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Santa inocência!

Criança diz cada coisa! É assim porque, durante um tempo, os pequenos são um misto de sagacidade e inocência, sem filtros. A fase passa, mas rende muitas risadas

Renata Rusky
postado em 12/10/2014 08:00

Criança diz cada coisa! É assim porque, durante um tempo, os pequenos são um misto de sagacidade e inocência, sem filtros. A fase passa, mas rende muitas risadasSer criança é ver o mundo ainda com a inocência de quem pouco o conhece e com a esperteza de quem acumula informação o tempo todo. Para os adultos, parece que os pequenos vivem em outro mundo, um reino com personagens de desenhos animados. Quietinhas ou agitadas, pode parecer que não prestam muita atenção no universo dos adultos. Engano o nosso: elas estão atentas a conversas, expressões e palavras que os adultos falam.

Quem nunca se impressionou com o filho falando uma palavra que você nem sabia que ele conhecia? Quem nunca foi surpreendido pela tirada de uma criança? Esses momentos acabam rendendo boas risadas. "Enquanto ainda carregam ingenuidade, não têm medo de dizer o que pensam baseado no que aprendem ; nem por vergonha, por moralismo ou por medo de errar", explica a psicóloga infantil Jandira Cruz. De acordo com ela, o processo rende frases engraçadas exatamente porque as crianças sabem mais do que imaginamos, mas não o suficiente para julgar quando é apropriado falar certas coisas.

Simone Valente, 36 anos, fisioterapeuta, é mãe de Rafaela, 5. Mesmo com pouca idade, já proporcionou à mãe muita história engraçada. Uma vez, Simone e o marido pediram à pequena, à epoca com 3 anos, que chamasse o elevador. Resultado: ela ficou gritando "elevador" no hall do prédio. As sacadas divertidas ; e até embaraçosas ; continuam. Como Simone atende alguns pacientes em domicílio, a menina precisou acompanhá-la algumas vezes. Dona de boa memória, Rafaela, às vezes, cobra promessas que lhe fazem. "Outra vez, ela foi em uma consulta comigo e disseram que levariam um chocolate pra ela na próxima vez. Ela ficou muito tempo sem ir de novo, mas, quando foi, cobrou o tal chocolate. Morri de vergonha", conta a mãe. Em outra ocasião, a paciente era uma senhora idosa, com mais de 80 anos. No término do atendimento, a senhora soltou gases e a menina na hora perguntou: "Quem soltou um pum?". A senhora respondeu, com bom humor, que havia sido ela e explicou que as pessoas mais velhas têm dificuldade em segurá-lo. A menina, em um misto de falta de filtro e de sensibilidade para querer consertar o que disse, respondeu: "Eu também faço pum. E minha mãe, às vezes, arrota". A mãe calcula que entra em saias justas como essa praticamente todos os dias.

Os deslizes são normais. Em geral, Rafaela demonstra bastante maturidade para a idade. Os pais mantêm com ela um esquema de pontos. Cada coisa errada que ela faz vale um ponto. Quando atinge 10, ela perde algum direito ; de mascar chiclete, por exemplo. Outro dia, no meio de uma discussão casual dos pais, ela se intrometeu: "Vamos fazer pontos com vocês também?". Os dois ficaram sem reação diante da filha que pedia, sutilmente, para que parassem de brigar.

"No processo de infância, o que entendo como perda da inocência é o momento em que a criança adquire habilidades que dão maior controle sobre suas ações e, principalmente, sobre as consequências de expor comportamentos e apresentar ideias", explica Áderson Costa, professor do departamento de psicologia clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB). De acordo com ele, a criança não nasce conhecendo as normas éticas da sociedade em que está inserida e isso é aprendido com o tempo. "Entendemos que as habilidades crescem a partir de diferentes experiências que vão oferecer maior autonomia, identidade e competência social às crianças, para que elas possam decidir quando dizer algo e quando não dizer", resume. (Colaborou Rafael Campos)

Processo de crescimento das crianças
Para Áderson Costa, professor do departamento de psicologia clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), há três elementos fundamentais:

- Os pais são os cuidadores primários. Devem sempre observar as fraquezas e dificuldades dos seus filhos. Para isso, eles precisam estar presentes. Somente sendo um bom observador é que eles poderão cuidar.

- A escola é o agente socializador no processo de desenvolvimento. O papel dela é mostrar à criança que a vida pode ser organizada.

- A sociedade é quem dá o feedback, confirmando ou não a eficiência dos pais e da escola. Tanto que há casos em que os pais mudam o filho de escola quando percebem que eles não estão sendo educados de forma a garantir a sociabilidade desejada.

No YouTube
Muitos vídeos de "humor infantil" fazem sucesso na web. Confira:


Por mais de três minutos, a criança de 4 anos argumenta com a mãe. A pequena pretende proibir a mãe de frequentar festas e de namorar. "Ô, mãe, não tem que ir pra night. Lá não é seu trabalho", ela diz.


Emma, 6 anos, queria usar maquiagem, mas a mãe não deixava. Ela, então, desenvolveu uma técnica para pintar o rosto: pegava confeitos de chocolate coloridos, lambia, passava no rosto e depois os comia ; maquiagem sustentável. Com isso, ela fazia sombra, blush e batom.


Com 5 anos, o garoto fica intrigado com o polvo que a mãe lhe serve e pergunta se ele é de verdade. Quando percebe que animais são mortos para que as pessoas os comam, não entende direito e não para de perguntar: "Por quê? Temos que cuidar dos animais, não comer".


Menino de 3 anos cai aos prantos porque o irmão gêmeo matou a formiga. Ele chora e grita: "Que dó, que dó, que dó".


Com 5 anos, Rafael se suja todo de lama porque quer ser negro. O pai incentiva: "E a barriga?". Rafael responde que também vai pintar: "Eu tô cansado de ser branco". De repente, a mãe chega e briga.

Leia a reportagem completa na edição n; 491 da Revista do Correio.

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