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O frio engorda?

Temperaturas mais baixas têm tudo a ver com chocolate quente, fondue, churrasquinho, macarrão... Mas, cuidado: tentar se manter quentinho de dentro para fora pode fazer com que o peso na balança vá às alturas

Gláucia Chaves
postado em 14/06/2015 08:00
Temperaturas mais baixas têm tudo a ver com chocolate quente, fondue, churrasquinho, macarrão... Mas, cuidado: tentar se manter quentinho de dentro para fora pode fazer com que o peso na balança vá às alturas
Que lembranças trazem os dias frios? Se a resposta for cobertor, filme e chocolate quente, que tal repensar este último item? Quando a temperatura cai, é quase automático buscar nos alimentos quentinhos (e, geralmente, hipercalóricos) uma maneira de espantar o friozinho. A ironia é que o período é o melhor para quem quer perder peso, uma vez que o metabolismo torna-se levemente mais ágil. De acordo com o nutrólogo Antônio Elias de Oliveira Filho, da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), o ritmo aumenta em uma tentativa o corpo de manter a temperatura externa estável. "Isso quer dizer que a pessoa gasta mais energia", complementa. "Se conseguir manter a alimentação como no verão, vai emagrecer."

O grande problema é que o frio dá fome - e poucos são os sortudos que sentem fome de fruta com um vento gelado batendo no rosto. Fondue, macarrão com molho de queijo, chocolate quente seriam exemplos mais realistas do cardápio "normal" do inverno. Tais bombas de carboidrato com gordura, como se pode imaginar, não ajudam em nada a saúde. Quando o objetivo é perder peso, o ideal é relevar o conforto e investir em alimentos frios, especialmente líquidos. Quanto mais comida fria o indivíduo ingerir, mais o metabolismo vai precisar trabalhar para "esquentar" o alimento antes de digeri-lo. "Para emagrecer, 70% do gasto total da taxa metabólica basal é o metabolismo, 20% a atividade física e, 10%, o tipo de alimentação da pessoa." O cálculo, segundo Antônio Filho, explica os "magros de ruim": quem tem a taxa metabólica tão acelerada que, mesmo com uma dieta recheada de calorias, não engorda.

Mas não é preciso radicalizar. Dá para comer coisas quentinhas sem comprometer o peso. "Um exemplo são sopas e caldos com legumes e verduras, e uma proteína, como frango", ensina o médico. Manter o metabolismo o mais acelerado possível também é uma estratégia certeira. Para isso, atividade física é fundamental, uma vez que, mesmo após o fim do exercício, o organismo continua a mil, ou seja, o corpo continua queimando calorias. "O hábito de se alimentar cinco vezes ao dia também força o metabolismo a trabalhar sempre", completa Antônio Filho.

Elisa Goulart, nutricionista do Laboratório Sabin, reconhece que a salada não é uma opção muito procurada em tempos de inverno, o que não quer dizer, contudo, que as verduras devam ficar para escanteio. Por que não refogar (com azeite, de preferência) as folhagens que estariam na salada, por exemplo? As frutas também têm seu valor em tempos de cobertores. A nutricionista frisa que as típicas do inverno, como morango, limão e abacaxi, têm quantidades consideráveis de vitamina C e fibras que retardam o esvaziamento gástrico, ou seja, elas retardam a vontade de comer novamente. Chás (especialmente o verde) também são uma boa opção, por conta das propriedades antioxidantes das infusões - além de, claro, serem quentinhos.

Outros grandes aliados da manutenção ou da perda de peso no inverno estão disfarçados de tempero: enquanto a canela é termogênica, o gengibre protege contra gripes e resfriados. Mas a melhor estratégia de todas é manter-se alerta. Não sair de casa com fome, dividir as refeições principais em várias pequenas e tudo o que os nutricionistas estão cansados de repetir quando o tema é dieta para emagrecer para o verão também vale para o inverno. A diferença é que o tempo frio esconde ainda outro vilão: a festa junina. "Fazer uma refeição prévia ajuda no domínio próprio", ensina a nutricionista.

Controlando o apetite
Fabíola Neves, 43 anos, sabe bem o que é ter de se adaptar para não cair nas garras das tentações de inverno. A professora chegou a pesar 101kg até que, em 2009, decidiu fazer a cirurgia bariátrica. Chegou aos 70kg. O pique para manter-se no peso foi diminuindo e, quando ela se deu conta, havia reconquistado 15 indesejáveis quilos. "Este ano, resolvi focar novamente na minha reeducação alimentar", explica ela. Desde janeiro, 5kg já foram embora. "O meu medo é junho, que tem festa junina, Dia dos Namorados e frio", confessa. "É muito mais difícil seguir a alimentação à risca."

A rotina de exercícios e reeducação alimentar nunca é fácil, mas Fabíola garante que tem sentido menos dificuldade. O histórico dela, claro, conta como um ponto a mais: se já passou por isso uma vez, a professora sente-se plenamente capaz de vencer novamente. "Estou focada, criei uma rotina", completa. "Não é mais tão sofrido." Os convites desta época do ano, contudo, desafiam o autocontrole de qualquer cristão. "Geralmente, as pessoas não entendem a reeducação alimentar", reclama. "Dizer que ;só um não faz mal; é o tipo de ofensa que os outros fazem sem saber, mas que acaba atingindo a autoestima."

Para escapar das armadilhas calóricas, Fabíola aposta na regra de ouro de não ficar mais de três horas sem colocar alguma alimento na boca. "Foi algo que aprendi a duras penas", relembra. "Se fizer assim, não tenho fome de comer um leão no almoço. Fico menos ansiosa pela próxima refeição." Fazer de um dia ou de uma noite de festa uma ocasião para sair da rotina é outro segredo para o sucesso da redução do IMC, segundo Fabíola.

Iza Carneiro, nutricionista da Central Imagem Clínica Médica e do Centro de Tratamentos Estéticos Perfect, diz que a preocupação com a alimentação no inverno não é dos temas de maior preocupação dos pacientes. "Mas, realmente, é um clima em que as pessoas sentem mais fome, ficam mais em casa e procuram meios de diversão que geralmente envolvem alimentos", enumera. Tudo isso, claro, se reflete em ganho de peso e de medidas. Por isso, a única forma de passar pelo festival de guloseimas é tentar driblar as armadilhas: se os amigos querem ir à um restaurante, que tal escolher um em que a oferta de comida não se limite ao fast food, por exemplo?

Sobre festas juninas, o ideal é tentar se controlar. É o velho conselho: cuidado com o exagero. Ser racional, defende a nutricionista, é a única maneira de escapar do sobrepeso. "De nada adianta um alimento que me dá prazer mas que não vai ajudar a minha saúde", completa. Saber encontrar o equilíbrio entre saciedade e quantidade de calorias é o grande desafio de quem quer ficar de bem com o próprio peso. Como tudo o que é gostoso geralmente não une as duas qualidades, o ideal é planejar antes de se entregar à tentação. "Se há 10 opções de coisas que você comeria, escolha duas, uma salgada e uma doce", ensina Iza Carneiro.

Outro ponto que merece atenção, segundo a nutricionista Ana Carolina Icó, é a hidratação. "É difícil sentir sede no inverno, mas não é porque as temperaturas estão baixas que a pessoa não deve beber líquidos." Complementar o consumo com chás de ervas naturais ajuda, mas nada substitui a água. Além de manter o corpo hidratado, ingerir ao menos dois litros por dia ajuda a evitar a inconveniente retenção de líquidos. "O grande problema disso é que ela normalmente se reflete na balança", alerta Icó.

Além da escolha dos alimentos e da atividade física sempre em dia, Ana Carolina Icó dá outra dica que pode ser valiosa para quem quer manter a silhueta no inverno: usar a tecnologia a seu favor. Idealizadora do programa de emagrecimento e reeducação alimentar Minha Vida Dieta em Saúde, ela explica que aplicativos como o criado por ela ajudam a organizar o cardápio e os alimentos consumidos diariamente. A ideia da ferramenta é atribuir pontos a cada alimento. Depois, basta seguir a quantidade indicada para evitar o excesso de calorias. "Fazemos a proposta alimentar de cada paciente e, no aplicativo, ele pode acompanhar o cardápio personalizado", detalha. "O importante é garantir que o emagrecimento aconteça de maneira saudável."

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