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Férias prolongadas voltadas ao conhecimento pessoal e à reciclagem profissional. Assim é o período sabático. Para especialistas, ter um tempo para estar sozinho e cultivar os próprios interesses é fundamental

Gláucia Chaves
postado em 24/08/2014 08:00

Férias prolongadas voltadas ao conhecimento pessoal e à reciclagem profissional. Assim é o período sabático. Para especialistas, ter um tempo para estar sozinho e cultivar os próprios interesses é fundamental
Quantas vezes na vida você parou para refletir sobre sua rotina? Na religião judaica, o shabat (ou sabá) simboliza o sétimo dia da criação do mundo. Após trabalhar por seis dias, Deus teria usado o dia seguinte para descansar e contemplar sua obra. A partir desse conceito, surgiu o termo "período sabático" ; um momento para interromper a rotina e refletir sobre o que está em curso. O intervalo não significa não fazer nada. Ao contrário: para muitos, é justamente a hora de fazer o que se gosta, seja um curso, seja uma viagem de autoconhecimento, seja um trabalho voluntário. Independentemente de qual for o destino ou a maneira de viver o período sabático, o objetivo é se observar e se conhecer.

Mas para que serve um período sabático, além de refletir sobre a vida e se conhecer melhor? De acordo com o psiquiatra Thiago Blanco, a meta, na verdade, é aprender a lidar com as adversidades. "O que se espera com esse processo é que o indivíduo se instrumentalize com recursos cognitivos e habilidades para a solução de problemas", explica. Situações diferentes das que estamos acostumados nos forçam a ter uma reação, mas nem sempre sabemos que reação será essa ; até passarmos pelo problema.

Muitas vezes, desacelerar não é só uma questão de querer viver algo novo ou de repensar escolhas, mas uma necessidade real. A Síndrome de Burnout, ou Síndrome da Estafa Profissional, já é uma realidade em clínicas psiquiátricas, de acordo com Tiago Blanco. Causada pelo excesso de trabalho, a síndrome ocasiona sintomas depressivos, instabilidade no humor, esgotamento físico e emocional, agressividade e uma série de outros efeitos negativos tanto para a vida profissional quanto para a vida pessoal do indivíduo. "Por isso, o período sabático é também uma forma de prevenção para problemas psiquiátricos relacionados ao trabalho", completa o médico.

Planejamento necessário
Destino, hospedagem, objetivos, recursos financeiros; Planejar um período sabático pode parecer interminável. Rafael Rezende, 24 anos, está em vias de realizar o sonho de tirar um período para repensar a vida. A princípio, o publicitário pensou em procurar uma agência de viagens. Agora, ele considera a possibilidade de tentar tirar cidadania portuguesa, já que o avô era natural de Lisboa. "Assim, não vou precisar viajar com nenhum curso ou emprego garantido por lá", completa.

Com a viagem, Rafael pretende ficar um tempo sozinho. "Decidi fazer isso porque vejo muita gente falar que deveria ter tirado um tempo para pensar quando era jovem", justifica. "A vida vai ficando cada vez mais atribulada, você vai arrumando empregos melhores, compromissos e, quando vê, não pode mais sair." Profissionalmente, ele acredita que o período sabático também será útil. Ainda que cursos ou especializações não estejam na lista de objetivos, aprender a fundo outro idioma, conhecer uma cultura diferente e saber mais sobre si mesmo são características valorizadas no mundo da publicidade, segundo Rafael. "Quando você está na escola, é pressionado a entrar na faculdade e nunca tem tempo para si. Acho importante tirar um tempo para pensar na própria vida."

Frear a rotina do dia a dia para pensar um pouco sobre si mesmo é um conselho habitual: quem nunca fez, morre de vontade, e quem já passou por isso recomenda. No caso de Rafael, o período sabático servirá para peneirar seus múltiplos (e nada relacionados) interesses. Ele conta que sempre teve dificuldade para decidir o que queria fazer da vida. "Nunca tive 100% de certeza do que estou fazendo, sempre tive muitas dúvidas", completa. Quando chegou a hora de prestar vestibular, escolheu a publicidade. Rafael acabou se apaixonando pela profissão, mas seus outros interesses não foram esquecidos. "Da mesma forma que gosto de publicidade, gosto de veterinária, de biomedicina e de engenharia elétrica."

Leia a reportagem completa na edição n; 484 da Revista do Correio.

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