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Dinheiro pode trazer felicidade, mas só até certo ponto

*Ricardo Teixeira
postado em 20/02/2018 14:21
Na década de 1960, um estudo, realizado em diferentes países capitalistas e socialistas, perguntou o que as pessoas ainda precisavam na vida para serem realmente felizes. As respostas foram surpreendentemente parecidas, independentemente das diferenças culturais e econômicas entre os países analisados. A resposta mais comum foi a de melhoria do padrão de vida material, seguido por uma vida familiar feliz e em terceiro lugar o estado de saúde pessoal e dos familiares.
Será que as pessoas serão mais felizes se subirem um degrau na sua capacidade de consumo? Ganhadores da loteria voltam ao mesmo estado de felicidade que tinham antes do prêmio após um ano. Dinheiro e felicidade andam juntos até certo ponto, fenômeno conhecido como paradoxo de Easterlin, economista americano que estudou essa questão em inúmeros países. Depois de garantidas as necessidades mais importantes, mais dinheiro no bolso não atrai mais felicidade. Este mês, uma pesquisa publicada na revista Nature Human Behaviour confirmou o paradoxo de Easterlein com uma população bastante generosa com dados do Instituto Gallup envolvendo 1,7 milhões de indivíduos em 164 países diferentes.
Os pesquisadores encontraram um teto de renda anual de 60 a 75 mil dólares para o bem-estar emocional, definido como sentimentos positivos no dia a dia. Valores maiores não incrementavam esses sentimentos. Demonstraram também um teto de 90 mil dólares anuais para a experiência de autoavaliação do curso de vida. O mais curioso é que havia uma menor satisfação com a vida quando esse teto era ultrapassado. Nessa situação, as pessoas podem entrar numa roda-viva de consumismo e cair na armadilha de ficar de olho na grama verdinha do vizinho.
Estudos têm apontado que os mais afortunados podem ficar menos sensíveis aos pequenos prazeres, às coisas mais prosaicas. O simples fato de se deparar com a imagem de um bolo de notas de dinheiro é capaz de reduzir o tempo que uma pessoa aprecia um pedaço de chocolate na boca antes de engolir. Nesse caso, as pessoas ainda relatam menos prazer com o chocolate do que aqueles que visualizam imagens neutras.

Gastar direito pode ajudar

Tem uma propaganda de automóvel que diz assim: ;Quem fala que dinheiro não traz felicidade ainda não aprendeu a gastá-lo direito;. Já é bem reconhecido que gastar o dinheiro com EXPERIÊNCIAS é melhor do que com coisas. Experiências que reforcem as relações de amizade, que promovam o crescimento pessoal, que contribuam para a comunidade onde se vive, pequenos prazerem como uma massagem, flores para a pessoa querida, tudo isso pode dar mais barato do que uma nova mega-TV ou um turbo-super-carro.

Uma pesquisa muito interessante, publicada no prestigiado periódico PNAS , mostra que as pessoas que gastam dinheiro para ter mais tempo (e.g., serviços de casa) são mais felizes do que aquelas que gastam mais com coisas. O impressionante é que metade dos milionários estudados gasta tempo com atividades que não apreciam e que poderiam ser feitas por outros, desde que paguem por isso. Outro achado importante dessa pesquisa foi que o estado de bem-estar e felicidade esteve associado com essa opção de ;comprar seu próprio tempo; em todo o espectro socioeconômico estudado, mesmo entre os que tinham as contas mais apertadas.

Ah! Vale sempre lembrar que felicidade pode trazer dinheiro. Pessoas mais felizes têm mais chance de ter sucesso profissional e financeiro.
* Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília.

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