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Um casamento muito especial

Depois de adiar o sonho de se casar devido ao diagnóstico de câncer de mama, Cristiane viveu o grande dia com tudo a que tinha direito. Sua história venceu um concurso cultural promovido pelo Correio e, agora, é contada e mostrada aqui

Gláucia Chaves
postado em 30/06/2013 08:00

Como toda noiva, Cristiane Bitencourt Bezerra pensou com cuidado em cada detalhe do casamento. A decoração, a igreja, os noivinhos em cima do bolo, tudo foi escolhido com o preciosismo de quem queria garantir que o grande dia fosse impecável. A única coisa que não entrou na lista de preocupações foi o câncer de mama. O diagnóstico definitivo veio em 6 de janeiro de 2012, 38 dias antes da data marcada para o casamento. A princípio, a ideia era continuar com os preparativos, que já estavam na reta final. "Não me importava de casar carequinha", justifica. Quanto mais exames fazia, contudo, mais agressivo o câncer se mostrava. Até que os próprios médicos a aconselharam a adiar o sonho. Conheça um pouco da história.

Depois de adiar o sonho de se casar devido ao diagnóstico de câncer de mama, Cristiane viveu o grande dia com tudo a que tinha direito. Sua história venceu um concurso cultural promovido pelo Correio e, agora, é contada e mostrada aqui


Os noivos: Cristiane Bitencourt Bezerra e Lewander Francisco Pedrosa
Data do casamento religioso: 22/06/2013
Local da cerimônia: Igreja Imaculada Coração de Maria
Local da festa: Mansão Varandas Park

A descoberta
Embora o diagnóstico tenha sido dado em 2012, o câncer já estava instalado desde o ano anterior. "Senti o nódulo em julho de 2011, só que eu estava trabalhando demais", conta Cristiane. "Sempre dizia ;semana que vem, vou ao médico;. Mas nunca ia." Incomodada, ela resolveu mostrar o nódulo para a mãe. Os anos de experiência no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) fizeram com que a matriarca se assustasse de imediato com o que viu. No dia seguinte, mãe e filha seguiram para uma consulta com o cirurgião plástico que colocou a prótese de silicone que Cristiane já usava havia quatro anos. A ecografia mamária pedida pelo médico, no entanto, não acusou nenhum problema mais sério. "Acho que o aparelho era muito velho, então, a imagem não configurou câncer. Deu fibromastite, que é um nódulo de gordura", explica.

Um mastologista amigo da família viu o exame. Pediu uma outra análise, chamada punção biópsia aspirativa (PBA), usada no diagnóstico das patologias mamárias. O exame foi feito no início de dezembro. Cristiane passou pelas festas de fim de ano completamente tranquila e convencida de que não estava doente. O ano-novo chegou e, com ele, a hora de pegar o resultado dos exames. "Quando cheguei à clínica, todo mundo ficou me olhando. Todos me perguntavam se eu era a Cristiane, e eu sem entender nada", relembra. "Demoraram meia hora para me entregar os resultados, sem falar nada." No papel, o diagnóstico: sugestivo de carcinoma ductal. "Não fazia ideia do que aquilo significava, então passamos na casa da minha mãe e mostrei o exame para ela. Na mesma hora, ela engoliu em seco."

Mesmo assustada, a mãe não disse nada. Preferiu que a filha soubesse da doença pela boca de um oncologista e levou os exames para o especialista. No dia seguinte, às 7h30, o telefone da casa de Cristiane tocou. Era a mãe, em prantos, pedindo que a filha fosse o mais rápido possível ao HRAN. "Fiquei desesperada. Nessa hora, eu chorei muito, fiquei sem chão. Parecia que tinha aberto um buraco. Pensei: deve ter sido algo muito grave para deixar minha mãe assim." A partir desse momento, Cristiane começou a passar por uma bateria de exames de urgência. Por conta da aparente gravidade do câncer, a biópsia foi pedida para o dia seguinte, e o resultado saiu em apenas três dias.

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O tratamento
Do primeiro exame de imagem ao diagnóstico final, o tumor, que tinha 2,6 centímetros quando foi descoberto, já estava com quase um centímetro a mais. Isso tudo em apenas um mês. Cristiane passou então por dois oncologistas, seis sessões de quimioterapia e 27 ciclos de radioterapia. Além do desgaste do tratamento, ela teve que lidar com uma sequência de notícias desanimadoras: primeiro, o médico avisou que uma das possíveis consequências do tratamento era a infertilidade. O casal foi em busca de clínicas de reprodução assistida, mas a retirada dos óvulos, feita por indução hormonal, só faria o tumor crescer mais rapidamente. Depois, Cristiane foi informada de que teria que retirar a mama por completo. "Diante disso, decidi tirar a direita também. Na minha cabeça, o risco que eu tinha antes de ter um câncer de mama era mínimo. Então, esse risco de ter na outra mama se tornou gigantesco."

As sessões de quimioterapia foram intensas. Cristiane precisou passar pela versão mais agressiva do tratamento, por conta do tamanho do tumor. Seus cabelos caíram e ela ficou mais fraca e abatida. Mesmo após a mastectomia com esvaziamento axilar ; cirurgia em que, além da mama, os médicos retiram linfonodos (gânglios linfáticos) da axila ; , os exames descobriram que uma célula cancerígena já estava se espalhando pelo local. Por precaução, os médicos decidiram que a paciente deveria passar por um bloqueio hormonal, também conhecido como menopausa clínica, induzida por medicamentos.

Ainda em janeiro, Cristiane passou pela maior e mais importante cirurgia de todas: a reconstrução da mama esquerda. "Tive que tirar a pele, músculo e pele das costas para colocar na frente", descreve. Na mesma operação, ela retirou a mama direita. Foram oito horas deitada na mesa de operações. A quantidade cavalar de anestesia e a perda de litros de sangue a deixaram desacordada por dois dias inteiros. "Fiquei em anemia profunda e em observação no quarto, com oxigênio e oxímetro de pulso", relembra.


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A recuperação
Cristiane ainda precisa passar por uma cirurgia para reconstruir a mama com silicone, mas preferiu deixar para quando voltar da lua de mel. Em meio a todo esse caos, um rosto conhecido esteve sempre por perto: em todas as sessões de rádio e quimioterapia, Lewander Francisco Pedrosa, o noivo, não arredou o pé do lado da amada. "Já estávamos morando juntos e ele não me deixou sozinha nem por um minuto", conta. "Ele é muito para cima, muito alto astral. Tivemos momentos de fraqueza, choro, mas foram mínimos, porque ele não deixava." Quando o casal recebeu a notícia da doença, ela conta que ele foi o primeiro a querer manter a data do casamento. "Ele assumiu por completo. Isso, para mim, foi o máximo, porque ele poderia muito bem desistir. É muito difícil para o homem."

Passado o tratamento, Cristiane pôde retomar os preparativos para o casório. Ela conta que, antes de descobrir a doença, os principais contratos, como bufê e decoração, já estavam fechados. "Faltavam só detalhes menores, coisas que noiva inventa para dar dor de cabeça", brinca. Como ainda está em tratamento, ela não está trabalhando. Por isso, todo o tempo livre foi dedicado aos últimos detalhes da cerimônia e da nova festa. Prendada, a noiva aprendeu a fazer tudo ; das lembrancinhas aos convites.

Cristiane enfeitou 50 caixinhas de madeira com tecido, colocou lacinhos nas lembrancinhas e até aprendeu a mexer em programas de design gráfico para mudar o layout dos convites. A festa, inicialmente programada para 200 convidados, acabou ficando com 300. "O que ficou corrido é que, de um mês para cá, tive que praticamente dobrar tudo", explica Cristiane. Com o tempo extra, a noiva também pôde colocar a imaginação para trabalhar: em vez de um livro com assinaturas dos convidados, por exemplo, o casal resolveu criar uma árvore de digitais. No mesmo programa de computador que usou para modificar o visual dos convites, ela criou o desenho de uma árvore seca. As digitais dos amigos e familiares presentes na cerimônia serviram como as folhas da planta. "Depois, posso mandar emoldurar e guardar em casa, para usar na decoração", completa ela.

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A festa
Em uma cerimônia tradicional e emotiva, Cristiane e Lewander realizaram o sonho de trocar alianças, cerca de um ano após a notícia mais assustadora de suas vidas. Os dois fizeram questão de fazer tudo como manda o figurino: véu, grinalda, buquê, damas de honra e igreja florida. Para os cabelos ainda não muito volumosos, Cristiane investiu em um aplique. Os dois até se deram ao luxo de alguns detalhes fora do "pacote básico", como fogos de artifício. "Todos sabem o que passamos para chegar até aqui", disse a noiva, no início da festa. "Agora, quero que todos se divirtam, porque a festa vai até tarde."

O CONCURSO
Entre 23 e 26 de maio, os casais que visitaram o estande do Correio no evento Luxo de Festa foram convidados a participar do concurso cultural "Diário de um casamento". Uma comissão escolheu as cinco respostas mais criativas para a pergunta: "No dia do seu casamento, qual manchete você gostaria de ver no jornal?". Um dos depoimentos seria escolhido e os autores ganhariam uma cobertura jornalística de seu casamento, que seria publicado aqui na Revista.Cristiane venceu a disputa.

Depois de adiar o sonho de se casar devido ao diagnóstico de câncer de mama, Cristiane viveu o grande dia com tudo a que tinha direito. Sua história venceu um concurso cultural promovido pelo Correio e, agora, é contada e mostrada aqui

A íntegra do depopimento de Cristiane Bitencourt Bezerra

"Nossa história começou em abril de 2008 quando nos conhecemos por meio de um casal de amigos dispostos a nos unir. Nunca acreditei muito nessas coisas ;armadas;, então não levei muito a sério a intenção deles. Um feriado estava próximo e resolvemos marcar uma ida à Chapada dos Veadeiros para descansar um pouco. Mal sabia eu que aquele lugar mágico me guardava a maior surpresa da minha vida.

Dois dias depois do primeiro encontro fomos rumo ao nosso descanso. Neste mesmo dia já comecei a olhar para ele de uma forma diferente, acho que encantada com seu jeito divertido. Chegamos na Chapada e, procurando aonde acampar, encontramos um lugar mágico, batizado por nós como Eixo 14.14 e ali mesmo colocamos as barracas e começamos a nos conhecer. Eis que no dia seguinte ele me fisgou. Jogou todo o seu charme e encanto em um momento em que estávamos sob o luar, deitados no chão em cima de jornais ; com uma linda e enorme lua a nos iluminar - e ele me surpreende com um beijo. Pronto. Nossos destinos estariam cruzados para sempre. Acreditei naquele momento que aquele lugar era realmente mágico. Deste dia em diante não nos distanciamos mais. Por isso a data é sempre lembrada como o início do nosso namoro.

Vieram dificuldades, discursões, problemas, como em qualquer outro relacionamento de casal.Aliás, hoje vejo que todos eles foram necessários para o nosso amadurecimento e crescimento, assim como para tomar a decisão de unir nossas vidas. Em setembro de 2011 ficamos noivos. Foi uma noite linda, com a celebração de uma missa e a benção das nossas alianças. Após a cerimônia, marcamos enfim nosso casamento para o dia 13 de março de 2012. Os preparativos estavam a mil por hora quando em janeiro de 2012 fomos surpreendidos com um diagnóstico que mudaria nossas vidas completamente. Fui diagnosticada com um grave câncer de mama em estágio avançado.

"E agora?", era o questionamento que sempre vinha à cabeça. Eram tantas perguntas sem respostas. Tantas dúvidas, tantos procedimentos, tantas novidades. E uma árdua realidade: teríamos que adiar nosso grande dia para poder focar totalmente na minha cura. O mês da descoberta foi também o período em que levávamos uma porrada a cada noticia que surgia sobre as complicações da doença.

Decidida, escolhi lutar pela cura. Junto ao meu então noivo, levantei a cabeça e, com muita fé em Deus de que tudo ficaria bem e certa de que, se esta era a vontade do Pai, nós seriamos fiéis à vontade Dele e seguiríamos em frente.

Foi a melhor decisão de nossas vidas. 2012 foi um grande ano. Aprendemos juntos, apanhamos da vida juntos, crescemos juntos, amamos mais, brigamos também, amadurecemos nossa relação, aprendemos a nos respeitar e a lista não tem fim. Foi um grande ano, sobretudo de lições. E como não poderia ser diferente, juntos demos a mão um ao outro, nos erguemos, e hoje nos preparamos para dar mais um grande passo, mais certos do que nunca sobre a decisão de unir nossas vidas.

E que venha mais! Mais vida, mais saúde, mais desafios. Sim, desafios pois sabemos que muitos ainda virão e da mesma forma que passamos por 2012 JUNTOS, iremos passar por todos os outros que nos forem dado. Só que dessa vez com uma aliança física, testemunhas e amigos, compartilhando o nosso amor."

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