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Uma questão de estilo

Consumir produtos orgânicos deixou de ser apenas uma preferência nutricional. Além dos alimentos, há opções de maquiagens, vinhos e até de material de limpeza

postado em 27/07/2014 08:00
Consumir produtos orgânicos deixou de ser apenas uma preferência nutricional. Além dos alimentos, há opções de maquiagens, vinhos e até de material de limpezaMais saborosos e saudáveis, os alimentos orgânicos já são conhecidos dos brasilienses. A preferência por legumes, hortaliças e frutas, cuja produção é livre de substâncias que coloquem em risco a saúde humana ; como fertilizantes sintéticos solúveis, agrotóxicos e transgênicos ;, fez com que feiras orgânicas se multiplicassem pela cidade nos últimos anos. Nesse período, também houve espaço para o surgimento de lojas especializadas no ramo e que privilegiam artigos fabricados da maneira mais natural possível.

Com isso, aumentou a variedade da oferta de produtos orgânicos chegando a outros artigos do cotidiano, entre eles biscoitos, bebidas, cosméticos e produtos de limpeza. Nas prateleiras também é possível encontrar de alimentos integrais ; aqueles que não passam por processos de refino, permitindo que componentes originais sejam preservados, incluindo cascas ; a alternativas menos agressivas ao meio ambiente, caso das fraldas biodegradáveis. Isso revela que o cuidado com a saúde divide espaço com a preocupação em preservar a natureza quando uma pessoa decide pagar um pouco a mais para ter um produto orgânico, integral ou biodegradável. Afinal, os próprios produtores admitem que os orgânicos são até 30% mais caros que os produtos convencionais, o que não tem impedido o setor de crescer.

Uma das opções para esse público é o Bioon Ecomercado, na 303 Norte. "Não é só um conceito de loja de produtos naturais. É um mercado mais completo possível que ofereça o máximo de alternativas para que a pessoa que compre aqui tenha um estilo de vida diferenciado", explica Davi Guedes, proprietário. Filho de um médico naturalista, ele inaugurou o espaço há um ano e 10 meses, depois de passar oito anos trabalhando com a venda de suplementos naturais. "Na loja não tem nada que eu não levaria para casa e eu sou extremamente rigoroso. São produtos com o mínimo de industrialização possível. A gente também segue uma série de critérios em relação à composição dos produtos. Aqui você não vai comprar nenhum produto com corante artificial, sacarina sódica (um adoçante artificial) ou glutamato monossódio (um realçador de sabor muito comum em alimentos industrializados). A gente tira ao máximo conservantes e refinados."

O conceito de consumo consciente do local não para por aí. O mercado é ainda um ponto de coleta de materiais recicláveis, lixo eletrônico e óleo de cozinha. Além disso, até recentemente o cliente também era convidado a refletir sobre o valor da escala de produção e podia pagar o preço que quisesse nos itens do café da loja. "Infelizmente, a pequena minoria que pagava a menos para tirar vantagem começou a ser mais frequente que a maioria que pagava de maneira honesta e decidimos deixar de adotar o preço justo também para incrementar o cardápio", lamenta Davi. Os alimentos vivos foram a aposta na hora de adicionar novidades. Eles contêm sementes e castanhas germinadas e não passam por nenhum cozimento para que as enzimas naturais permaneçam intactas. Tudo isso garante mais nutrientes e uma carga energética maior ao que será consumido.

Ao mesmo tempo cliente e fornecedora do mercado, a terapeuta corporal de 30 anos Ananda Fontes Bastos se alimenta apenas de orgânicos e comidas cruas há 10 anos. Ela garante que há vários benefícios para quem resolve adotar o estilo de vida orgânico. "Percebo minha resistência física melhor, o sono também melhorou, a respiração é muito mais tranquila. Não tenho dor, nem sinto mais cólica. Estou muito feliz com o meu corpo e sou hoje uma pessoa muito mais centrada do que era há 10 anos", conta. Para ela, a preocupação em consumir produtos mais naturais vai além de obter benefícios para a saúde: resulta num comportamento mais consciente em relação ao planeta. "Passei a produzir bem menos lixo seco e a gente se sente melhor tendo uma postura mais ética em relação ao meio ambiente."

O professor Claud Dias Júnior também consegue ter uma alimentação completamente orgânica. "Queria fazer mudanças na minha vida pensando na longevidade e comecei a pesquisar sobre contaminação por agrotóxicos." Já são sete anos consumindo produtos livres de pesticidas e outras substâncias. Ele também lista vantagens desde que mudou a dieta. "Tenho uma disposição maior, fico resfriado pouquíssimas vezes, a pele melhora. Os benefícios são visíveis e constantes", garante.

De acordo com ele, a variedade de produtos está cada vez maior com o passar do tempo e há o aumento de feiras e lojas especializadas na cidade. "Eu consigo encontrar o mesmo produto em vários lugares, e o preço está mais acessível. Sou frequentador assíduo das feiras e do comércio. Café e farinha de trigo, eu já compro direto de fornecedor. A gente acaba fazendo contatos."

Não há mesmo desvantagens em optar por alimentos orgânicos, segundo a nutricionista Isabela Mendonça. "Com o orgânico, você deixa de ingerir toxinas que geram inúmeras reações no nosso corpo, desde uma enxaqueca até um câncer, a longo prazo. As substâncias encontradas nos produtos convencionais vão se acumulando e ficam retidas no corpo, causando uma propensão a doenças mais graves", explica. Ela lembra também que o cultivo de alimentos orgânicos não prejudica tanto a terra e não contamina a água da região de plantio por não usar agrotóxicos. "Tem tudo tem a ver com sustentabilidade."

Para quem gosta de alimentos orgânicos, o valor mais elevado dos produtos é compensado também pelo sabor. "Principalmente, as frutas são muito diferentes. A cor é mais viva, são mais saborosas e menos plásticas", afirma Claud. "Além do sabor, o alimento orgânico é mais cheiroso e até mais agradável de se tocar", complementa Ananda. O prazer em comer é tanto que a empresária de 56 anos Maria Teresa Milanez conseguiu eliminar pão e biscoito da dieta, baseada em alimentos orgânicos in natura. "Quando eu sirvo a comida, as pessoas ficam maravilhadas. Tudo tem sabor, uso ervas frescas e fica tudo temperadinho. Todo mundo que prova fica sempre querendo mais", comenta. De acordo com ela, o sentimento de juventude vem como consequência natural. "Se vou para uma festa danço horas e horas. Não aparento a idade que tenho."

A mudança no prato costuma ser apenas um começo. "Você acaba mudando tudo. O sabonete, o xampu. Uso xampus orgânicos e óleos naturais na pele e isso vai nutrindo seu corpo. Percebo que meu cabelo é outro, brilha mais", afirma Ananda. A diferença em relação aos cosméticos tradicionais está na ausência de alguns fatores durante a fabricação dos orgânicos: uso de testes em animais, ingredientes petroquímicos e de pesticidas e fertilizantes artificiais.

Cosméticos também compõem os mais de 700 itens que podem ser encontrados no Empório Malunga, na 315 Norte. As marcas importadas dividem espaço nas prateleiras com a produção da fazenda dos proprietários do local, que fornecem para 80 mercados no Distrito Federal. O abastecimento de hortaliças e legumes, cultivados pelos donos, é diário na loja. Os laticínios orgânicos também são produzidos na Fazenda Malunga e chegam todos os dias ao empório. A clientela é variada e preocupada com a saúde, garante Clevane Valle. "Os doces são muito gostosos e todos os produtos são muito bem elaborados para atender a demanda que existe no DF por artigos orgânicos e naturais."

Cliente assíduo, o jornalista, 62 anos, José Romildo diz que a família desistiu de se mudar para outra quadra para poder ficar perto das opções orgânicas oferecidas por Clevane. Ele não abre mão da decisão tomada há três anos de fugir dos agrotóxicos. "Compro as coisas da salada, leite, queijo e também o frango orgânico. A diferença no preço não é tão grande e até as crianças de casa comem tudo.

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