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Sereias, unicórnios e muito brilho: se jogue na nova tendência da moda

O mundo mágico das sereias e unicórnios invadiu a moda e virou uma tendência mundial. O brilho, os cabelos coloridos, os brincões e as jaquetas bomber fazem parte desse universo. Descubra como incorporar o estilo divertido no dia a dia

Diego Borges/Especial para o Diário de Pernambuco, Ailim Cabral
postado em 27/11/2016 08:00

Raphaele Caixeta (estagiária, sob a supervisão de Cristine Gentil)


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Em algum momento da vida, o desejo de pertencer a um mundo de sonhos aflora. Princesas da Disney, fadas e duendes, mais recentemente sereias e unicórnios. Esperava-se que esse mergulho nos universos onírico e mitológico ocorresse na infância e lá ficasse, submerso, no terreno nas lembranças docemente sedimentadas. Mas, hoje, está evidente que as lendas, com suas personagens fascinantes e toda a indumentária característica delas, servem de subsídio para encher a realidade de fantasia ; e isso ocorre em qualquer fase da vida. Com possibilidades tão elásticas quanto a imaginação de cada um, essa invasão de alegorias chegou à moda, que incorporou o lúdico e o mandou de volta à sociedade. O resultado mais visível é uma alegria no vestir, um desprendimento do medo de parecer ridículo, que devemos em boa parte ao público LGBT e afins.

Hoje, as vitrines exibem peças como bolsas de concha, jaquetas bomber, maquiagens cheias de glitter, mochilinhas transparentes, detalhes holográficos e muito mais. A ideia é que as pessoas se libertem, pintem os cabelos de rosa, roxo e azul, mesmo depois dos 30 anos, e possam usar objetos considerados infantis, mas que hoje aparecem em releituras até nas passarelas internacionais das semanas de moda.

Camiseta de unicórnios da Ísy (@useísy), uma das mais vendidas da lojaSegundo João Braga, professor de história da moda da Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP), a tendência do lúdico não é nova. Começou no fim dos anos 1990, com a ascensão da música eletrônica, com os clubbers, tribo mais voltada para a estética e com culto ao exotismo. O professor reitera que não é uma moda que venha das passarelas, e sim de nichos e grupos específicos, é o chamado streetwear. Em relação a personagens como unicórnios e sereias, João Braga entende que reflete uma certa infantilização, ainda que inconsciente, desse público consumidor. "É uma recusa natural de um crescimento, de um amadurecimento. Você tem novas responsabilidades, compromissos e se faz infantilizado, não assume essa postura", reflete.

Para donos de marcas e clientes, a infantilização existe, mas eles não a percebem de forma negativa. "Além de entender que os clientes querem de certa forma resgatar elementos da infância ; como a diversão e a brincadeira ;, eu vejo uma vontade de se esquecer dos problemas e ir para um universo mágico. Está tudo tão difícil e é bom ter um refúgio, pelo menos na moda", afirma Deísy Tonar Costa Teixeira, 23 anos, dona da loja Ísy (@useísy) no Instagram. Para ela, essa tendência vem da vontade de ser original, diferente e, ao mesmo tempo, do desejo de viver em outra realidade.

A estudante usou conceitos aprendidos na faculdade, inventou uma personagem que seria a cara da marca e começou a imaginar o que a garota jovem gostaria de usar. "Ela é uma menina alternativa, que gosta de coisas lúdicas e coloridas em tons pastéis. Mas ela gosta de rock, então algumas peças têm essa pegada, são pretas com motivos roqueiros", define Deísy.

A estudante de comunicação Gabriela Costa, 21 anos, é quase a personificação do jovem adulto livre e divertido. Dona de diversos acessórios que remetem a unicórnios, sereias e até aliens afirma se sentir representada pela tendência.

Gabriela Costa sempre foi encantada com unicórniosGabriela conta que seu estilo diferente começou na infância, incluindo a paixão por unicórnios ; quando criança, ela chegou a acreditar que os seres mitológicos eram uma raça diferente de cavalos. "Com uns 10 anos já era encantada. Comecei colorindo o cabelo e passei por todas as cores, sempre gostei de incorporar elementos dos desenhos no meu estilo", lembra.

Sobre o crescimento e a popularização do estilo, a jovem afirma não se incomodar. "Fico feliz, porque até quem me zoava quando eu era mais nova ou comentava que achava essas coisas esquisitas aderiu e está usando também. Dá uma visibilidade maior e é mais fácil achar para comprar porque até as lojas de departamento estão se rendendo a essa pegada fantasiosa", afirma.

O movimento, acredita Gabriela, está ligado a um certo escapismo. "Cada um tem seu jeito de fazer isso, mas considero a moda uma das formas mais saudáveis e divertidas." Ela acrescenta ainda que não limita a forma única de se vestir às festas. No dia a dia aposta em tiaras, brincos grandes e coloridos e jaquetas holográficas. Para os momentos especiais, reserva o pijama de unicórnio. Gabi, como é chamada pelos amigos, não se importa em chamar atenção com suas peças, prefere manter sua personalidade. "Sempre gostei de coisas coloridas, de fantasia, pintar o cabelo. E eu tenho muitos piercings e tatuagens, então os mais conservadores já olham para isso. A galera mais velha ou muito convencional costuma olhar e achar infantil ou chamativo, mas acho que isso tende a diminuir."

Demanda brasileira e brasiliense


Fundadora da loja on-line Pop Again (@popagain), de Florianopólis, Camylla Vitório afirma que praticamente todos os dias recebe encomendas de Brasília. "Tem uma menina que compra tanto que eu virei amiga dela", conta, rindo.

Jaqueta Mermaid, uma das peças mais vendidas da Pop Again (@popagain)Para Camylla, que tem como produto mais vendido uma jaqueta bomber de sereia, a moda tende a aumentar por todo o Brasil. "Acho que o segredo é o exclusivo, manter diferente. Não faço uma tiragem muito grande das minhas peças, para os clientes continuarem se sentindo únicos, mantendo uma identidade", explica.

A empresária não discorda dos colegas empreendedores. "Minha roupa vem trazer diversão para a vida das pessoas. Já temos muitos problemas e a moda ajuda a nos expressar. Acho que desse público, da faixa dos 20 anos, a grande maioria sempre quis se vestir assim, mas não encontrava algo que os representasse", completa. Muito presente no meio gay, Camylla afirma sentir falta de roupas diferentes que atendam aos homens também. "A minha loja não tem sexo, não existem peças masculinas ou femininas. É tudo unissex e muitos rapazes compram as bolsas de concha, por exemplo".

Com apenas três meses de existência, a loja on-line Merat (@lojamerat), assim como a Pop Again, já se tornou uma das queridinhas das fashionistas coloridas. Para o cofundador Jorge Queiroz, a carência do mercado brasileiro explica o sucesso repentino. Ele conta que a ideia de criar a loja surgiu em uma visita à Nova Zelândia. "Por toda parte víamos pessoas com cabelos coloridos, inclusive senhorinhas, e vitrines cheias de coisas descoladas que não existiam aqui. A demanda foi enorme e tivemos que adiantar nossa volta ao Brasil para atender aos clientes", lembra.

Brasília é uma das principais cidades para as quais a Merat envia seus produtos, perdendo apenas para São Paulo e Rio de Janeiro, e os criadores da marca apostam que a tendência vai continuar. "A tendência é que as pessoas se sintam cada vez mais confortáveis em usar aquilo que realmente querem e gostam", acredita Jorge. Ele conta ainda que percebia muitas páginas sobre sereias, unicórnios e magia em geral, mas que os produtos relacionados ao tema eram difíceis de encontrar no Brasil.

Um dos queridinhos dos clientes da Merat (@merat) é a Bolsa de Concha

Sobre a origem da moda lúdica e divertida, o empresário acredita que exista uma influência forte do mundo LGBT. "Essa moda mostra o lado mais feliz das pessoas, a parte de bem com a vida e, de fato, tem uma relação com a comunidade LGBT por causa da diversidade e alegria que eles trazem mesmo com todo o preconceito que ainda sofrem", afirma.

As criadoras da marca brasiliense Purpurinárias (@purpurinarias) atribuem o sucesso dos produtos divertidos a um desejo da geração millennial de perpetuar a infância e tornar a vida adulta tão divertida quanto os dias de criança. As estudantes Angélica Almeida de Araújo, 25 anos, e Lorena Melo Rabelo, 23, vendem tiaras de unicórnio, de gatinho e de outros seres mitológicos e afirmam que as vendas são constantes o ano inteiro. "Acho que, no carnaval deste ano, as pessoas curtiram muito o glitter e, depois que o feriado acabou, não quiseram abrir mão daquela forma divertida e livre de se vestir", pondera Lorena.

Angélica e Lorena produzem tiaras de unicórnio que fazem sucesso em Brasília

As sócias não acreditam que essa forma de infantilização seja ruim. É uma forma de lidar com os desafios do mundo adulto sem perder a alegria. "Em alguns momentos, temos que ser adultos, ter uma postura mais séria e resolver as coisas, mas por que não aproveitar a moda para se libertar e curtir o lúdico?", questiona Lorena.

Para Angélica, ir a uma festa comum usando uma tiara de unicórnio e receber apenas elogios é libertador. "A gente percebe essa abertura, as pessoas são encorajadas a colocar o unicórnio que existe dentro delas para fora. Temos uma abertura maior para sermos nós mesmos sem julgamentos." Com produtos 100% feitos à mão, as meninas também valorizam o trabalho único e artesanal. "Nenhuma tiara é igual a outra, valorizamos a identidade e o original", completa Angélica.

Quer virar uma sereia?


Psicóloga de formação, a dançarina Thaís Picchi é a mais nova professora de sereias de Brasília. Trabalhando como instrutora de apneia, descobriu o mundo dos seres marítimos mitológicos e resolveu investir. "Estou envolvida com a dança do ventre há 20 anos e o contato com as crianças e o envolvimento com esse mundo de fantasia me atraíram muito", explica.

Thaís e Ana Luíza: sereias do mundo real

Thaís percebeu que o fascínio pelo mundo das sereias estava aumentando com a popularização do sereísmo, movimento no qual as pessoas investem em estilos semelhantes ao das sereias, como cabelos fantasia e hábitos saudáveis. Thaís acredita também que o encantamento com esse mundo ajuda a despertar a consciência ambiental.Com a aluna, a contadora Ana Luíza Gomes, 30 anos, Thaís mostra as caudas usadas nas aulas.

Com desenvoltura, ensina técnicas de mergulho e movimentos delicados e suaves de dança embaixo d;água. Ana Luíza se empolgou pela possibilidade de se envolver em algo mágico. "É muito feminino, muito sensível. Eu me sinto como se estivesse dentro de um filme e isso ajuda a termos uma vida mais divertida, nos permitimos brincar mais, além de nos sentirmos lindas", completa.

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Entre em contato com a Thaís Picchi no Facebook (Aquamagia) ou pelo WhatsApp/celular: 98217-4391.

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