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O melhor do cinema atual você encontra aqui, numa seleção feita por especialistas no assunto

postado em 24/02/2013 08:00
Pelo olho da câmera nós sonhamos. Talvez essa magia explique o alcance do cinema, mistura de indústria e arte que continua muito viva apesar das mudanças tecnológicas. Os filmes permitem aos espectadores uma relação mais próxima com o que a humanidade produz para o próprio deleite, sem deixar o estímulo à reflexão de lado. É para eles que a Revista olha neste domingo. Na segunda matéria da série que aborda os destaques do século 21, a sétima arte é colocada em análise.

Com a ajuda de especialistas que repassaram, em suas opiniões, os melhores filmes, diretores, atores e atrizes do cinema atual, mostramos listas que dão o tom do que foi produzido de 2000 em diante. A intenção maior é instigar, atiçar a curiosidade. O prazer de se assistir a um filme sempre estará condicionado à escolha individual. Mas, a partir da indicação dos estudiosos, as alternativas se alargam, criando outras formas de olhar que podem fazer da sessão um contentamento ainda maior.

E os vencedores são;
É por causa deles que a matéria surgiu. É por causa deles que Hollywood existe. E é por conta de filmes como os que compõem a lista a seguir que a arte de contar histórias por meio de imagens é uma das mais tocantes já criadas pelo homem. As seis produções abaixo definem, na opinião dos entrevistados, a produção cinematográfica a partir do ano 2000. São películas que transcendem o mero entretenimento, iluminando aspectos da vida e do mundo contemporâneo. A sessão já vai começar;

Paranoid Park, de Gus Van Sant, 2007
O melhor do cinema atual você encontra aqui, numa seleção feita por especialistas no assuntoUma adolescência disfuncional, que não consegue enxergar a gravidade dos próprios atos, mesmo que esses tragam angústia e culpa: esse é o pano de fundo do silencioso e intenso Paranoid Park. Na trama, Alex (Gabe Nevins), 16 anos, mata um segurança na área de Portland (EUA) que dá título ao filme, onde skatistas se encontram para treinar. Ao manter o crime em segredo, os dilemas morais advindos do ato fazem com que a vida dele mude completamente. Para o diretor Gus Van Sant, o principal não é mostrar se o assassinato será descoberto. Seu grande objetivo é apresentar um adolescente que não sabe lidar com responsabilidades, seja por comodismo, seja por falta de apoio familiar ou mesmo por dificuldade de comunicação com seus pares.

Por que ver?
"Pelos planos. Não há nada aparente saltando, só uma pessoa caminhando por um corredor, pelo parque, em casa. E nem sempre é a imagem que vai ser determinante, mas a conjunção com a banda sonora" ; Edson Costa, pesquisador de cinema.


Cópia fiel, de Abbas Kiarostami, 2010
O melhor do cinema atual você encontra aqui, numa seleção feita por especialistas no assuntoEm sua primeira obra fora do Irã, o mais festejado cineasta do país, Abbas Kiarostami, apresenta um filme no qual a interpretação do espectador é o mais importante. De passagem pela Toscana apresentando seu livro, no qual defende o valor da cópia na história da arte, James Miller (William Shimell) conhece Elle (Juliete Binoche), francesa dona de uma galeria de arte. Depois de uma situação cômica, no qual são tomados por marido e mulher, os dois viram, efetivamente, um casal. Discutindo sobre arte e, mais ainda, sobre relacionamentos afetivos, Kiarostami expande suas qualidades ao mesmo tempo em que "copia" seus trabalhos anteriores.

Por que ver?
"O iraniano dramatiza as idas e vindas dos relacionamentos num filme obcecado pela força (e pelas mutações) do tempo. Recomendado para quem morre de amores por Antes do amanhecer e Antes do pôr do sol (ambos do diretor Richard Linklater)." ; Felipe Moraes, jornalista de cultura.


A fita branca, de Michael Haneke, 2009
O melhor do cinema atual você encontra aqui, numa seleção feita por especialistas no assuntoO diretor Michael Haneke está de volta aos holofotes com as cinco indicações ao Oscar recebidas por seu último trabalho, Amor (2012). Mas ele já havia causado sensação em 2009 com sua análise para as origens do Holocausto em A fita branca. Haneke filma aqui um vilarejo alemão próximo à I Guerra Mundial. Nele, crimes sem autor começam a acontecer, todos mantendo em comum uma aura de castigo. A sensação é de um tribunal silencioso que precisa mostrar que supostos erros devem ser pagos de forma extrema. A fita do título, colocada nos filhos do pastor para que eles se envergonhem dos pecados, é uma alusão à forma como os nazistas marcavam os judeus com a estrela de Davi durante a II Guerra Mundial. Mas, em vez de se aferrar à história, Haneke prefere abordar o caráter inquisidor do ser humano com densidade psicológica e uma carga brutal de tensão.

Por que ver?
"Este filme representa o cinema de Haneke em sua forma mais depurada, com aguda sensibilidade estética e visão centrada nos horrores primordiais da humanidade." ; Ciro Marcondes Filho, professor de comunicação.


O fabuloso destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, 2001
O melhor do cinema atual você encontra aqui, numa seleção feita por especialistas no assuntoAmélie Poulain é uma moça francesa que passou a infância inteira acatando as ordens dos seus desordenados pais. Acabou levando essa prática para a vida adulta e, sem olhar para si mesma, também não conseguia ver muito dos outros. Mas aí a princesa Diana morreu. Com a surpresa causada pela notícia, Amélie derruba uma tampa, essa tampa bate em um azulejo, ele se quebra e mostra um buraco. E o que ela acha nele faz com que sua vida saia da letargia: Amélie ganha um propósito e nada vai impedi-la de concretizá-lo. Jean-Pierre Jeunet é todo luz e beleza nesse filme que transformou a atriz Audrey Tautou em uma estrela mundial. Um desses filmes que servem para deixar as pessoas mais apaixonadas.

Por que ver?
"A montagem e a fotografia estão excelentes ao fragmentar o mundo de Amélie num puzzle lógico e transcendental e, sobretudo, somos servidos por uma trilha sonora altamente contagiante, que é como uma segunda protagonista principal do filme. Amélie ajuda de alguma forma a tornar a vida do próximo um pouco melhor por meio de pequenas ações que só levam a uma reação: sorrir. E sair mais leve da sala de cinema" ; Tânia Montoro, professora de comunicação.


Shara, de Naomi Kawase, 2003
O melhor do cinema atual você encontra aqui, numa seleção feita por especialistas no assuntoKei, um dos gêmeos da família Aso, desaparece subitamente durante o festival Jizo em um ensolarado verão japonês. Em vez de focar na busca, a diretora Naomi Kawase decide se preocupar com aqueles que precisam lidar com a perda. Cinco anos mais tarde, a mãe de Kei, grávida, escolhe a outra parte da dupla, Shun, então com 17 anos, para continuar as investigações sobre o sumiço do irmão. Tímido e nunca tendo superado a perda, Shun mantinha sua existência focado em tarefas cotidianas e vê a possibilidade de sofrer um novo abalo quando o passado resolve voltar.

Por que ver?
"(Por mostrar) a sutil delicadeza da perda e do tempo." ; Denilson Lopes, professor de comunicação.


Amor à flor da pele, de Wong Kar-Wai, Hong-Kong, 2000
O melhor do cinema atual você encontra aqui, numa seleção feita por especialistas no assuntoUma união que surge da dúvida. É assim que o jornalista Chow e a bela Li-chun se encontram. Vizinhos, eles desconfiam que seus respectivos cônjuges estão tendo um caso. Na câmera sutil de Wong Kar-Wai, você nunca vê a esposa de Chow nem o marido de Li-chun. Não vê também, apesar da aproximação evidente causada pelo medo da traição, qualquer demonstração de afeto entre os dois, principalmente pelo receio de Li-chun, mulher numa tradicional Hong Kong dos anos 1960. E é nessa linguagem sufocada no amor que surge da tristeza, que o cineasta imprime sua marca.

Por que ver?
"Com a sensibilidade de um Alain Resnais (cineasta francês) em seus tempos áureos, Wong Kar-Wai fez desta delicada história de amor uma obra-prima da forma e do conteúdo do cinema contemporâneo" ; Ciro Marcondes Filho, professor de comunicação.


Leia esta matéria na íntegra na edição n; 406 da Revista do Correio.

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