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A forma do século 21

A questão estética deixou de ser a marca fundamental do design. No século 21, a forma está aliada a outros preceitos: além de sustentáveis, os produtos devem prestar serviço e despertar a emoção. A preocupação com a mobilidade urbana e a onda retrô são outros pontos fortes

postado em 30/06/2013 08:00
Por muitas décadas ; da Revolução Industrial ao fim da Segunda Guerra Mundial ;, a sociedade consumiu tudo o que era fabricado como bem necessário ao cotidiano. Objetos relegados apenas a um objetivo: cumprir uma função. Até que um novo conceito se abrigou entre as prateleiras. Acompanhando o crescimento econômico dos países, o poder aquisitivo da população, o desenvolvimento de novos materiais e da tecnologia, o design de produto passou a atender não só a lista de compras, mas a oferecer ao consumidor um encantamento. Para o sociólogo francês Jean Baudrillard, o design não tem outra meta a não ser devolver aos objetos industriais o aspecto lúdico, escreveu em A sociedade de consumo, publicado em 1970. Fosse ele direcionado à criação de uma cadeira, de uma garrafa de refrigerante, de uma caneta ou mesmo de um espremedor de frutas, o design revolucionou a forma como pensamos e passamos a consumir.

Em consonância com a cena cultural, socioeconômica e comportamental da sociedade, o design de produto ajusta-se aos ponteiros do relógio e lança novas características ao longo dessas duas últimas décadas. Entre alguns fatores que permeiam a criação de novos objetos estão: a necessidade de pensar em uma cadeia sustentável, da concepção e execução ao descarte; a preocupação em atender múltiplas necessidades simultaneamente, caso dos celulares inteligentes; lidar com as infinitas possibilidades proporcionadas pelo avanço da computação, dado o exemplo da impressão 3D. Por isso, nesta sexta reportagem da série "Nosso Tempo", ajustamos o foco para os produtos e os protagonistas capazes de nos ajudar a refletir sobre o que se cria e se pensa sobre design neste século.
A questão estética deixou de ser a marca fundamental do design. No século 21, a forma está aliada a outros preceitos: além de sustentáveis, os produtos devem prestar serviço e despertar a emoção. A preocupação com a mobilidade urbana e a onda retrô são outros pontos fortes

Os designers
Eles cresceram sentados em frente ao computador, com a certeza de que o mundo está, de fato, ao alcance dos dedos, dada a velocidade da internet. Apreendem novos contextos, relacionam-se com diferentes culturas e, principalmente, dominam a tecnologia, ferramenta indispensável à criação. São eles, jovens designers a imprimir uma assinatura que, a partir de propostas autorais, fortalecem dentro e fora do país o design brasileiro para além dos já renomados irmãos Fernando e Humberto Campana. A exemplo da dupla que conseguiu imprimir um "estilo verde-amarelo" mundo afora, essa nova geração também se volta às idiossincrasias da cultura nacional, matérias-primas e modo de pensar, sem apelar para o óbvio. No tablet ou no moleskine desses criadores, o design brasileiro ganha o reforço de novos olhares. Entre alguns nomes, destacam-se:

1. Zanini de Zanine
Designer carioca, Zanini de Zanine cresceu em meio a artistas plásticos, designers e compositores brasileiros. Um cenário que não poderia responder a outra coisa senão pelas criações orgânicas, criativas e contemporâneas do seu ateliê. Filho do designer José Zanine Caldas, tomou gosto pela madeira ao acompanhar o trabalho do pai e decidiu dedicar-se ao design de móveis, após um estágio com Sérgio Rodrigues. A partir de 2003, quando concluiu o curso de desenho industrial, Zanini deu início à produção de móveis feitos de madeira de demolição (colunas, vigas e mourões de casas antigas), que logo foram batizados de "Carpintaria Contemporânea". Dois anos depois, criou uma nova linha de móveis feitos a partir de plástico, metacrilato e metais. Entre algumas das peças destacadas pelo próprio designer como significativas, está a poltrona Balanço, criada para a marca francesa Tolix e apresentada no Salão Maison et Objet em Paris no ano passado.

2. Bernardo Senna
Nascido no Rio de Janeiro, Bernardo Senna participou da criação da primeira revista brasileira de design on-line, a Novo Conceito. Entre 2004 e 2006, coordenou o CentroDesignRio e, em 2005, foi convidado a representar os designers da sua geração no Salão Maison et Objet em Paris. Apesar de trabalhar com criações em larga escala, para grandes empresas nacionais e estrangeiras, o designer surpreende aqueles que compram seus produtos, seja pelo uso de novos materiais, seja pelas soluções, seja pela tecnologia. A estante Torta, peça que desenhou em 2000 para a Tok & Stok, foi um dos projetos que, segundo o próprio designer, permitiu uma compreensão do que ele realmente buscava ao trabalhar com design.

3. SuperLimão
A partir de um processo empírico, os designers Antonio Carlos Figueira de Mello, Thiago Rodrigues, Lula Gouveia e Sérgio Cabral, do estúdio paulista SuperLimão, dão vida ao mobiliário. Traduzindo: eles deixam mesmo a peça tomar chuva, sol, vento e o que tiver que acontecer até chegarem ao resultado desejado. Preocupados com o impacto ambiental e social, os sócios prezam por materiais pouco comuns, como descartes industriais. É deles, inclusive, o projeto do banheiro do apartamento de Humberto Campana, no qual as tubulações ficam aparentes. Fundado em 2002, o estúdio cria móveis premiados, caso da cadeira feita de chapa de papelão prensado, primeira invenção do coletivo. Do lixo para o ateliê, o papelão ganhou um tratamento estético e se tornou um dos objetos mais requisitados do SuperLimão.

4. Brunno Jahara
Com um pé no Rio de Janeiro, onde nasceu, e outro em São Paulo, onde trabalha, Brunno Jahara apresenta uma visão própria, e bem brasileira, na assinatura de suas peças. Em seus desenhos, frequentemente, misturam-se formas orgânicas com inspiração tropical, a partir de uma diversidade de materiais. Caso da coleção Batucada, apresentada no Salão do Móvel de Milão em 2010. São vasos, tabuleiros, candeeiros e luminárias com cara de metal amassado de tanto batuque. Coloridos, os objetos de alumínio anodizado (processo que conferiu resistência ao material) chamam a atenção pela singularidade da forma, do uso de materiais recicláveis e de uma apropriação da cultura dos morros cariocas.

Leia a reportagem completa na edição n; 424 da Revista do Correio.

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