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Moradores de Brasília revelam encantos da cidade que vai fazer 57 anos

Brasília está prestes a fazer mais um aniversário e nós resolvemos descobrir o que faz os brasilienses felizes

Ailim Cabral
postado em 16/04/2017 08:00 / atualizado em 19/10/2020 15:09
 
O verde, as pessoas, a Universidade de Brasília (UnB), o Parque da Cidade, o cerrado, a arquitetura, o clima, a diversidade cultural. Essas foram algumas das respostas ouvidas pela reportagem ao perguntar: "O que te faz feliz em Brasília?" Pergunta simples e coloquial. Aproveitamos para instigar a reflexão do leitor: qual seria a sua resposta?

Livres em suas escolhas, os entrevistados apontaram aspectos muito diversos. Em parte, as percepções confirmaram uma pequisa realizada pela empresa de consultoria Mercer, que apontou Brasília como uma das cidades brasileiras com melhor qualidade de vida. O levantamento analisou 450 cidades ao redor do mundo. A capital aparece na 109ª posição, à frente, por exemplo, de Rio de Janeiro (118ª), São Paulo (121ª) e Manaus (127ª).

A análise leva em consideração aspectos sócio-culturais, saúde, educação, meio ambiente, situação política, serviços públicos, moradia e recreação, entre outros. Segundo Indre Medeiros, líder de práticas de mobilidade global da Mercer no Brasil, o aspecto mais bem cotado da cidade foi a paisagem natural, considerada muito agradável.

É claro que as percepções positivas não dissipam os problemas concretos enfrentados pelos moradores, como falta de água e transporte público, longe de satisfatório. Mas são visões que inspiram e deveriam servir de bússola para o futuro que queremos.

Um observador afetuoso da Cidade Parque

 

Estudioso das formas da cidade e amante das linhas de Lucio Costa, José Carlos Coutinho, 82 anos, enxerga a natureza brasiliense, aliada ao cuidadoso trabalho arquitetônico e paisagístico, como o pilar da qualidade de vida do Plano Piloto. "O clima é muito generoso com a cidade e permitiu que essa natureza florescesse. A paisagem belíssima se deve muito ao senhor Ozanan — temos flores o ano inteiro, além dos gramados maravilhosos", comenta, olhando orgulhoso para as árvores e jardins próximos à Igrejinha da 308 Sul.
José Carlos Coutinho, 82 anos, enxerga a natureza brasiliense, aliada ao cuidadoso trabalho arquitetônico e paisagístico, como o pilar da qualidade de vida do Plano Piloto
Conhecido como professor Coutinho, o arquiteto afirma sempre escolher o local para dar entrevistas. "Para mim, é o ponto alto da paisagem urbana. É uma referência arquitetônica tão importante quanto a Praça dos Três Poderes. Aqui temos arquitetura e natureza em perfeita harmonia — é da singeleza de uma poesia."

Apesar de não confiar em estatísticas e questionar a pesquisa no que diz respeito às grandes dificuldades que cercam o Plano Piloto, o professor Coutinho garante: "O Plano é um dos melhores lugares do mundo para se viver, a nível europeu, com certeza". Sobre as ressalvas, o estudioso acredita serem importantes para que tenhamos perspectiva e incentivo para que todos possam se aproximar dessa qualidade de vida.

Para Coutinho, os prédios com apenas seis andares e o planejamento arquitetônico permitem que a natureza brilhe. O céu de Brasília, grande presente da natureza para a capital, pode ser visto de todos os lugares. "É maravilhoso e sempre consegue se superar. Já parei o carro no meio da rua só para observar as cores. Laranja, rosa, azul… Provocam uma epifania, trazem um estado de euforia", declara.

Professor emérito da UnB e cidadão honorário de Brasília, professor Coutinho veio para passar apenas seis meses na cidade — e lá se vão 49 anos. "Já vivo aqui há mais tempo do que vivi na minha cidade natal, Porto Alegre. Brasília me escolheu e eu a adotei como minha cidade, me considero brasiliense", diz convicto.

Seu primeiro endereço na capital foi na 108 Sul, primeira quadra da cidade a ser inaugurada. A unidade composta pelas quadras 107/108 e 307/308 Sul foi tombada pelo próprio Coutinho, quando ele fazia parte da diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico do Distrito Federal. O filho foi batizado escondido, pela avó, na Catedral Metropolitana de Brasília. Os acasos, segundo o próprio Coutinho, formam uma teia que o liga eternamente ao solo candango. Respondendo ao questionamento inicial da reportagem, ele olha ao redor e diz: "Tenho todos os motivos para ser feliz em Brasília. Aqui eu amei, me casei, tive filho. A cidade me ensinou o que é amor e, por isso, eu a amo".

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