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Em restaurante tradicional, pai e filha compartilham receitas e segredos

Francisco abriu as portas de seu primeiro restaurante ainda na década de 1980. Com o mesmo vigor daquele tempo, hoje comanda dois estabelecimentos na cidade. Só que agora, conta com a ajuda de uma das filhas

Sibele Negromonte
postado em 06/08/2017 08:00
O Dia dos Pais de Francisco Ansiliero será comemorado do jeito que ele mais gosta: na cozinha. Depois de encerrar os trabalhos no Dom Francisco da Asbac, seguirá para casa, onde, com a ajuda das filhas, Giuliana, Graziela e Gigliola, e da mulher, Carmélia, preparará o ;lanchinho; semanal, como a família batizou o sagrado encontro de domingo. ;As celebrações da nossa família sempre ocorrem assim, em torno da mesa;, garante o chef.

;Desde sempre, lembro dos churrascos que fazíamos todos os fins de semana, nem que fosse só para nós cinco;, recorda-se Giuliana Ansiliero, a única filha que seguiu o ofício do pai e hoje está à frente dos restaurantes da 402 Sul e do ParkShopping. Foi, inclusive, em torno de um churrasco desses que Francisco viu a oportunidade de mudar radicalmente de vida e abraçar a gastronomia como profissão.
O Chef Francisco abraçado com a filha enquanto ambos seguram um prato de de bacalhau ao forno com sauté.
Um amigo chegou para o então funcionário público e lançou o desafio: ;Você deveria deixar de cozinhar só para os amigos e abrir um restaurante;. A resposta veio de imediato: ;Não tenho dinheiro para isso;. ;De quanto você precisa?;, retrucou o amigo. ;Era um sábado e a segunda seria feriado. Ele marcou comigo às 9h, da terça-feira, para me entregar o dinheiro;, lembra o chef.

Às 9h em ponto, nem um minuto a mais nem um a menos, Francisco estava no escritório do amigo, já com o local do restaurante fechado e todo o projeto em mente. Saiu de lá com um cheque em mãos. Em 75 dias, o primeiro Dom Francisco abria as portas, na 402 Sul. O ano era 1988, e o chef aproveitava a oportunidade para atender, ainda, a um pedido das filhas: estabelecer-se definitivamente em Brasília.

Filho de pai e mãe italianos, Francisco nasceu em Santa Catarina, mas, antes de aportar em terras candangas, teve muitas moradias Brasil afora. Viveu no Paraná, em São Paulo, em Rondônia. Chegou à capital do país em 1987, mas, logo depois, recebeu um convite para trabalhar em uma universidade em Santa Catarina. Já estava de malas prontas quando ouviu a reclamação das filhas: ;Toda vez que começamos a fazer nossa turma de amigos, vocês decidem se mudar;. A oportunidade de abrir um restaurante não poderia vir em melhor hora. Decidiu ficar de vez.

Em um primeiro momento, o Dom Francisco seria uma cantina tipicamente italiana, mas um amigo, que também participava dos churrascos, desaconselhou o chef. Especialista em pesquisa de opinião, ele fez um estudo de mercado e viu que havia cantinas demais em Brasília ; a maioria, inclusive, acabou fechando as portas ; e percebeu ainda que a capital vinha sofrendo com certas orfandades.

Um restaurante de Taguatinga que servia tambaqui tinha acabado de fechar, assim como um especializado em bacalhau. ;Era também o início da moda da picanha. Tinha gente que saía de Brasília para comer carne em São Paulo.; Assim, o Dom Francisco começou os trabalhos com as três especialidades: tambaqui, bacalhau e picanha. ;E acrescentei as minhas saladas.; Claro que outros pratos, a pedido dos amigos e parentes, entraram no cardápio, mas, até hoje, esses são os carros-chefe da casa.

Logo que o restaurante abriu as portas, Francisco ficou doente. Conhecedora da teimosia do marido, Carmélia convocou as filhas mais velhas, Giuliana e Graziela, para vigiar o pai e, assim, ter a certeza de que ele tomaria os remédios. ;Como ficávamos por lá sem fazer nada, acabamos colocando a mão na massa;, conta Giuliana, na época ainda adolescente. Ela cresceu e até tentou seguir outra carreira. Formou-se em letras, mas a paixão pela gastronomia falou mais alto. Fez especializações na área e foi trabalhar, agora oficialmente, com o pai.

Graziela e Gigliola preferiram seguir outras profissões. ;Mas, lá em casa, todo mundo cozinha muito bem;, garante a irmã mais velha. E a tradição vem da infância. ;Como nunca estávamos na mesma hora em casa, à noite, o primeiro que chegava já ia colocando as panelas no fogo;, recorda-se Francisco. ;Elas sempre me pediam algo diferente e nem sempre era simples;, diverte-se.

Aos 78 anos, Francisco se mantém ativo à frente das panelas. Não para de fazer experimentos e de criar receitas. Mantém o vigor que tinha aos 11 anos, quando, por acaso, acabou temperando o frango que a família comeria no almoço. ;Desde aquele dia, fui eleito o temperador da casa.; Uma tradição entre os que vêm de Vêneto, no nordeste da Itália. Por lá, sempre um integrante da família é escolhido o temperador oficial.

Giuliana segue os passos do pai. Cuidadosa, diz que com ele aprendeu a ter respeito pelo alimento, tanto pela qualidade quanto pelas pessoas que o produzem. ;Muitas vezes, o chef faz um prato bonito, aparece como se ele fosse fruto exclusivo do seu trabalho, esquecendo-se que, para chegar a ele, houve uma cadeia produtiva por trás.;

No próximo fim de semana, Francisco celebrará o Dia dos Pais não só em família. Também oferecerá aos pais clientes um presente: no sábado e no domingo, haverá desconto de 20% nos pratos de lombo de bacalhau na brasa ; receita que, inclusive, ele e a filha compartilham com o leitor. Ótima pedida para comemorar em família.
Prato de bacalhau ao forno com sauté e brócolis.

Bacalhau na brasa com sauté e brócolis

Ingredientes:
1 posta de bacalhau (250g) dessalgado
1 batata média cozida, descascada e cortada em rodelas
4 ramos de brócolis branqueados
1 colher de sopa de manteiga
1 colher de chá salsinha picada
2 colheres de sopa de molho de alho e óleo
Sal e azeite extravirgem a gosto

Modo de fazer:
Coloque o bacalhau em uma grelha para peixe e leve à brasa até dourar. Aqueça a manteiga na frigideira, acrescente a salsinha, a batata e deixe refogar. Corrija o sal. Em outra frigideira, aqueça o molho de alho, refogue o brócolis. Sirva o bacalhau assado regado com bastante azeite e acompanhado das batatas e do brócolis

Rendimento: Serve uma pessoa

Serviço:

Dom Francisco Restaurante
Asbac ; Setor de Clubes Esportivos Sul, Trecho 2
Telefone: (61) 3226-2005
CLS 402, Bloco B, Lojas 9 a 15 ; Asa Sul
Telefones: 3224-1634/3321-0769

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