Revista

Colesterol sob controle

O cardiologista Raul Santos explica por que a variação "ruim" dessa gordura é nefasta para o coração e avisa que alguns indivíduos são geneticamente propensos a taxas elevadas

Flávia Duarte
postado em 16/11/2014 08:00

O cardiologista Raul Santos explica por que a variação Hábitos de vida pouco saudáveis, alimentação inadequada e fatores genéticos aumentam as taxas de colesterol do sangue, que, somadas a uma série de fatores de risco, tornam o coração uma verdadeira bomba-relógio. Por isso, controlar as taxas de LDL (o colesterol ruim) ; seja com mudanças na rotina, seja pelo uso de medicações cada vez mais eficientes ; foi um dos temas debatidos no 69; Congresso Brasileiro de Cardiologia, que reuniu médicos especialistas de todo o mundo em Brasília há duas semanas. Entre eles, o doutor Raul Santos, diretor da Clínica de Lípides do Instituto do Coração (Incor), da Faculdade de Medicina da USP, São Paulo, e secretário da Sociedade Internacional de Aterosclerose, que defende, veementemente, a manutenção das taxas adequadas do colesterol como uma medida preventiva eficaz contra doenças cardíacas.

Qual é a função do colesterol no organismo?
Você precisa de colesterol para viver. Esse lipídio só existe em animais e faz parte da membrana das células. Os hormônios sexuais, os hormônios da suprarrenais, os sais biliares ; são todos ricos em colesterol. Além de o colesterol estar nos tecidos, ele também circula no sangue e é carregado pelas lipoproteínas. A mais importante delas é a LDL, que causa o problema cardiovascular. E tem a boa, que é a HDL. Quando você tem excesso de LDL, essa lipoproteína, carregada de colesterol, vai para a sua artéria e a entope com o tempo. Alimentação rica em gordura saturada, em carne vermelha, queijos amarelos, gordura de porco e dendê aumentam essas taxas.

É fato que o colesterol alto aumenta o risco de problemas no coração?
Associam-se as concentrações de colesterol do sangue com o risco de problemas cardiovasculares, principalmente das doenças coronárias, como o infarto do miocárdio. Se for avaliar a literatura médica, há milhares de estudos que avaliam a relação entre os valores de colesterol do sangue e o risco de problemas cardíacos. Isso é muito claro. É um fator importante, mesmo você corrigindo valores de pressão, de diabetes, tirando o cigarro. Teoricamente, quando você reduz o colesterol do sangue, está levando menos colesterol para as artérias, prevenindo o entupimento e a inflamação das artérias. O colesterol é altamente inflamatório e esse efeito leva ao infarto.

Hoje, qual é a forma mais eficiente de controlar o colesterol?
A prática de exercícios aumenta o bom colesterol. Estilo de vida é extremamente importante, mas é preciso avaliar o seu risco. Você precisa medir a pressão, dosar o colesterol, a glicose, prestar atenção no histórico familiar, olhar para a barriga e ver se ela está grande. Dependendo do grau de risco, toma-se remédio ou não. No baixo risco, muda-se o estilo de vida.

Então as drogas entram nos casos em que só mudança de dieta e exercício físico não são suficientes?
O tratamento do colesterol vai ser para sempre. Não tem cura para colesterol alto na maior parte das situações. Então será um tratamento crônico, em que o indivíduo terá de tomar remédio para o resto da vida. As estatinas são medicamentos seguros e baratos. Temos seis ou sete tipos de estatinas ; elas fazem parte de um grupo de medicamentos surgidos em 1987 que bloqueiam a produção do LDL e aumentam a quantidade de receptores hepáticos, responsáveis por absorver o LDL do sangue e o eliminar. Mas elas têm ação limitada. A melhor estatina reduz em 50% o LDL.

E por que em alguns casos nem as estatinas são eficientes para controlar o colesterol?
Existem pessoas com o colesterol extremamente elevado por causa da genética. Esses indivíduos têm uma doença chamada hipercolesterolemia familiar (HF). Você herda dos pais genes que vão aumentar o seu colesterol. O indivíduo tem o colesterol alto desde o nascimento ; não é erro dietético. E lembre-se: é possível ter colesterol alto mesmo que seja magrinho, se tiver o gene. A HF afeta 1 em cada 200 ou 300 pessoas na população. Não é uma doença rara. Quando você herda um gene, tem o dobro do colesterol e vai ter problemas cardiovasculares provavelmente aos 40 anos, talvez um pouco antes, dependendo do quanto for alto o colesterol e se há outros fatores de risco associados. Na população normal, o risco vai aparecer pelos 55, 60 anos de idade. A HF aumenta o risco de problemas cardiovasculares de 15 a 20 vezes, comparando com quem não tem.

Leia a íntegra da entrevista na edição impressa

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação