Revista

Uma ideia que jamais saiu da cabeça

O chapéu panamá, na verdade, uma criação equatoriana, atravessa décadas com a mesma elegância sóbria e despojada

postado em 13/07/2014 08:00
O chapéu panamá, na verdade, uma criação equatoriana, atravessa décadas com a mesma elegância sóbria e despojadaEle é um dos itens mais desejados da moda e surge da vida simples de tecelões descendentes dos índios incas. A matéria-prima é produzida em um único lugar do mundo. Apesar do nome, é apenas no Equador que nasce a palha cultivada para fabricação do chapéu panamá. O item começou a ser chamado dessa maneira porque se popularizou ao ser usado pelos trabalhadores que construíram o Canal do Panamá, responsável por ligar o Oceano Atlântico ao Pacífico.

Há cerca de 10 anos, o empresário Marcelo Sarquis resolveu investir no acessório. A duras penas, conseguiu comprar alguns exemplares diretamente com o governo equatoriano. De volta ao Brasil, teve certeza de que o investimento era certo por causa do chapeleiro Almir Damazio, especialista na arte de fabricar e reformar chapéus. "Ele comprou todos os exemplares que eu havia trazido. Como o Seu Almir tem um negócio antigo e entende muito do assunto, vi que era algo bastante promissor", conta.

O chapeleiro Almir Damazio lida com chapéus desde a infância devido à chapelaria da família, fundada em 1880, no Rio de Janeiro. Ele observa: "É a qualidade da palha que diferencia o chapéu panamá. Cada vez que lava, fica mais bonito. Hoje, há muitos falsificados, que estragam fácil."

Atualmente, Marcelo Sarquis fornece o produto para cerca de 600 lojas e viaja quase todos os anos ao Equador. Ele, porém, teme pela continuidade do negócio. "A produção está em risco. Os jovens querem trabalhar em escritório, empresas, ir pra cidade. Eles não querem levar a vida dos avós tecendo palha", avalia. Algumas medidas de proteção estão sendo tomadas. A Fundação Montecristi, do empresário Brent Black, por exemplo, mantém uma escola de chapelaria e incentiva o pagamento justo aos artesãos.

O chapéu panamá, na verdade, uma criação equatoriana, atravessa décadas com a mesma elegância sóbria e despojadaA qualidade do chapéu depende de quão homegêneo e delicado é o trançado. Quanto mais fino, mais palha deve ser usada em cada parte e mais difícil é a fabricação. Além da espessura, os tipos também variam de acordo com o formato. Pode ter abas curtas, como é o caso dos twis, ou largas, comuns nos modelos femininos, entre outras variações possíveis.

Marcelo Sarquis afirma que, na hora de escolher, as mulheres buscam o diferente. Por isso, costumam eleger os modelos coloridos. A coloração nos chapéus é uma inovação surgida há não mais que três anos, graças a muita pesquisa com engenheiros químicos. Entre os homens, a principal exigência é pela qualidade do material, garante o empresário.

A consultora de moda Anabelle Mota considera o estilo panamá um clássico e costuma indicá-lo às clientes que querem começar a usar chapéu. "Sabendo combinar, é possível o uso em qualquer estação. São modelos simples, úteis em diferentes ocasiões, como piquiniques, churrascos e eventos à tarde", explica. Ela também acredita que existe uma tendência de volta do chapéu no dia a dia, como ocorria no início do século passado.

Apesar de fazer mais sucesso em cidades com o Rio de Janeiro, o chapéu panamá encontra mercado em Brasília. A gerente Ione da Silva, de uma loja de chapéus da cidade, afirma que a popularidade do panamá vem crescendo a cada dia. "Eles estão sendo usados tanto para a proteção contra os raios solares quanto pelo fashionismo do acessório", ressalta.

Você sabia?
  • Um chapéu autêntico pode demorar mais de seis meses para ser finalizado. O processo inteiro deve ser realizado pelo mesmo artesão, para manter o padrão de qualidade, sem variações de textura. Os modelos mais caros custam até US$ 25 mil, cerca de R$ 56 mil, segundo o empresário norte-americano Brent Black, referência mundial na venda da peça.
  • A fabricação exige várias horas de dedicação diária, das oito da manhã até as sete da noite, com pausa entre as 11h e as 15h, para evitar que a palha resseque com o sol forte. Os modelos mais simples podem ser produzidos em poucos dias e custam por volta de R$ 100.
  • O panamá amassado de Santos Dumont é produto de um acaso. Em 1903, durante um passeio com o dirigível n; 09, ocorreu um problema mecânico. O pioneiro da aviação precisou abafar o carburador com o chapéu. Quando voltou, foi fotografado. A imagem fez tanto sucesso que o panamá torto acabou virando sua marca registrada. Hoje, o objeto está exposto no Museu Aeronáutico de Guarulhos (SP). Fonte: Fundação Santos Dumont.
  • Em 2012, o chapéu panamá ganhou o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação