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Somos todos mulheres

O machismo é a raiz dos principais crimes cometidos contra a população feminina. E os homens podem ajudar a mudar essa realidade. Para a Revista, alguns brasilienses aceitaram ser protagonistas dessa luta

Gláucia Chaves, Renata Rusky, Juliana Contaifer
postado em 13/04/2014 08:00

A sociedade brasileira é machista. Apesar da imagem da mulher moderna, bem-sucedida, independente, que trabalha e ganha seu próprio dinheiro, ainda se espera que ela volte para casa, cuide dos filhos, alimente o marido e limpe a casa, sem reclamar. Ela pode ser tudo e deve ser muito mais, mas não pode usar a roupa que quer ou andar sozinha à noite.

Apesar de o índice de estupros ter diminuído em 6,7% no primeiro trimestre de 2014 com relação ao mesmo período de 2013, entre janeiro e fevereiro deste ano, foi registrada uma média de dois estupros por dia no Distrito Federal, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do DF. Na maioria dos casos, existe relação entre vítima e agressor. Em casa, ela também não está segura. No comparativo entre os anos de 2012 e 2013, o número de denúncias enquadradas na Lei Maria da Penha, só no Distrito Federal, subiu 12,1%. Foram 14.731 casos de mulheres que tiveram que acionar a polícia para fugir da violência dentro de casa, em sua maioria praticada por homens em quem confiam e amam. Sem falar nos casos que não chegam ao conhecimento das autoridades ; e eles não são poucos.

No cerne de todos esses crimes, está o machismo, que perpetua estereótipos que findam em violência física e, em muitos casos, na morte. Os movimentos feministas vivem em constante campanha contra essas práticas e, apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito. Inclusive ; e sobretudo ; pelos homens. A Revista procurou alguns em Brasília, que de pronto aceitaram ser protagonistas dessa batalha num momento em que o país parou para discutir o assunto ; parte deles já integra essa luta. Até porque, ao ler as opiniões desta reportagem, fica latente o quanto o machismo também os prejudica. Apesar do erro da pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o debate a respeito do tema deve ser um caminho sem volta. E os protestos não podem parar. O machismo é a raiz dos principais crimes cometidos contra a população feminina. E os homens podem ajudar a mudar essa realidade. Para a Revista, alguns brasilienses aceitaram ser protagonistas dessa luta

1. Mateus Dounis Guimarães
; 28 anos
; Gestor público
; Trabalha com projetos de geração de renda para autonomia e emancipação das mulheres

;Há séculos, o mundo é liderado por homens e compreendo que as injustiças sociais estão diretamente relacionadas a esse fato. Creio que, se tivéssemos mulheres à frente dos espaços de poder, teríamos um mundo menos desigual, porque, em geral, as mulheres são mais solidárias e nutrem mais sentimentos de humanidade. A cultura machista e patriarcal é estruturada por dogmas e preconceitos, e suas consequências se apresentam, por vezes, sutis e tidas como comuns no senso crítico de muita gente. Por partir de um olhar de subjugação ou de objetificação das mulheres, o machismo desumaniza as pessoas. Além disso, a cultura machista e patriarcal foi absorvida pelo capitalismo como um mecanismo de opressão, constituindo-se como um dos principais obstáculos para o estabelecimento da justiça e da paz social.;

2. Jairo Roberto Pinheiro Lima
; 57 anos
; Engenheiro


;Nós somos menos machistas do que no passado, quando a mulher era tratada como um mero objeto de prazer para os homens. Um dos últimos papéis de José Wilker, o da novela Gabriela, demonstrava bem como era essa relação. Hoje, elas são mais respeitadas e têm conquistado sua posição na sociedade, que é de todo direito delas, em cargos decisórios. Não cabe mais você comparar os seres humanos pelo sexo: todos somos iguais. Por isso, todos devem se respeitar para que tenhamos uma sociedade harmoniosa. Respeitar o próximo faz parte da dignidade humana. O lado mais nocivo do machismo continua sendo como ele faz com que a mulher seja vista como diferente simplesmente por ser mulher. Até pouco tempo, a engenharia não era considerada uma formação de mulher. Hoje, há várias mulheres em carreiras que antes eram tidas como masculinas. Isso é também um sinal de respeito. Não ver a mulher de forma diferente do homem é o mais fundamental para enfrentar o machismo. Tanto que me afasto de quem acha que as mulheres não são iguais aos homens, porque esses têm a mente pequena para enxergar a realidade. Meus amigos vivem na base do respeito. E é assim que uma sociedade pode viver bem. O machismo ainda é grande e forte, mas é menos forte do que era. Isso é um sinal de que estamos evoluindo.;

Sílvio Pozza
; 31 anos
; Profissional de tecnologia da informação
; Trabalhou na ONG Mulheres por um ano


;O machismo é uma construção histórica, e eu não consigo analisar de quem é a culpa. É reprovável sob várias óticas, o impacto na sociedade é totalmente negativo, tem-se retrocesso em várias possibilidades de avanço na ciência e na política por conta desse tipo de pensamento. Historicamente, grandes impérios, que duraram muitos anos, eram igualitários ; os egípcios e os mongóis são bons exemplos. E, desde o fim do século 19, quando começamos a ter mais registros de participação feminina, principalmente no mundo ocidental, é gritante o desenvolvimento. Em 130 anos, conseguimos andar o que freamos em 300. O machismo gera atraso.;

Leia a reportagem completa na edição n; 465.

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