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O hormônio ocitocina é um dos segredos da fidelidade

O neurologista Ricardo reixeira

postado em 09/12/2013 12:25

O neurologista Ricardo reixeira

Dr. Ricardo Teixeira

Cientistas alemães da Universidade de Bonn confirmaram nesta última semana que a ocitocina é uma ferramenta valiosa para um casal atravessar décadas e décadas invictos de traições. Quando o hormônio é administrado a homens com relações estáveis e, a estes são apresentadas fotos de suas mulheres, o sistema de recompensa cerebral é estimulado de forma mais intensa, fazendo o cérebro ficar mais atraído pela parceira. O experimento foi publicado no prestigiado periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

Quarenta homens heterossexuais foram estudados. Após uma dose do hormônio por spray nasal os homens apresentavam maior ativação do sistema de recompensa cerebral medido pela ressonância magnética funcional. Além disso, os homens passaram a perceber suas mulheres mais atraentes. Esse efeito não aconteceu com outras mulheres. Esses resultados foram confirmados com a aplicação de um spray placebo que não provocou os mesmos efeitos.

Em um segundo experimento, os pesquisadores testaram se o efeito da ocitocina era o mesmo se imagens de mulheres do círculo social eram exibidas, colegas de trabalho de vários anos. Nada feito. O efeito ocitocina só existia mesmo com a parceira. A simples familiaridade não fez diferença.

O tipo de reação que uma relação estável provoca no cérebro não é muito diferente do que uma droga provoca. Ambos ativam os sistema de recompensa e um rompimento não é fácil. No caso da relação, de uma hora para outra abaixam os níveis de ocitocina e isso deixa o sistema de recompensa em abstinência. Entretanto, a administração de ocitocina em situação de separação pode até piorar as coisas, pois pode fazer a pessoa sentir mais falta ainda do parceiro.

Monogamia pode parecer algo sem sentido sob a ótica da biologia evolutiva e, na verdade, os humanos parecem ser a exceção entre os mamíferos. Por um lado mais parceiras garantem maior sucesso de propagação dos genes a gerações futuras. Por outro lado, a monogamia garante à prole mais estabilidade, maior chance de sobrevida.

* Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor da pós-graduação em divulgação científica e cultural da Unicamp. Escreve às segundas neste espaço. Contato:

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