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Estilo de luta filipina ganha adeptos em Brasília

Pode assustar a princípio, mas a kali silat é uma arte marcial que usa armas e contribui para a melhora do físico, da flexibilidade e da agilidade do praticante

postado em 10/07/2016 08:00
Professor Renato e o aluno Sander estão prontos para praticar a luta asiática kali silat: mais disposição, flexibilidade e bem-estarExistem muitas opções de exercícios que vão além da academia. Entre elas, estão as lutas que ajudam a manter o corpo em forma de maneira mais dinâmica. O kali silat é uma luta filipina que, segundo registros históricos, existe há aproximadamente 500 anos e faz uso de armas. Por suas características diferentes de outras artes marciais, o kali silat atrai um grande número de adeptos.

A arte tribal das Ilhas Filipinas era ensinada de pai para filho ou de guerreiro para guerreiro, com o intuito de protegerem suas famílias e os que sobreviveram nas guerras. Baseada em um conjunto de sistemas de lutas, o combate começa com o uso de armas, como bastões e facas, e, depois, passa para o confronto desarmado. A atividade aeróbica desenvolve agilidade, flexibilidade, velocidade e coordenação motora, além de ampliar a noção de espaço.

Em 1986, o americano e praticante de artes marciais Greg Alland trouxe a luta ao Brasil com a ajuda do mestre Paulo Albuquerque, que a ensina até hoje. O núcleo da escola de kali silat fica no Rio de Janeiro e, por ser uma luta única e pouco conhecida, o Centro de Treinamento de Artes Marciais (CTAM), localizado no Guará II, é um dos dois lugares de Brasília que oferecem a modalidade.

O programador Régis Borges, 34, conheceu as aulas há dois anos quando chegou ao CTAM-BSB para praticar kombato (arte marcial de defesa pessoal). "Eu não achava interessante a luta com armas, mas vi que é legal aprender a lutar armado e só depois desarmado. Usar as armas ajuda a desenvolver os movimentos com mais facilidade". Além disso, Régis sentiu grande melhora no seu bem-estar, pois usa o tatame para extravasar as emoções.

Inicialmente, quando as antigas Ilhas Filipinas praticavam a modalidade, havia uma grande variedade de instrumentos de batalha, mas somente as que mais se destacaram continuam fazendo parte da luta. O bastão de tamanho médio, mais ou menos no comprimento do braço, surgiu a partir de um bambu filipino conhecido como "rattan", que é bastante flexível e resistente. Ele se manteve até hoje por ser facilmente encontrado, assim como as facas, que fazem parte da história da humanidade e são fáceis de serem carregadas.

O mestre Renato Miranda dá aula de kali silat há cinco anos e explica que os treinos começam sempre com um ou dois bastões e, em seguida, após dominar bem o uso deles, as facas entram em jogo. Após essa etapa, ambos são usados ao mesmo tempo, sistema que vem da esgrima espanhola, mais conhecida como "espada y daga". Por último, acontece o combate desarmado, para simular a perda de todas as armas.

Nos treinos, os instrumentos de combate feitos de náilon ou de plásticos resistentes simulam as armas reais. Visivelmente, as aulas parecem agressivas e perigosas, mas não é necessário usar proteção, pois os exercícios respeitam a integridade do aluno e são feitos para desenvolver a coordenação motora. Já durante as lutas, o equipamento de segurança é exigido: bastão espumado para não machucar, luvas para proteger as mãos e capacete gradeado.
Pode assustar a princípio, mas a kali silat é uma arte marcial que usa armas e contribui para a melhora do físico, da flexibilidade e da agilidade do praticante
A modalidade chama a atenção pelo uso de armamento, pois, apesar de as outras lutas mais conhecidas, como muay thai e kung fu, terem sua parte armada na história antiga, hoje em dia, as artes marciais focam no desarme, devido ao mundo ocidentalizado e mais esportivo. O bancário Rafael Lopes, 31, se interessou pela modalidade exatamente por esse motivo. "Já tinha treinado outras, mas nenhuma tem esse enfoque nas armas e achei muito diferente e interessante". Ele faz parte da equipe de kali silat há um ano e explica que sua ambidestria, coordenação motora, flexibilidade e agilidade melhoram muito desde então.

Sander Ricado, 44, é professor de jiu-jítsu há vinte anos e começou a praticar a modalidade como forma de aumentar seu conhecimento nas artes marciais. "Confesso que, no início, fiquei meio perdido pelo estilo diferente, mas, com o passar do tempo, percebi que é ótimo, e a soma das lutas (jiu-jítsu e kali silat) é muito satisfatória."

Você sabia?

A kali silat está mais presente do que se imagina e, muitas vezes, passa despercebido. Ela é uma das lutas mais utilizadas em Hollywood para fazer coreografias de filmes, normalmente complementadas com outras artes marciais, como boxe e capoeira. Produções como Identidade Bourne e 300 fizeram uso da modalidade. Clint Barton, ator conhecido como o personagem Gavião Arqueiro do filme Os vingadores é praticante de kali silat e é um dos personagens que menos usa dublês para cenas de luta. Geralmente, quando duas pessoas lutam usando bastão ou faca, pode ser considerada kali.

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