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Professor deve ser carreira de Estado, indica estudo do Banco Mundial

Estudo do Banco Mundial mostra que formação deficiente dos profissionais de ensino é o principal fator que restringe a qualidade da educação

postado em 17/12/2017 16:06
A escola precisa fazer a leitura correta do tempo. A instituição ainda vive no século 19; os professores, no século 20; os alunos, no século 21
É unanimidade entre os especialistas em educação a necessidade de se traçar uma nova rota para o atual sistema educacional, que está ultrapassado, não somente em função das novas tecnologias, mas, principalmente, da metodologia de base. ;A escola precisa fazer a leitura correta do tempo. A instituição ainda vive no século 19; os professores, no século 20; os alunos, no século 21;, afirma a especialista no tema e editora de Opinião do Correio, Dad Squarisi.

Fato é que a situação da educação brasileira atual exige mudanças em vários aspectos. Por isso, ela considera fundamental ter um olhar com foco em três pontos elementares: no aluno, no professor e na própria escola como espaço do conhecimento e acolhida.

[SAIBAMAIS]A especialista sugere que cada estudante seja acompanhado de perto pela escola e pelo professor para que não se perca no caminho. ;O que o aluno mais quer é aprender. Se isso não acontecer, ele desanima;, reconhece. Outra questão preocupante é a formação dos professores, que, segundo Dad, devem ter carreira de estado. De acordo com a especialista, um estudo do Banco Mundial conclui que ;a baixa qualidade dos professores é o principal fator que restringe a qualidade da educação;.

Na opinião dela, só por meio de uma escola acolhedora e de qualidade, ;jovens não vão abandonar as salas de aula e vão deixar de engrossar as estatísticas da população carcerária. Ocuparão lugar de destaque na vida em vez de celas desumanas e sem saída;.

Dad acredita que é possível melhorar o ensino público sem fazer mágicas. ;Com muito trabalho, determinação e vontade política;, destaca. Por isso, ela recomenda que experiências que dão certo devem ser replicadas. ;Temos bons exemplos que se constituem em ilhas de excelência, mas precisamos transformar o Brasil em um continente de excelência;.

Mal na foto

sistema educacional brasileiro precisa de um norte. A especialista demonstra em números que precisamos superar os obstáculos. ;Na última Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), 55% dos estudantes foram reprovados em leitura e matemática;, coloca. Vale dizer que esse instrumento do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) avalia os níveis de alfabetização e letramento em língua portuguesa, a alfabetização em matemática e as condições de oferta do ciclo de alfabetização da rede pública.

A especialista comenta, ainda, que, na rede mundial de avaliação de desempenho escolar, conhecida como Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, ficamos em 59; lugar em leitura; 63;, em ciências; e 66;, em matemática. ;Quando o assunto é evasão, 16% dos alunos não completam o ensino médio e 52%, o ensino fundamental;, lamenta. Outro dado alarmante é que 1,7 milhão de jovens, entre 15 e 17 anos, estão fora da escola. Quanto àqueles que conseguem chegar ao ensino superior, somente 17% dos jovens, entre 25 e 34 anos, se formam.

Na opinião de Dad Squarisi, ;o Brasil universalizou o acesso à escola, mas não ao conhecimento. Os alunos vão à aula, mas não aprendem;, completa. Segundo a especialista, ;os alunos do fundamental e médio recebem educação de má qualidade em matérias fundamentais, e ainda possuem baixo aproveitamento escolar na universidade;. Uma das causas, segundo ela, é o desprestígio na profissão. ;É uma profissão que exige um plano de carreira sedutor, que atraia os cérebros que hoje fogem para outras carreiras ou se refugiam no serviço público.;

Estudo do Banco Mundial mostra que formação deficiente dos profissionais de ensino é o principal fator que restringe a qualidade da educação

Alfabetização na hora certa

As três esferas de governo já perceberam que a alfabetização deve ocorrer na idade certa. ;Não é possível pensar em elevar a aprendizagem sem garantir a alfabetização aos 7 anos. A boa educação infantil é fundamental, especialmente quando consideramos a desigualdade de oportunidades que as crianças têm na vida em família;, considera a consultora em políticas sociais, com 15 anos de experiência, Fabiana de Felício.

Na opinião dela, a escola deve suprir, à medida do possível, as carências das famílias de baixa renda, promovendo ;contato precoce com a boa comunicação oral, suporte de adultos com boa formação, acesso a livros e materiais pedagógicos estimulantes;, defende. Fabiana afirma que a alfabetização já vem sendo apresentada aos gestores públicos como uma prioridade na educação. ;Isso é constatado pelo destaque do tema nas metas do Todos pela Educação, no Plano Nacional de Educação vigente, na implementação da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) e no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC).

O que não parece claro, tampouco simples, segundo a consultora, é como atingir essa meta. ;Mas, municípios bem-sucedidos nesse desafio investiram em universalizar a pré-escola, garantir a frequência das crianças na escola, aperfeiçoar continuamente seus professores e avaliar constantemente o desempenho geral e individual das crianças, além de darem suporte individualizado no caso de detectarem dificuldades específicas;, afirma.

Fabiana toca também num ponto nevrálgico. ;A baixa qualidade média das aulas implica em diversas consequências, como: baixa aprendizagem, desestímulo para a frequência, evasão escolar, mas também é afetada por diversas ações, como gestão escolar, formação de professores, plano de carreira, avaliação de aprendizagem;.

A especialista concorda que não é uma questão trivial de resolver, mas aponta que ;alguns municípios já demonstram que é possível;. Fabiana é uma das idealizadoras do Índice de Oportunidades da Educação Brasileira (Ioeb) ; plataforma que permite comparar índices e fazer rankings da educação de todo o Brasil. ;É possível evoluir muito nas oportunidades educacionais sem milagres, ou seja, sem grande investimento adicional e sem depender de pessoas únicas e extraordinárias;.

A consultora assegura que o nível da educação básica no país está melhorando graças aos avanços obtidos em mais da metade dos municípios brasileiros. ;A média passou de 4,5 para 4,7. Pouco mais da metade (54%) dos municípios são responsáveis por essa evolução. 38% dos municípios tiveram piora, ainda que pequena, nas oportunidades educacionais, de acordo com o índice.;

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