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Sabor dos restaurantes de Minas Gerais tem gosto de história

Entre o sobe e desce das ladeiras e o encanto poderoso do casario barroco de Minas Gerais, pausas para as refeições viram momentos também memoráveis

Sibele Negromonte
postado em 15/01/2018 17:05
Fachada do Tempero da Ângela, em Bichinho: horas de espera
Entre o sobe e desce das ladeiras e o encanto poderoso do casario barroco de Minas Gerais, pausas para as refeições viram momentos também memoráveis

Os últimos e os primeiros dias do ano quase sempre são marcados por mesas fartas e muita comilança. No meu caso, ainda houve um agravante: excesso de tutu, pernil, torresmo, pão de queijo e doce de leite. E ainda massas, carnes variadas, cervejas artesanais e alguns pratos surpreendentes. Afinal, a cozinha mineira vai muito além dos alimentos preparados à lenha.

Algumas cidades, sobretudo as históricas, tornaram-se verdadeiros polos gastronômicos e, entre as visitas obrigatórias, estão alguns ; muitos ; restaurantes. É o caso de Tiradentes. O charmoso município de pouco mais de 7 mil habitantes sedia um dos mais badalados festivais de gastronomia do Brasil e abriga dezenas de casas especializadas nos mais diversos tipos de cozinha. Infelizmente, conheci bem menos restaurantes do que gostaria. Mas os poucos em que degustei me deixaram ótimas impressões. Caso do Uaithai. Como o próprio nome sugere, trata-se de uma casa especializada em comida tailandesa, mas com alguns toques da culinária mineira. O ambiente em si já vale a visita. Situado em um casarão histórico, o lugar é descolado e tem uma varanda com uma vista estonteante da Serra de São José e da própria cidade. O Pad Thai e o Larb, tradicionais receitas asiáticas, são alguns dos carros-chefes da casa, que oferece ainda sopas, patos, peixes, carnes bovinas e suínas e lindos drinques. Até o menu infantil, um macarrão de pupunha com tiras de frango, estava divino.

Cerveja Ouropretana: produção local e sem deixar a dever a nenhuma marca de renome Se a ideia é, simplesmente, sentar em um ponto central da cidade, tomar um chope artesanal geladíssimo, ouvir uma boa música ao vivo e ver o mundo passar, o Barouk, localizado bem na praça central, e o Templário, a poucos passos dali, são boas pedidas. A comida não chega a ser espetacular, mas os petiscos de boteco são bem razoáveis. Uma boa pausa para descansar as pernas e depois voltar a subir e a descer as ladeiras de calçamento de pedra.

Em Tiradentes, também comi uma massa muito decente e em um lugar lindo. Situado em um sobrado com um maravilhoso jardim, o Via Destra encanta, de cara, pelo lugar e pelo atendimento acolhedor. Uma boa surpresa foi o Vovó e Cia. Entramos lá meio por acaso para fugir da chuva e acabamos comendo uma bela comida caseira, com uma farofinha de ovo e um arroz de alho divinos.

Se estamos no interior de Minas, não dá para ignorar um prato de tutu. Opções não faltam na cidade, mas, se você quiser aproveitar para fazer um passeio diferente e, de quebra, saborear uma genuína refeição mineira, uma boa opção é pegar um carro e dirigir alguns quilômetros até Bichinho, vilarejo entre Tiradentes e Prados. O lugar em si já vale o passeio. As casas de adobe ao longo das estreitas ruas de terra batida abrigam lojinhas de artesanato local. E, se você der um Google sobre o local, um dos primeiros resultados, certamente, será o Tempero da Ângela.

Fogão à lenha

Uma das deliciosas entradinhas do recém-inaugurado Tropea O restaurante, em uma antiga casa simples com uma horta nos fundos, é concorridíssimo. Para se ter uma ideia, esperamos mais de uma hora para sermos atendidos. Isso porque chegamos por lá às 15h e ainda havia 50 mesas à nossa frente. Recebemos uma senha ; que nem aquelas de banco ; e ficamos numa sala de espera, onde um painel vai anunciando o próximo felizardo a entrar. A espera em si já é uma festa, com os grupos vibrando a cada avanço de número.

A comida foi um tanto decepcionante pelo tempo de espera. Mas, de fato, é toda preparada à lenha. Em estilo self service, você entra em uma sala que é uma verdadeira fornalha, com toda aquela madeira queimando, e serve-se à vontade por R$ 28 ou R$ 32, nos fins de semana ; isso incluindo a sobremesa e o cafezinho.O pernil estava divino. Já o tutu, comi melhores. Mas vale o passeio.

Na volta, que tal um cafezinho na Casa Torta? Criada por um grupo de artistas de teatro, a fachada é realmente torta e um convite a entrar em um mundo lúdico, onde crianças e adultos se perdem nas brincadeiras. Nas mesas, jogos para se divertir com os filhos; no quintal, cama elástica, perna-de-pau, bolas de sabão e tantos atrativos da velha infância. Depois de subir uma escada que convida a brincar, dançar, abraçar, brindar e a curtir tantos outros prazeres, é possível encontrar um estúdio com fantasias que podem ser usadas pelas crianças para entrarem nesse universo único.

Ouro Preto

Bem maior, com 70 mil habitantes, Ouro Preto também oferece uma boa variedade de restaurantes de excelente qualidade. O primeiro que escolhemos, e acabamos voltando depois, foi O Passo Pizzajazz. A casa oferece vários ambientes, mas, se conseguir ficar no terraço, só a bela vista da cidade já vale a ida. O jazz tocado ao fundo deixa o lugar ainda mais agradável. As pizzas são muito saborosas, assim como o nhoque e as entradinhas.

Também fomos a outro restaurante do mesmo dono, que tinha sido inaugurado no dia anterior. O Tropea nem aparece ainda nas listas dos sites especializados em gastronomia, mas é fantástico. A começar pela decoração moderna dentro de um casarão antigo. Especializado em massas e pizzas, faz referência à cidade italiana homônima. Já o Café Geraes/Escadabaixo, um dos mais cotados nas páginas especializadas, não chegou a emocionar, mas a comida é decente e o ambiente, agradável.
Alguns dos pratos servidos no Uaithai: explosão de sabores
Uma grata surpresa em Ouro Preto, porém, foi a cerveja artesanal Ouropretana, produzida na própria cidade ; mais precisamente em Cachoeira do Campo, distrito distante 18km da sede do município. As versões ipa, larger, pilsen, pale ale, weiss e tantas outras não deixam a desejar a nenhuma marca famosa. As cervejas e os chopes podem ser encontrados em qualquer restaurante ou café da cidade ou na própria loja de fábrica, que funciona também com um pub. Uma delícia.

De uma coisa eu tenho certeza: terei que voltar em ambas as cidades para visitar os tantos outros restaurantes e repetir a dose nos que mais gostei. E, claro, desfrutar de toda hospitalidade do povo mineiro. Sempre que voltávamos às pousadas, lá estavam o café fresquinho e o pão de queijo quentinho nos esperando. Inclusive, aproveito para dividir com os leitores a receita do pão de queijo preparado por dona Rosa, da Pousada Santo Expedito, em Tiradentes, que ela fez questão de me dar diante dos meus elogios. Uma pequena mostra da generosidade mineira.

Pão de queijo da dona Rosa

Ingredientes
1kg de polvilho azedo
1 colher de sopa de sal
4 ovos inteiros
1 copo americano de leite
1 copo americano de óleo
250g de queijo muçarela
250g de queijo curado e de minas
3 batatas inglesas
1 colher de orégano

Modo de fazer
Em uma bacia, misture bem, com as mãos, o polvilho, o sal, os ovos, o leite e o óleo.
Cozinhe as batatas, amasse bem e acrescente à mistura.
Por fim, ponha os queijos ralados.
Depois de bem misturados, acrescente o orégano, faça os bolinhos e leve ao forno preaquecido por cerca de 15 minutos.


Massa servida no Via Destra, em Tiradentes


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