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Bactérias do bem

Os probióticos ajudam na absorção de nutrientes pelo intestino e combatem infecções causadas por outros microrganismos

postado em 26/05/2013 08:00

Os probióticos ajudam na absorção de nutrientes pelo intestino e combatem infecções causadas por outros microrganismosDor de barriga, mau humor, diarreia, prisão de ventre crônica são sinais de que algo não vai bem com a flora intestinal. Responsável pela absorção de nutrientes e eliminação de toxinas, o intestino tem papel importante no equilíbrio do sistema imunológico. Nessa tarefa, os chamados probióticos são essenciais. A Food and Agriculture Organization das Nações Unidas (FAO) define probióticos como ;microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro;. Conhecidos como bactérias do bem, eles são essenciais para o bom funcionamento do organismo.

A advogada Kellem Medeiros tinha constantes amigdalites e infecções urinárias. ;Resolvi procurar um nutricionista que pudesse me ajudar a não só me manter em forma, mas também a ser saudável;, diz. Ela toma probióticos há dois anos e, desde então, os problemas estão sob controle. ;Melhorei de saúde por causa de uma nova dieta que adotei e dos probióticos;, explica. Kellem eliminou o leite de vaca da dieta, já que descobriu a intolerância a lactose. A advogada também adicionou fibras ao cardápio ; elas são o principal alimento da flora bacteriana benigna. ;Alimentos folhosos, grãos, linhaça e verduras ricas em fibras tornam o ambiente propício à proliferação dos probióticos;, explica a nutricionista Isabela Mendonça.

O aparelho digestivo filtra e elimina coisas que podem danificá-lo, tais como bactérias, toxinas, produtos químicos e outros produtos residuais. Por outro lado, absorve substâncias de que nosso corpo precisa: os nutrientes dos alimentos e da água. ;Quando a pessoa se alimenta mal, vive estressada e consome pouca fibra, o resultado são as doenças crônicas provocadas pelas bactérias nocivas;, explica Isabela Mendonça. O desequilíbrio tem sido associado a diarreia, infecções do trato urinário, dor muscular e fadiga.

Os probióticos ajudam nessa ;filtragem;, mas são ainda mais importantes na defesa do corpo. O sistema imunológico é a principal proteção contra germes. Quando ele não funciona corretamente, podem ocorrer reações alérgicas, doenças autoimunes (como colite ulcerativa, doença de Crohn e artrite reumatoide) e infecções variadas.

O Lactobacillus acidophilus, por exemplo, é amplamente utilizado por pessoas intolerantes a lactose ; a bactéria produz a enzima lactase, que ajuda na digestão do leite. ;Cada probiótico vai ajudar o organismo de alguma forma, todos, porém, aumentam a capacidade do sistema imunológico;, explica a nutricionista Isabela. Já o Bifidobacterium animalis é um probiótico presente no intestino grosso e expulsa bactérias nocivas, que acabam sendo eliminadas nas fezes. Assim, o Bifidobacterium animalis previne o câncer de cólon e doenças intestinais. ;A única contraindicação relacionada com os probióticos é em casos de extrema gravidade, como fissuras no intestino;, ressalta a especialista.

Infecções crônicas costumam ser tratadas com o uso prolongado de antibiótico, o que contribui para a disbiose intestinal. ;Antibióticos matam todos os tipos de bactéria, não diferem as boas das más, por isso, depois de um período prolongado do seu uso, é preciso recompor a flora;, explica a nutricionista Maíra Attuch. Quando o número de bactérias nocivas é maior do que o número de bactérias boas, o sistema imunológico enfraquece, abrindo caminho para infecções de todo tipo. A secretária Sabrina Milani passou por esse desequilíbrio. ;Problemas intestinais e ginecológicos eram constantes. Depois que mudei a alimentação, melhorou muito;, comemora. O surgimento do fungo Candida albicans, que afeta muitas mulheres, pode ser resultado dessas deficiências. ;Isso indica que, na competição entre os probióticos e o fungo, quem ganhou foi o fungo;, explica Maíra. As bactérias boas precisam de fibras para crescer, já os microrganismos patogênicos necessitam de açúcar, farinha branca e laticínios.

Na maioria das vezes, os probióticos são criados no processo de fermentação ; eles precisam apenas de um bom lugar para crescer. Organismos de fermentação produzem álcool, ácido láctico e ácido acético ; conservantes que mantêm os nutrientes e evitam a deterioração. Além dos suplementos vendidos em farmácias em cápsulas e sachês, as bactérias do bem podem ser encontradas no iogurte, no kefir, no chucrute, no kimchi (vegetais fermentados) e em alguns tipos de queijo. Os métodos tradicionais de conservação da carne, como a cura de salame, também usam fermentação de lactobacilos para a conservação dos alimentos, no entanto, por serem industrializados, não fornecem grandes benefícios. ;Os iogurtes vendidos em supermercados contêm muito açúcar e número insuficiente de probióticos para alguém que está com deficit na flora intestinal;, explica Maíra Attuch.

Uma das maneiras de produzir o probiótico em casa está na fermentação do grão kéfir. A professora Sílvia Mari tinha constantes resfriados e gripes até ganhar do médico seus primeiros grãos de kéfir. ;O kéfir é um conjunto de microrganismos em formato semelhante a um cristal. Geralmente, ele não é comercializado ; na maioria das vezes, é passado para frente por alguém que o cultiva;, explica a nutricionista Maíra. O grão de kéfir é um agrupamento com vários microrganismos em simbiose. Para manter as bactérias em constante crescimento, os grãos devem estar em contato com alguma fonte de açúcar para que haja fermentação: leite ou água com açúcar mascavo. A fermentação pode variar de 6 horas a 48 horas. Quanto mais tempo fermentando, mais ácido. A indicação dos nutricionistas é que se beba o líquido passadas 24h de fermentação. ;Tomo a água do kéfir todos os dias, notei grande diferença na imunidade e no intestino preso. Se misturado com suco, fica parecendo refrigerante;, recomenda Sílvia. O líquido pode ser conservado na geladeira por até três dias.

O que causa a disbiose intestinal?
- Uso de medicamentos, principalmente antibióticos
- Estresse (hormônios do estresse podem incentivar o crescimento de bactérias ruins)
- Má alimentação (excesso de açúcar, de conservantes, de álcool e de alimentos processados)
- Tratamentos médicos agressivos, como radioterapia ou quimioterapia
- Excesso de consumo de proteínas de origem animal, especialmente as altamente processadas.

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