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Se esta Brasília fosse minha

Viver em uma cidade-parque significa um convite a sair de casa e aproveitar os espaços públicos. Há algumas décadas, o brasiliense percebeu essa vocação da capital e, hoje, mais do que nunca, decidiu ocupar o que é de todos por direito

Gláucia Chaves
postado em 16/02/2014 08:00
Daniela e Viviane precisavam de um lugar que não cobrasse os olhos da cara para comemorar o aniversário dos filhos. Patrícia gosta de deixar poemas espalhados pela cidade para relembrar às pessoas como pode ser vivo o local em que eles moram. Juliano e Rubens tinham um sonho: ver todas as tribos de pessoas juntas, no mesmo lugar. André queria fazer música embaixo da sombra de uma das milhares árvores do Plano Piloto. Cacai achou que seria uma boa ideia organizar uma festa na passagem subterrânea do Eixão. Miguel recebeu um pedido especial e pensou: por que não juntar artistas, artesãos e quem mais tiver algo para vender em uma feirinha, com jeito de festa, no Calçadão da Asa Norte?

Festas com projeções gigantescas, feirinhas com produtos locais ou apenas uma tarde no Parque da Cidade, tanto faz. Seja a partir de iniciativas artísticas, seja por puro prazer de sair de casa, todas essas pessoas têm em comum a vontade de "usar" Brasília. Ideias para aproveitar a cidade-parque pululam cada vez mais entre os brasilienses, ávidos por ocupar espaços ociosos e deixar, pelo menos por algum tempo, a masmorra dos condomínios fortemente protegidos. A vida fora dos muros é tão intensa na capital que mapear tudo o que acontece é tarefa ingrata. Procuramos, então, alguns exemplos para ilustrar quem são os brasilienses que acreditam piamente que há vida fora de casa. Vamos sair?

Viver em uma cidade-parque significa um convite a sair de casa e aproveitar os espaços públicos. Há algumas décadas, o brasiliense percebeu essa vocação da capital e, hoje, mais do que nunca, decidiu ocupar o que é de todos por direito
Festa na quadra
Viviane Oliveira, 38 anos, especialista em comunicação institucional, dispensou os valores altos de locais para festas infantis e organizou o aniversário de 8 anos do filho na entrequadra da 104/105 Sul. O plano inicial era alugar um campo de futebol society, já que o futebol é uma das paixões do menino Vinicius. Mas o aluguel do espaço não sairia por menos de R$ 700. A reforma da entrequadra veio na época da festa e Viviane pensou que seria uma boa maneira de comemorar sem limitar a quantidade de convidados e sem gastar demais. "Antes, havia muitos usuários de drogas, mas consertaram a quadra de esportes, colocaram bancos e campo de areia."

Faltava pensar em como organizar uma festa de aniversário ao ar livre. Algumas pesquisas na internet depois, Viviane teve uma ideia das providências indispensáveis: saco de lixo, canga, toalha de piquenique, bandeja para o bolo. "Contratamos duas carrocinhas, uma de pipoca e uma de cachorro-quente, que não precisavam de energia elétrica." O toque final foi dado pela cama elástica e pela comida extra para os curiosos e os passantes. "A inauguração da entrequadra reformada foi no mesmo dia, então muita gente achou que a festinha do Vinicius fazia parte do evento. A cama elástica foi usada por crianças que a gente nem conhecia."

Viviane acha que os "convidados adicionais" deram justamente o clima que ela queria para a festa: algo participativo, na cidade, para todos. "Mostrou que a quadra está sendo usada pelas pessoas e que a gente está dando valor às melhorias que foram feitas." Em Brasília há quatro anos, a carioca acredita que sair mais de casa deveria ser uma vontade de todos que vivem na cidade. "Aqui é um lugar bastante criticado por ser muito automobilístico. Cabe a nós mudar isso."

Leia a reportagem completa na edição n; 457 da Revista do Correio.

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