Sibele Negromonte
postado em 18/02/2018 07:00
Desde criança, comer bem estava entre as prioridades de Flávia Góis. Nas férias em família, um dos programas favoritos era conhecer novos sabores em restaurantes e visitar as feiras e os supermercados locais. De paladar exigente, não gostava muito da comida servida em casa. Logo, não havia outra opção a não ser preparar as próprias refeições. E, assim, ela começou a cozinhar aos 12 anos.
Na hora de escolher a profissão que seguiria, porém, a gastronomia não pareceu uma opção real, já que não havia cursos especializados em
Brasília. Ela seguiu, então, o caminho tradicional: formou-se em direito, mas não chegou a exercer o ofício. Em 2000, casada, seguiu para Los Angeles, onde viveria por oito anos.
Em terras norte-americanas, Flávia acabou trabalhando em um restaurante especializado em comida brasileira. Sua função era na área administrativa da casa, mas a sergipana não saía da cozinha, lugar onde se sentia mais à vontade. Decidiu fazer vários cursos pontuais na área de gastronomia. ;À medida que ia aprendendo novas técnicas, ia dando palpites na cozinha do restaurante, claro;, recorda-se. ;E seguia também cozinhando para os amigos.;
Em 2008, Flávia se separou e voltou para o Brasil. Resolveu, então, aproveitar os conhecimentos adquiridos durante a temporada nos Estados Unidos e começou a cozinhar sob encomenda. Mas quis o destino que a sua vida desse uma nova guinada. E, dois anos depois, Flávia, agora casada com um diplomata, seguiu para Helsinque, acompanhando o marido em seu novo posto.
Na Finlândia, Flávia teve contato com uma nova cultura gastronômica, que mudaria para sempre a sua relação com os alimentos. ;O país tem pouco mais de 5 milhões de habitantes e, na década de 1950, toda a população passou por um programa de reeducação alimentar. E conseguiu reduzir drasticamente o número de mortes por problemas cardíacos;, explica. ;Os finlandeses praticavam o slow food antes mesmo de isso virar moda. Eles, por exemplo, param tudo para almoçar e, quando você chega a um restaurante, sempre há uma garrafa de água à mesa. Não tem essa de engolir um sanduíche.;
Por conta da barreira da língua, Flávia não chegou a fazer curso de gastronomia por lá, mas aprendeu muito com os hábitos locais. ;Eles valorizam os alimentos da estação. Há a temporada de frutas silvestres, de cogumelos... E olha que a Finlândia tem as quatro estações bem definidas e um inverno bastante rigoroso.; Além disso, Flávia recebeu, informalmente, o convite do embaixador brasileiro de ajudar a organizar os jantares e almoços oficiais. ;O cozinheiro tinha tirado um ano sabático e eu meio que assumi essa função.;
Quando voltou a Brasília, em 2014, Flávia logo tratou de se matricular na faculdade de gastronomia. Estava decidida a abraçar a profissão de vez. E, durante o curso, começou a pesquisar sobre alergias e intolerâncias alimentares, sua nova paixão. ;Coincidentemente, uma amiga me procurou pedindo ajuda para montar um cardápio para o filho pequeno, que tinha sido diagnosticado com alergia alimentar.; Estava aberto um filão a que a agora chef de cozinha passaria a se dedicar.
Pacto de silêncio
Hoje, Flávia é personal chef. Claro que ela cozinha de tudo, mas a sua especialidade é preparar refeições que podem ser consumidas por todos, inclusive os alérgicos e intolerantes. ;Gastronomia é uma alquimia de sabores. E podemos adequar o tempero à necessidade dos outros.;
A prova disso é que, quando é contratada para preparar um jantar ou um almoço na casa de alguém alérgico ou intolerante, ela costuma, além de combinar o cardápio com os anfitriões, fazer um ;pacto de silêncio; para que os convidados não saibam que estão comendo uma refeição completamente sem glúten e sem lactose.
;Ao final, depois de servirmos aperitivo, entrada, prato principal e sobremesa, o dono da casa me chama e informa a todos como o alimento foi preparado. Todos costumam ficar muito surpresos, pois nem desconfiavam. E o sabor continua lá;, garante. Nesse caso, ela cozinha com os utensílios da casa para evitar contaminação cruzada. ;Mas, se preferirem que eu leve o meu material, eu tenho um jogo de panelas e até uma dólmã específicos para cozinhar para os alérgicos.;
Flávia também oferece um outro serviço: ela vai à casa dos alérgicos e/ou intolerantes preparar um cardápio específico e treinar as pessoas
que cozinham no dia a dia. ;Faço assessoria para uma família em que há três pessoas com alergias diferentes. Uma vez, ajudei a preparar um evento para 53 pessoas com 23 alergias distintas. Foi um desafio, mas é possível;, garante.
E, para ela, comer bem, e comida de verdade, deveria ser um hábito adotado por todos, independentemente de alergias ou intolerâncias. ;Não existe essa desculpa de que a pessoa não tem tempo para cozinhar. É claro que consumir um produto industrializado é muito tentador, pois já está lá pronto. Mas basta você separar três a quatro horas do fim de semana e preparar o cardápio da semana inteira. O Brasil é um país riquíssimo em sabores. Precisamos ; e devemos ; explorá-los.; Fica a dica!
Bacalhau à lagareiro com tomates em rama e purê de mandioquinha (Sem glúten, sem lactose)
Ingredientes
- 4 lombos de bacalhau (cerca de 1kg)
- 4 cebolas grandes
- 2 a 3 ramas de tomates
- 100ml de azeite de oliva
- 3 dentes de alho cortados em lâminas
- 1 colher de chá de salsa picada
- 10 azeitonas verdes fatiadas
- 6 folhas de louro fresco
- 500g de mandioquinha
- Pimenta-do-reino a gosto
- Grãos de pimenta Jamaica a gosto
- Páprica doce a gosto
- Sal a gosto
Modo de preparar
- Coloque o bacalhau de molho por 40 horas, no mínimo, trocando a água várias vezes. Cozinhe em uma panela com água e retire as espinhas e peles.
- Corte a cebola em meias-luas, frite com uma parte do azeite até murchar e reserve.
- Frite o alho laminado em uma parte do azeite até dourar e reserve.
- Em um refratário faça uma cama com as cebolas, coloque os lombos do bacalhau por cima, formando minipostas, adicione a pimenta-do-reino, a páprica, a pimenta Jamaica, o alho frito, as azeitonas, as folhas de louro, os tomates, a salsa picadinha e o restante do azeite.
- Leve o refratário ao forno preaquecido a 200;C, por cerca de 15 a 20 minutos.
- Enquanto o bacalhau está no forno, descasque a mandioquinha e corte em rodelas pequenas. Cozinhe em uma panela com água e sal até ficarem bem moles, escorra a água. Amasse a mandioquinha com um garfo até formar um purê, acrescente 2 colheres de sopa de azeite e misture bem até obter uma mistura homogênea.
- Na hora de montar o prato, coloque uma porção do purê de mandioquinha, o bacalhau por cima, com a mistura de cebola, azeitonas, alho e tomates. Finalize com um fio de azeite extravirgem.
- Rendimento: 8 porções
Serviço
Flávia Góis, personal chef
Telefone: (61) 99677-8189
E-mail: flaviagoisgastronomia@gmail.com