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Dança africana explora os sentimentos enquanto exercita o corpo

Inspirada na cultura africana, a kizomba é um ritmo frenético, ideal para dançar juntinho. E ainda ajuda a malhar

Amanda Ferreira - Especial para o Correio
postado em 13/08/2017 08:00
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Cadência quente, corpo colado e movimentos rápidos na dança de conexão. Na kizomba, simplicidade ganha espaço em meio a passos curtos e pequenas marcações. Quem dança o ritmo de origem africana sabe que é necessário muito mais que animação para que o balanço fique perfeito ; é preciso estar conectado com o parceiro ou parceira, mas, principalmente, sentir as batidas da música. Segundo o professor de dança Hugo Fellipe, 25 anos, também conhecido como Toru, essas são as características mais marcantes do ritmo.

A kizomba teve origem na década de 1980 e, desde então, ganha adeptos que se interessam em conhecer mais a cultura afro e se movimentar. Termo derivado do kimbundo, que significa festa, está intimamente ligada às festividades do povo africano, que misturou vários ritmos musicais, como o semba e o zouk, e passos de dança acompanhados de instrumentos de percussão para chegar ao resultado visto hoje. Mas não se engane, apesar de poder ser dançada com músicas semelhantes às do zouk, a kizomba não é nada parecida: é executada em três bases, com deslocamentos para frente e para trás, sempre a partir da saída da dama. ;Um diferencial desse ritmo é a tarraxinha, momento em que o casal se fecha, sente a dança e aproveita a melodia;, explica o professor.
O professor Toru (ao fundo) ensina os passos básicos do ritmo
Toru é professor de dança há 13 anos e dá aula de kizomba desde 2011. Ele conta que o encontro com o ritmo foi por acaso. ;Sempre dancei zouk e sentia que precisava de algo mais. Quando descobri a kizomba, vi que era isso que me faltava.; Desde então, participou de inúmeros congressos, que aperfeiçoaram sua dança e suas impressões sobre o ritmo. ;A música kizomba veio antes da dança. Kizomba eram as festas e, depois, virou o que é hoje;, explica.

Para Hugo, o especial do ritmo é estar preocupado apenas com a melodia e com o parceiro. ;É uma dança muito introspectiva, de casal, mas, ao mesmo tempo, traz muito da cultura africana, essa questão de ser família, da amizade e diversão.;

Quando não há experiência, segundo o professor, o aprendizado vem de maneira mais simples ; como não existem ;vícios; de outros ritmos, entender que a dança é feita sem os conhecidos contratempos pode ficar mais fácil. Para o cantor Marvin, 29, a intimidade com a kizomba foi instantânea. Apesar de praticar zouk, uma aula experimental no ritmo africano já conquistou de maneira especial. ;Como tenho contato com a música, acho importante também ter com a dança. São três meses de aula e muita paixão pelo ritmo;, comenta. A dança de casal espanta a timidez e solta o quadril de qualquer um. ;É preciso se permitir.;

Quem também se interessou pela kizomba a partir do contato inicial com o zouk foi Gabriela Chaves, 27. A advogada sempre foi apaixonada por dança, de todos os tipos, e, quando viu a oportunidade de conhecer algo novo, abraçou com muita expectativa. ;Não pratico tanto quanto gostaria, mas é algo que indico. As pessoas sempre têm preconceito por ser uma dança muito próxima, mas quem conhece sabe que é muito mais do que isso.; Para ela, reforçar o contato com novas culturas e ritmos diferentes, como a kizomba, é uma porta aberta para novas realidades. ;A cultura da dança africana é muito rica e, se estivermos abertos, ela pode acrescentar muito em nossas vidas;, garante.
Adepto do zouk, Marvin (à frente) fez uma aula experimental de kizomba e se identificou de cara:

Corpo trabalhado


O ritmo pode ser dançado de três maneiras: passada ; estilo clássico ;, tarraxinha e quadrinha. Existe, ainda, uma outra modalidade da kizomba, conhecida como acrobática, normalmente executada por dois homens. Independentemente do estilo do ritmo, é essencial ter bastante flexibilidade nos joelhos, uma vez que movimentos verticais são frequentemente alternados com o sobe e desce das pernas.

A relação da enfermeira e também professora de dança Daniele Viegas, 31, com a kizomba é um pouco diferente. ;Sempre falo que eu não escolhi a kizomba, e sim, que ela me escolheu. A kizomba vai além de passos, é sentimento, é alegria, é a representação da cultura africana e toda a sua história;, afirma. Ela e o parceiro, Felipe Cavalcanti, também professor de dança, encantaram-se tanto com o ritmo que se aprofundaram em estudos sobre o assunto. ;Como professora de kizomba, estudo para passar informações e técnicas apropriadas. Assim, eu me sinto prestigiando e respeitando essa cultura tão rica e especial.;

Daniele e Felipe explicam que a dança, por focar em aspectos como postura e transferência de peso, trabalha todas as áreas do corpo. ;A parte que ganha mais destaque é da cintura para baixo. Mas, para manter a postura que a dança exige, trabalhamos todo o corpo.; Para Hugo Toru, os movimentos exploram as áreas do quadril ; para a mulher ; e do tronco ; no caso do homem.

A bancária Débora Resende, 48, procurou a dança justamente com esse propósito: exercitar diversos pontos do corpo. Ela, que sempre foi apaixonada por esportes, encontrou no ritmo uma atividade diferente e animada, na qual foi possível aliar os movimentos e a socialização nos momentos de aula, que ocorrem duas vezes por semana. ;Acho importante trazermos essas danças para a gente. É uma troca muito especial de culturas.;

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