, a facilidade das contemporâneas alivia a exaustão. Caso, em especial, da encantadora cantora e atriz Zezé Motta, que me recebeu cordialmente e nos dá uma receita de salada de grãos. Eu tinha duas opções para a seleção: popularidade da diva ou qualidade da receita. Optei pela popularidade, apesar de haver uma, Angela Lansbury, que não é tão popular. Tive que inseri-la, pois a receita de pão de tâmaras e nozes é deliciosa.

Havia uma dicotomia entre glamour e cozinha?
O chique era dizer para a imprensa que havia cozinheiros e serviçais para servi-las. Mas elas adoravam perambular pela cozinha, e algumas acabaram lançando livros de culinária. Caso de Sophia Loren, Jane Fonda, Maria Callas. Como o tempo e os conceitos mudam, hoje a gastronomia está em alta e os jovens se interessam pelo assunto. Naturalmente, as estrelas se sentem mais à vontade para declarar essa paixão.

Qual a repercussão do lançamento desse livro?
O primeiro que fiz, As divas no Brasil, teve uma repercussão fantástica. Até o Le Monde veio até mim. E As divas na cozinha está seguindo o mesmo caminho. Com apoio do jornal francês, em meados de março, lançarei, em Paris e em Lyon, uma versão em francês do livro.

Você testou todas as receitas que incluiu no livro?
Foram dois anos de pesquisa e durante esse tempo testei todas as receitas. A princípio, só havia selecionado algumas, mas me vi em uma situação difícil: ter que escrever sobre um prato que não conhecia o sabor. Entre erros e acertos, levei todas as receitas ao forno. Os amigos ajudaram, comendo.

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