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Neurologista explica diferenças entre cérebros masculinos e femininos

De fato, existem diferenças de gênero na anatomia, função e química cerebrais

postado em 12/12/2016 16:06
Por Ricardo Teixeira*
Quando se fala em comportamento e talentos femininos, a maior parte de suas peculiaridades guarda forte relação com fatores culturais, mas uma pequena parcela tem a ver com fatores biológicos mesmo. De fato, existem diferenças de gênero na anatomia, função e química cerebrais que podem fazer diferença no entendimento da maior ou menor prevalência de alguns transtornos neuropsiquiátricos entre as mulheres. Vale lembrar que no cérebro as coisas funcionam em via dupla, já que o comportamento também tem o poder de influenciar essa herança biológica.

Ilustração de cabeça com engrenagens no lugar do cérebroO cérebro das mulheres é menor do que o dos homens, mas e daí? Isso não reflete a princípio nenhum tipo de vantagem ou desvantagem. Se quiserem provocar os homens, elas podem dizer de boca cheia que o cérebro feminino tem fluxo sanguíneo e proporção de substância cinzenta mais avantajados. Elas têm ainda uma maior densidade de neurônios nas regiões temporais associadas à linguagem. Meninos são melhores para se orientar no espaço enquanto as meninas têm uma maior pulsão social.

Meninas têm o hipocampo maior e a amígdala menor que os meninos. As duas são estruturas vizinhas, sendo o hipocampo uma das principais regiões do cérebro responsáveis pela memória e a amígdala pode ser comparada a uma válvula de regulação das emoções. Essas diferenças podem ser atribuídas às diferentes concentrações de receptores de hormônios masculinos e femininos nessas estruturas. Nosso cérebro alcança seu maior volume por volta dos 15 anos e depois disso ele vai ficando aos poucos mais murchinho. Nos homens, a redução de volume é relativamente maior nas regiões frontais e temporais, enquanto, nas mulheres, isso é mais expressivo no hipocampo e nas regiões parietais.

Os sistemas dos neurotransmissores serotonina, dopamina e GABA têm uma tendência a ser mais robustos entre as mulheres. No caso da serotonina, as mulheres têm maiores concentrações no sangue, mais receptores em algumas regiões do cérebro e, no caso de mulheres deprimidas, menor concentração de proteínas transportadoras do neurotransmissor. Essas diferenças podem contribuir para a maior prevalência de depressão e transtornos alimentares nas mulheres. Já um sistema de dopamina mais potente pode responder por uma maior vulnerabilidade ao abuso de drogas entre elas.

Muitos desses detalhes ainda não têm qualquer aplicação prática, mas deverão nortear a construção de novas estratégias terapêuticas que possivelmente serão diferentes entre os gêneros. O tratamento de uma mulher com uma determinada condição neuropsiquiátrica pode vir ser a ser diferente daquele indicado para os homens.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor de pós-graduação em divulgação científica e cultural na Unicamp.

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