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Família de plástico

O protesto de uma fotógrafa americana se tornou um viral na web. Com a ajuda de manequins, ela questiona a "obrigatoriedade" de as mulheres se casarem e terem filhos

Juliana Contaifer
postado em 13/04/2014 08:00

O protesto de uma fotógrafa americana se tornou um viral na web. Com a ajuda de manequins, ela questiona a

Não é fácil ter mais de 30 anos. Se está solteiro, a pressão é por arranjar um companheiro e se casar. Já casou? Onde estão os filhos? Já tem filhos? E a sua carreira? Quando vai abrir o próprio negócio? Quando vai ser promovido a um cargo melhor? A sociedade atual continua engessada por tradições e valores antigos e a forma para o sucesso é uma só. A pressão para se encaixar vem de todos os lados, e não só da família.

A fotógrafa americana Suzanne Heintz sofre com essa coação todos os dias. Solteira e criada na religião mórmon, que dá bastante importância à família, Suzanne escutou da mãe que não existe ninguém perfeito e que ela só precisava escolher alguém para se casar. Em resposta, ela argumentou que maridos e filhos não são coisas ; não dá para ir ao mercado e sair com eles embaixo do braço. Ou dá?

Foi assim que começou o projeto Playing house, em português, Brincando de casinha. A fotógrafa retrata cenas de um álbum de família com dois manequins ; um faz as vezes de marido e o outro, de filha. O figurino remete aos anos 1950, época em que o ideal de família nuclear perpassava a estética publicitária. É também uma provocação, para que o espectador perceba que, até hoje, a sociedade continua baseada nas mesmas tradições.

;Parece que atingi um nervo sensível quando pergunto: ;O que na nossa cultura nos faz achar que não importa o que façamos com a nossa vida, é sempre insuficiente?;. Tenho recebido feedback do mundo inteiro, acredito que todas as pessoas estão sujeitas às mesmas pressões, mas ninguém fala nada a respeito;, afirma Suzanne. O cenário das fotografias era, a princípio, a própria casa da fotógrafa. Mas ela logo percebeu que chamava ainda mais atenção para o trabalho ao fotografar em público ; a família de plástico, inclusive, embarcou para Paris para uma sessão de fotos.

Além de chamar a atenção com os bonecos, a fotógrafa lança mão de humor. A ironia é uma das partes mais importantes de seu trabalho. ;Uso a sátira por acreditar que é ela é essencial para a aceitação do que parece ser um remédio amargo, a crítica social. Eu sei que pareço uma boba tirando fotos com minha família falsa, mas o que estou fazendo é usar o humor como uma ferramenta. Estou tentando fazer as pessoas falarem;, conta. Desse modo, Suzanne consegue fazer o espectador rir e se interessar pelo assunto. ;Alguns ficam curiosos o suficiente para discutir comigo se a vida tem que ser um tipo de fôrma, em que todos têm que se encaixar. Quero desafiá-los.;

Suzanne, que se relaciona com um companheiro, afirma ter uma família, apenas não com filhos. Nunca se casou por não acreditar que seja uma escolha certa para ela, mas carrega consigo o amor e o apreço pelos familiares que escolheu ter: os amigos. Para ela, é o suficiente. ;Conforme amadureci, descobri que eu não tinha que fazer o que todo mundo estava fazendo só porque isso é o que se espera de mim. Nós precisamos aceitar nossas vidas pelo que elas são ; e pelo que elas nos tornou ; e parar de tentar atingir uma imagem de sucesso definido pelas tradições e pelas expectativas dos outros;, defende.

O projeto continua
Suzanne Heintz conta que o projeto Playing house ainda não está completo. O próximo passo é um livro e um documentário. Em junho, vai fotografar o próprio casamento com seu manequim como uma crítica à obrigatoriedade do casamento. Em seguida, o foco é no manequim infantil. A ideia é fotografá-lo na escola e entrevistar os colegas de sala para entender o que eles esperam de seus próprios futuros. Todas as imagens estão disponíveis no site de Suzanne: suzanneheintz.com.

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