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Perigosa desconhecida

Transmitida ao homem pelo carrapato-estrela, a febre maculosa é uma doença pouco conhecida e de difícil diagnóstico. Em casos graves, pode até matar se não for tratada a tempo

postado em 26/05/2013 08:00
Mais associado a clínicas veterinárias do que a hospitais, não é só para cachorros e outros animais que os carrapatos representam perigo. Eles são responsáveis por uma série de doenças graves em humanos, que, talvez por serem subnotificadas, são também pouco conhecidas pela população e, muitas vezes, dos próprios médicos. "A maioria dos profissionais ainda não está preparada para fazer o diagnóstico, porque simplesmente não pensa nessa possibilidade. Como os sintomas são comuns a outras infecções, é mais fácil se lembrar de dengue ou de leptospirose, por exemplo", alerta o médico infectologista e especialista em medicina tropical Tarquino Sanchez, do Hospital Santa Lúcia.

Por causa disso, existem poucos registros de doenças transmitidas pelo carrapato no Brasil ; o que talvez ajude a deixá-las sob o status de "raras", do qual alguns infectologistas discordam. A maior parte dos casos conhecidos gira em torno da febre maculosa, uma doença transmitida pelo carrapato-estrela após contato direto com a pele e que, se não tratada a tempo, chega a uma assustadora taxa de 80% de mortalidade. "Pode ser que ela seja subnotificada, mas a maioria dos casos está registrada nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. Investigar com o paciente se ele esteve nessas regiões recentemente ajuda no diagnóstico diferencial", explica Sanchez. A doença começa sem muito alarde: febre, dor de cabeça e pelo corpo e desânimo ; sintomas comuns a muitas outras enfermidades. No entanto, em casos severos, pode causar alterações na coagulação sanguínea e levar a complicações graves. Tanto que é acompanhada de perto pelo Ministério da Saúde: desde 2001, seu diagnóstico é de notificação obrigatória ao órgão.

Além da febre maculosa, o parasita transmite doenças ainda menos populares e de nomes um pouco mais complicados: babesiose, ehrlichiose e a doença de Lyme, que se apresenta de forma muito particular no Brasil e pode demorar anos até se manifestar. Como não existem vacinas nem repelentes eficientes contra os carrapatos, os especialistas recomendam como forma de prevenção evitar o contato com animais reservatórios ; como gado, roedores, cavalos e aves ;, e, em caso de áreas de risco, como fazendas ou zonas rurais, usar roupas claras e de mangas compridas e botas de cano longo. "Também é fundamental a implantação de campanhas de informação e educação a respeito das doenças e o incentivo ao estudo e à pesquisa nos centros de ensino básico e superior do país", complementa o infectologista, tropicalista e professor da Universidade Federal de Goiás Marco Tulio Garcia-Zapata.


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